As evidências são claras: o está a aumentar. Uma sugestão comum para evitar o burnout é fazer pausas regulares do trabalho. Mas como é que devem realmente ser essas pausas se aquilo que queremos é maximizar o rejuvenescimento e proteger o bem-estar? Pode até ser surpreendente, mas um relaxamento e descanso passivo, não é tão eficaz na recuperação das tarefas diárias, como é o facto de fazer pausas para atingir os seus objetivos de relaxamento, não os objetivos profissionais. Por exemplo, passar tempo com os amigos e com a família, dedicar-se aos seus passatempos, ou até mesmo organizar os seus armários. Seja quais forem os seus objetivos pessoais, o mais importante é que defina um plano para essa pausa. A isto chamamos recuperação proactiva, e descobrimos que isso faz com que as pessoas se sintam mais felizes do que nas formas mais passivas de recuperação.
Em dezembro de 2020, um de nós questionou cerca de 537 funcionários públicos e fez uma questão muito simples: Tem algum objetivo para as próximas férias de inverno? Com as opções de resposta, sim ou não. Também lhes pedimos para dizer o quão felizes estavam, que é comumente utilizado para medir o bem-estar subjetivo.
Descobrimos, então, que os funcionários que definem objetivos para as suas férias, mostram ser cerca de 8% mais felizes do que aqueles que não definem. As diferenças nos níveis de felicidade surgiam, independentemente, do sexo, idade, emprego, rendimento, estado civil, frequência com que trabalham a partir de casa ou número de dependentes.
De seguida, quisemos perceber se a recuperação proactiva se correlaciona com o número de dias que as pessoas tiram para férias e as atividades que antecipam realizar durante as férias. Em média, as pessoas que tinham planos para as férias tiravam mais 1.2 dias de férias do que aqueles que não tinham planos. Esta informação é importante, uma vez que cerca de 768 milhões de dias de férias são canceladas anualmente, o que significa, aproximadamente, 62,2 milhões de perdas em prejuízos.
Os funcionários que tinham bem definidas as férias, destinavam menos 24% do seu tempo em atividades de lazer mais passivas, como por exemplo, ver televisão, fazer sestas, ou não fazer nada. Para além disso, passavam mais 28% do seu tempo em família ou com amigos. Estas diferenças na forma como planeamos o tempo de lazer é significativo para o nosso bem-estar: percebemos que passar mais tempo com aqueles de quem gostamos está associado a mais felicidade. Estes dados, estão em consonância com as descobertas sobre o bem-estar e sobre os benefícios das interações sociais.
Uma recuperação mais proactiva também pode ser benéfica para a organização. De facto, percebemos que os funcionários que definem objetivos para as férias seguintes, mostram 5% mais satisfação com o seu trabalho, do que aqueles que não planeiam as férias.
Observamos resultados muito semelhantes numa amostra diferente, de cerca de 184 trabalhadores, a quem questionamos, em 2019, e que indicaram ter acesso a férias pagas. Aqueles que referiram planear as férias eram 12% mais felizes do que aqueles que não tinham planeado. Uma recuperação proactiva também está relacionada com o facto de se realizar atividades mais sociais e menos atividades de descanso. Tal como visto anteriormente, o tempo passado em atividades de âmbito mais social trazia mais benefícios ao nível da felicidade.
O benefício de uma recuperação proactiva não se restringe apenas às férias. Num questionário diferente, perguntamos a 243 trabalhadores se normalmente planeavam os fins-de-semana. Mais uma vez, pudemos observar que as pessoas que estabelecem objetivos para o fim de semana, são cerca de 13% mais felizes do que aqueles que não o fazem. Tal como nas férias, as pessoas que definem o que fazer durante o fim de semana, também, são mais capazes de enveredar por atividades sociais e passar menos tempo a descansar ou a não fazer nada. E passar o fim-de-semana em atividades sociais, pode levar a mais felicidade.
Claro que, estabelecer metas não se deve limitar aos fins-de-semana e férias, mas sim ao dia-a-dia. Definir como passar o serão, também pode ser benéfico. Numa outra amostra, de cerca de 242 trabalhadores, descobrimos que aqueles que definem objetivos para os seus serões também socializam mais e eram cerca de 10% mais felizes do que aqueles que não programavam nada.
Um aviso: Ao definir objetivos para as férias ou tempo de lazer, não devemos encarar isto como uma obrigação. Devemos ser flexíveis. De acordo com uma pesquisa de Gabriela Tonietto e Selin Malko, definir tudo ao milímetro nos momentos de lazer, pode minar o divertimento e as experiências, pois estes momentos começam a parecer-se com os momentos de trabalho. Estes investigadores descobriram que as pessoas que marcavam as suas atividades de lazer, informalmente, conseguiam divertir-se mais. De acordo com a nossa pesquisa, suspeitamos que a razão pela qual as pessoas definem os momentos de lazer é para que os cumpram e não porque os encaram como algo de obrigatório.
Com os desafios impostos pela pandemia e as consequências económicas não previstas, muitos funcionários perguntam-se se devem fazer planos para as férias. Os voos podem ser cancelados, podem ficar doentes, ou podem simplesmente sentirem-se muito cansados para fazer seja o que for. Embora, possa ser contraintuitivo, o nosso trabalho de investigação sugere que definir metas pode-nos, de facto, ajudar a retirar mais partido do nosso tempo livre.
Texto adaptado do artigo da autoria de Laura M. Giurge e Vanessa Bohns, da edição da revista da HBR da edição de dezembro de 2021, disponível em https://bit.ly/3fB5oqF.