Atrasar o trabalho duro depende do humor.
Quando Derek acordou de manhã, tinha apenas um objetivo: concluir o artigo até às 11 horas.
Então, previsivelmente, às 10 horas já tinha bebido dois cafés, despejado o lixo, limpo o quarto enquanto dobrava as camisas, feito uma caminhada, comido um iogurte e fruta para compensar o esforço físico, enviado um email para a tia e para a irmã e lido cerca de 100 Tweets. Desesperado pela falta de progressos, confortou-se com um segundo pequeno-almoço, abriu várias páginas de notícias… e não escreveu absolutamente nada.
Qual era o problema? Nenhum, de acordo com recentes investigações, este tipo de comportamento é normal e justificável.
As pessoas produtivas, por vezes, confundem um atraso razoável com a verdadeira procrastinação. O primeiro pode ser útil (“Irei responder a este email assim que tiver tempo para o escrever”). O último é, por definição, autodestrutivo (“Devo responder a este email agora, tenho tempo, os meus dedos já estão no computador, a ligação da internet é boa e não tenho mais nada para fazer mas, simplesmente, não me apetece.”)
Quando os cientistas estudam a procrastinação, geralmente concentram-se no facto de como as pessoas não são capazes de pesar os custos e os benefícios ao longo do tempo. Em várias categorias, incluindo dietas, finanças e envio de emails importantes, escolhemos constantemente recompensas pequenas e rápidas (cujos benefícios são duvidosos, mas imediatos), em detrimento de recompensas maiores e mais demoradas (cujos benefícios são óbvios, mas distantes).
No entanto, nos últimos anos, os cientistas começaram a pensar que a procrastinação poderia ter menos a ver com o tempo e mais a ver com a emoção. A procrastinação “realmente não tem nada a ver com a gestão do tempo”, disse Joseph Ferrari, professor de psicologia na Universidade DePaul. “Dizer ao procrastinador crónico para fazer as coisas é o mesmo que dizer a uma pessoa, clinicamente deprimida, para se animar”.
Em vez disso, Ferrari e outros cientistas acreditam que a procrastinação ocorre por dois motivos básicos: (1) Retardamos uma ação porque sentimos que estamos com o humor errado para completar a tarefa e (2) Assumimos que o nosso humor mudará num futuro próximo. Algumas desculpas:
- “Se eu fizer uma sesta agora, irei estar mais concentrado depois”;
- “Se comer este bolo agora, esta será a minha fraude do mês, e terei mais força de vontade depois”;
- “Se enviar alguns Tweets agora, os meus dedos estarão treinados para escrever, o que tornará este artigo mais fácil de escrever”;
- “Se vir televisão agora estarei mais relaxado e mais tentado a ligar para o consultório do médico amanhã de manhã.”
Esta abordagem não é apenas uma autoderrota. Ela cria também um loop de procrastinação. Adiar uma tarefa importante causa ansiedade, culpabilidade e até mesmo vergonha. A ansiedade, a culpa e a vergonha tornam-nos menos propensos a ter energia emocional e cognitiva para ser produtivos. Isso torna ainda menos provável de começar uma tarefa. O que causa culpa. O que impede a produtividade. É um ciclo vicioso.
O ciclo da procrastinação
Uma coisa que pode terminar com o loop da procrastinação é a pressão de um prazo iminente. Muitas vezes as pessoas agendam lembretes para concluir um projeto importante antes do prazo, assim têm tempo para o terminar. Mas essa estratégia, muitas vezes, é contraproducente. Alguns procrastinadores são tendenciosos (escolhem ESPN.com ou o BuzzFeed em vez do trabalho) e confiam na sua capacidade de lembrar tarefas importantes. Como resultado, muitas vezes adiam os trabalhos, e acabam por se esquecer. A procrastinação e o esquecimento são maus, separadamente, juntos, são uma chuva de meteoritos, que esmaga a produtividade.
Para abrir caminho para a produtividade, pode agendar lembretes o mais tarde possível – mesmo um pouco depois da data em que deveria iniciar o projeto. Não só o último lembrete e o prazo eminente afetarão o loop, como também não lhe dará tempo para adiar a tarefa.
Para procrastinadores patológicos, reconhecer que precisam de prazos para se comprometerem com as responsabilidades é o primeiro passo. O segundo passo é reconhecer que os seus próprios prazos são menos eficazes do que os das outras pessoas.
Numa experiência famosa, Dan Ariely contratou 60 estudantes para rever três passagens. Um grupo recebeu o prazo de uma semana para cada passagem, um segundo grupo obteve apenas uma semana para as três leituras e o terceiro grupo escolheu os seus próprios prazos. Os leitores eram recompensados pelos erros que encontravam e penalizados, em um dólar, por cada dia de atraso. O grupo dois apresentou o pior resultado. O grupo com prazos próprios teve o melhor desempenho. As pessoas tentam, estrategicamente, conter a procrastinação usando prazos razoáveis autoimpostos.
Uma abordagem mais teórica, de Yanping Tu e Dilip Soman, no novo Journal of Consumer Research, visa mudar “a forma como os consumidores pensam sobre o futuro”. Yanping e Soman ressalvam que as pessoas têm o hábito de gerir metas e tarefas em categorias específicas de tempo – as atividades são planeadas ao dia, as despesas ao mês e as resoluções ao ano. Essa forma de pensar pode separar-nos no futuro. Quando dizemos: “Vou começar esse projeto na próxima semana”, ou: “No próximo mês começo a fazer dieta”, o que realmente dizemos é: “Espero que, depois de uma quantidade arbitrária de tempo, esteja com melhor humor para me ligar a esta tarefa”.
Um estudo pediu aos consumidores que abrissem uma conta poupança no prazo de seis meses. Um grupo recebeu um prazo de dezembro a junho e um segundo grupo recebeu um prazo de janeiro a julho. Embora cada grupo contivesse, possivelmente, um número semelhante de procrastinadores, significativamente mais pessoas no primeiro grupo optaram por abrir a sua conta imediatamente.
Finalmente, os procrastinadores são mais propensos a completar um trabalho se estiverem convencidos de que, na verdade, aquilo não é trabalho. Num diferente estudo, alunos foram convidados a completar um quebra-cabeças mas, primeiro, receberam alguns minutos para jogar Tetris. Os procrastinadores crónicos apenas atrasaram a resolução do quebra-cabeças quando este foi descrito como uma avaliação. Quando os cientistas descreveram o quebra-cabeça como um jogo, os alunos procrastinadores foram tão propensos a resolvê-lo como qualquer outra pessoa.
Texto adaptado do artigo daautoria de Derek Thompson, publicado a 26 de agosto de 2014 em: https://goo.gl/BSuY1V.
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