Os benefícios de levar a sua identidade para o trabalho

O senso comum diz que para vencer no mundodo trabalho temos de nos adequar à cultura do local de trabalho e jogar deacordo com as regras. A estratégia com mais sucesso, segundo a teoria, é minimizaras suas diferenças, uma abordagem que muitas minorias, entre as quais asmulheres e outras raças, tiveram de adotar.

Quando analisamos de que forma é que profissionaisde cor conseguiram obter sucesso em áreas que eles estavam mal representados,esperamos que nos digam que utilizaram, em parte, esta estratégia para seguirem frente. Mas não é isso que ouvimos nas nossas entrevistas com ásio-americanose jornalistas afroamericanos. Tal como demos a conhecer, recentemente, na OrganizationScience, muitos destes jornalistas,todos profissionais, disseram-nos que para acrescentar valor às suasorganizações e avançar nas suas carreiras, optaram por não se misturar, mas simdestacar-se, iluminando as suas diferenças e mobilizando a sua identidade.

Como é que pode tirar partido das suasdiferenças no trabalho, principalmente se fizer parte de uma minoria cultural?Aqui seguem quatro caminhos. (Uma advertência: há riscos em todas asestratégias adiante exploradas).

Dê uma perspetiva única. Como membro de um grupo minoritário, provavelmente tem pontos de vista,perceções, que lhe podem permitir diferenciar o seu trabalho. A um jornalistaAfroamericano que entrevistamos, por exemplo, foi-lhe pedido para escrever umartigo sobre habitação pública dos Afroamericanos. Ele reparou que os artigosexistentes sobre este tópico focavam os estereótipos superficialmente, taiscomo “a mãe com o filho ao colo e um cigarro na boca.” Mas como era uma pessoaque estava muito habituado aos estereótipos, acreditava que existiam históriasmais interessantes para dar a conhecer. Uma investigação mais profunda, levou-oa escrever um texto bem estruturado acerca da habitação pública. Talvez porreconhecer a força do texto e do trabalho e a forma como o texto iria chegaraos leitores, o editor aceitou publicar o texto e este artigo acabou porbeneficiar a sua carreira e o jornal para quem trabalhava.

A nossa lente de visão como elementos deuma minoria, podem oferecer-nos uma melhor compreensão daquilo que os elementosdo nosso grupo precisam e gostam, e de que forma é que os produtos jáexistentes não vão de encontro às suas necessidades. Os nossos exemplospreferidos, não são os dos jornalistas com quem falamos sobre acontecimentosempresariais. A empresária Bethenny Frankel, por exemplo, sabia que como elamuitas mulheres gostam de bebidas alcoólicas, porém não gostam das caloriasdestas bebidas. Tendo percebido a oportunidade por detrás disto, Frankeldesenvolveu uma margarita pré feita com cerca de 100 calorias e conseguiu que aSkinnygirl Cocktails a vendesse (uma empresa que ela conseguiu vender, anosmais tarde, por $100 milhões). Este é o poder do conhecimento de umaidentidade.

A designer Christina Mallon, desenha roupaspara pessoas com incapacidades e trabalha para a Open Style Lab, uma empresasem fins lucrativos que ela própria cofundou. A empresa trabalha essencialmentecom pessoas com incapacidades, que representa 15% da população mundial, e queno dia-a-dia têm muitas dificuldades em ter o que precisam. Este mercado devestuário adaptado foi descrito como uma oportunidade um milhão de dólares e umnovo limite da moda. Tanto a Frankel como a Mallon mobilizaram as suasidentidades para criar perceções que beneficiam as suas carreiras e as suasempresas.

Fornecer controlo de qualidade. Também pode querer partilhar as suas visõespara ajudar a formar uma publicidade, produtos e comunicações mais sensíveis.Por vezes, há necessidade de fornecer mensagens mais insensíveis. Muitos dosjornalistas que entrevistamos, descreveram situações em que eles tiveram de dara conhecer, aos seus colegas, visões mais fortes das suas histórias. Umajornalista ásio-americana, que era a única jornalista ásio-americana na suaequipa, contou-nos que os seus colegas lhe pediram, muitas vezes, para ler osseus artigos sobre ásio-americanos, para terem a certeza de que não estavam areproduzir algum tipo de pensamento pré concebido que fosse ofensivo. Embora,ninguém gostasse de fazer este trabalho, ela tornou-se a pessoa certa a quempedir opinião sobre estes assuntos, e todos beneficiaram com a sua colaboração.Muitas empresas que enfrentaram recentemente injúrias, por terem produzidoprodutos e campanhas publicitárias insensíveis às questões culturais dasminorias, empresas como a Dolce & Gabbana e H&M, poderiam ter usadosábios conselhos.

Ultrapasse as diferenças. Os clientes e os colegas podem estar curiosos com determinados aspetos dasua minoria identitária, e podem até colocar questões para melhor o conhecer eperceber. Estas questões podem até ser baseadas em estereótipos criados sobre oseu grupo, mas se as questões forem feitas de forma respeitosa, pense emresponder de forma a ultrapassar as diferenças e criar um sentimento deligação. Foi isto que a jornalista índio-americano nos disse, é isto que elafaz quando as pessoas dizem que adoram comida Indiana, uma situação que lheacontece com frequência. Muitas pessoas nesta situação, ficam ofendidas eacabam por terminar a conversa, mas tal como se compreende, a abordagem destajornalista, é a de se envolver na conversa com o único interesse de criar umarelação mais forte. O jornalista ásio-americano, que frequentemente ouve comentáriosacerca da sua raiz cultural e étnica, não se coíbe em dizer que a sua famíliatem raízes muito profundas nas Caraíbas. Quando as conversas levam a umaaprendizagem genuína e maior proximidade, podem ajudar a criar colaboraçõesfuturas.

Estabeleça relações de empatia. Quando conotado com semelhança, partilha deexperiências ou confiança, a sua identidade minoritária pode permitir a suarelação com outras minorias. Embora uma identidade comum não signifiqueempatia. Falamos com uma jornalista que nos contou como é que ela criou empatiacom um sujeito de uma história altamente sensível, nestas questões de graus deidentidade. Como afro-americana, mulher e mãe e crente. Esta empatiapermitiu-lhe criar uma poderosa confiança na mulher que tinha perdido um filhodevido a um ato criminoso. Cada uma destas quatro abordagens para mobilizar asua identidade minoritária, devem ser usadas com precaução, na medida em quepodem causar riscos. Vamos então perceber o que são e como geri-las.

Compartimentar. Mobilizar a sua identidade pode serbenéfico de muitas formas, mas também pode resultar no nosso própriocompartimento – ficar fechado em trabalhos e projetos que estão identificadosapenas com o nosso grupo, embora os nossos interesses e capacidades sejambastante mais abrangentes. Num artigo bastante interessante publicado na HBR em1996 David A. e Robin J. Ely mostraram que o risco de compartimentalizaçãoocorria com mais frequência em empresas ou organizações que ofereciam um baixoestatuto a projetos de minorias. Algumas minorias tentam reduzir o risco deestar compartimentados ao fazer tudo o que podem para assegurar que o seutrabalho inclua sempre projetos relacionados com o seu grupo minoritário.

Resistência. Muitas vezes os seus superiores ou colegas podem não gostar muito dassuas ideias uma vez que são pontos de vista da sua identidade minoritária,principalmente quando essas ideias ameaçam as ideias deles e o seu estatuto.Nestas situações, muitos jornalistas tentaram comunicar as suas ideias, diretae desapaixonadamente, explicando os seus pontos de vista de forma cuidada elógica, para evitar qualquer tentativa de ameaça. Muitos profissionaispertencentes a minorias trabalharam arduamente para desenvolver relaçõespositivas com colegas de mente mais aberta, que sabem ouvir e oferecem o seuapoio sempre que necessário.

Supergeneralizar. As suas experiências relacionadas com a identidade podem dar pontos devista interessantes, mas nem sempre se aplicam a toda a gente. Ao partilhar osseus pontos de vista, lembre os outros que há diversidade dentro do seu grupo,e diga que as eliminatórias evitam os erros, alterando as generalizações sobreos seus elementos.

Exaustão. Se constantemente mobiliza a sua identidade e lida com os riscos que issocria, isto pode estar a ser negativo. Por isso seja cuidadoso com tudo isto ecanalize a sua energia da melhor forma. Por exemplo, seja seletivo nasfronteiras que estabelece, as estratégias que alguns jornalistas nos nossosestudos utilizaram tiveram bons resultados, ao investir mais energia emestabelecer os diferentes limites com os colegas versus estranhos, que muitoprovavelmente não voltariam a ver. Muitos jornalistas também mobilizaram esta estratégia quando sentiam queao fazê-lo estavam a ser autênticos para com os seus interesses e capacidades.Ser autêntico pode significar uma paragem no seu bem-estar.

A mobilização da identidade não acontece simplesmente. Você escolhe quandoe onde acontece essa mobilização no trabalho, o que significa, que se é umelemento de uma minoria cultural, isso pode ter um impacto significativo na suaorganização e trazer benefícios e diversidade ao seu local de trabalho. Tem,mais impacto aqui do que pensam, e as melhores organizações vão recompensá-lopor isso.

Um último aspeto a ter em mente: mobilizara sua identidade minoritária pode desencadear a sua energia criativa. Um dosjornalistas que entrevistamos descreveu esta prática como se fosse jazz, namedida em que isso lhe permite ter visões mais criativas e encontrar novasformas de escrever as suas histórias. Não que ela faça apenas histórias sobreraças. Mas ao olhar para a sua experiência racial à medida que fazia a suareportagem, tinham sempre a oportunidade de acrescentar dimensões às suashistórias, o que as tornava melhores para os leitores, pois explorava o que asdiferentes minorias estavam a fazer face à etnia maioritária, em domínios comoo investimento, e assim servia os interesses do seu jornal. Por essa altura,ela disse-nos que “o local de trabalho, adora-nos.”

Nós gostamos da analogia do jazz quequisemos fazer isso também. No seu melhor, a mobilização da identidade pode seruma combinação. É fantástico se conseguir fazer solos que mostram um som único,mas ainda melhor conseguir ter a sensibilidade e apoio de uma grande banda.Osjornalistas minoritários do nosso estudo, que alcançaram o sucesso, eramaqueles que tinham o apoio dos seus colegas e chefias, ao mostrar respeito ecompreensão, ao dar-lhes espaço para partilhar as suas ideias. É aqui que osgrandes avanços e momentos mágicos acontecem. Por isso, o nosso conselho paracolaboradores e empresas é: deixe a música tocar.

Texto adaptado do artigo da autoria de Sandra E. Cha e LauraMorgan Roberts, publicado no dia 19 setembro de 2019 disponível em: https://hbr.org/2019/09/the-benefits-of-bringing-your-whole-identity-to-work

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