Samar Minallah Khan é uma antropóloga e cineasta feminista de origem paquistanesa. Quando descobriu que os líderes tribais locais negociavam crianças como compensação pelos seus crimes, ficou furiosa.
Os líderes, responsáveis por resolver as disputas nas suas aldeias, atuavam como juízes. Uma prática de longa data era resolver crimes graves ‘compensando’ a família prejudicada castigando a filha da família que cometeu o crime. O culpado, pai ou tio, era então considerado ‘livre’ e a aldeia era informada que a questão estava ‘resolvida’. Samar achava essa tradição, chamada swara, horrível – mudava para sempre a vida de uma jovem, sem culpa nenhuma. Mas a sua raiva não fazia com que conseguisse mudar a situação.
Então, tentou outra coisa. Primeiro, ouviu mais do que aquilo que falou. Ouviu os líderes religiosos (homens) que explicaram o uso da ‘swara’ e os seus benefícios, e perguntou como é que essa tradição teria sido interpretada pelo profeta Maomé. Ouviu os pais e tios que permitiam que os seus crimes fossem resolvidos dessa forma. E, ouvindo, Samar aprendeu a ultrapassar o abismo, aparentemente intransponível.
Samar presumiu, primeiro, que os pais, a quem os crimes eram perdoados, ficavam felizes ao deixar que as suas filhas sofressem pelas suas infrações mas, quando os escutou, percebeu que não estavam. Eles queriam outra solução. Ouviu os estudiosos locais, que colocavam um grande valor na tradição. Ouviu, dos estudiosos das leis muçulmanas religiosas, que a swara era uma forma de ‘responsabilidade vicária’, e que não é permitida no Islão. E, finalmente, ouviu que, em épocas anteriores, as disputas eram também resolvidas com o envio de uma menina para a família de um inimigo, mas que não ficava permanentemente lá; em vez disso, ela recebia castigos e depois era mandada de volta para a casa dos pais. Tudo isto foi gravado.
Samar convocou as comunidades locais para assistir a esses vídeos e debater sobre a tradição e as suas implicações. Um por um, os líderes tribais locais mudaram o que consideravam ser a verdadeira justiça. Decidiram que a swara poderia ser substituída por uma compensação monetária. Samar criou a mudança, não mostrando a sua ideia, mas criando um caminho para que todos chegassem juntos a uma nova ideia.
O que Samar fez foi pedir às pessoas que partilhassem a sua perspetiva, sem tentar convencê-las. Parece o guião de um filme, não aplicável a líderes empresariais. Mas talvez devesse ser.
Um líder pediu a 30 dos seus melhores e mais brilhantes colaboradores para se reunirem para que ele pudesse ouvir as suas opiniões sobre uma lacuna que existia no marketing. Mas o próprio design da reunião revelava que ele iria ouvir muito pouco: a agenda continha três horas de apresentações e cerca de 15 minutos de debate.
Ele não queria realmente ouvir as pessoas, queria convencê-las da sua perspetiva para que o apoiassem.
Mesmo que essa abordagem não funcione muito bem, é comum em qualquer cenário onde uma parte esteja a tentar convencer a outra a mudar, quer seja numa organização, durante um debate político ou num jantar de família. Identifique quais as ideias-chave que os poderiam convencer. Encontre factos persuasivos. Partilhe entusiasticamente.
Este não é o caminho para criar mudanças duradouras. A melhor forma de influenciar os outros não é dizer-lhes a resposta, mas sim chegarem juntos a uma resposta. Ouvir é o caminho chave para passar da minha ideia para a nossa ideia. Reformular a ideia conforme necessário e, finalmente, criar o tipo de propriedade partilhada que é necessária para que qualquer ideia se torne uma nova realidade.
Na próxima vez que for a uma reunião em que uma decisão importante deve ser tomada, ou um assunto importante está a ser discutido, tente o seguinte exercício:
Encontre uma folha de papel. Deum lado, escreva ideias-chave que podem ser úteis para partilhar. Mais à frenteirá reavaliá-las, quando tiver mais informação mais sobre o assunto. No outrolado, faça um brainstorming de perguntas que quer fazer e as coisas que esperaaprender. Desenvolveruma lista de perguntas pode ajudá-lo a estar preparado para ouvir, realmente, oque está a ser dito.
A maioria das pessoas não faz este exercício. A maioria das pessoas escuta para preparar o que responder, em vez de aprender. Mas, enquanto fazem isso, não estão a ouvir os outros, estão apenas a esperar para falar.
Escutar é prestar atenção. Significa esquecer os próprios interesses, e querer, realmente, saber mais e respeitar os interesses dos outros. Não apenas ouvir palavras, mas prestar atenção às necessidades e estruturas de referências subjacentes.
Isto explica por que é que as pessoas não são boas ouvintes. Têm medo que, se estiverem a ouvir, não estejam a defender as próprias ideias, porque essas ideias é que são importantes. Estão com medo de desistir das suas próprias convicções.
Texto adaptado do artigo da autoria de Nilofer Merchant, publicado a 6 de fevereiro de 2018 em: https://goo.gl/EZgxTi.