Artigo traduzido e adaptado de “5 Perguntas para Ajudar a Sua Equipa a Tomar Melhores Decisões”
Seja na ponderação de uma mudança de carreira ou na escolha de uma estratégia de negócio, as decisões que tomamos hoje — com impacto a curto e a longo prazo sobre nós, as nossas equipas e as organizações — exigem reflexão séria. Não podem ser tomadas de ânimo leve, nem adiadas indefinidamente. No entanto, num ambiente empresarial cada vez mais acelerado e complexo, torna-se difícil encontrar tempo para uma análise ponderada e aprofundada que conduza a respostas conclusivas sobre o melhor caminho a seguir. Reconhecemos que melhores perguntas conduzem a melhores decisões, mas nem sempre sabemos o que perguntar.
No meu trabalho, ajudo líderes a enfrentarem este desafio através de um modelo simples de cinco perguntas, concebido para canalizar o foco e melhorar os processos de tomada de decisão. Ao usar algumas ou todas estas perguntas, ganhará clareza, reduzirá os riscos e criará uma base sólida para melhores decisões e resultados.
O que aconteceria se não fizéssemos nada?
Quando surgem novas oportunidades ou quando o mercado se transforma, não agir pode sair caro. Mas, nalguns casos — por exemplo, quando a informação disponível é insuficiente — o mais sensato pode ser manter o rumo por agora.
Esta pergunta leva-o a avaliar os custos e benefícios, a médio e longo prazo, da inação. Imagine, sozinho ou com a sua equipa, um futuro em que não são feitas quaisquer alterações. Continuam bem-sucedidos? Como foram afetados os principais stakeholders — sejam familiares em decisões de carreira, ou clientes, colaboradores e investidores em decisões de negócio? A vontade de agir baseia-se em dados completos e numa necessidade real ou resulta de pensamentos de curto prazo e emoções momentâneas?
O que poderá fazer-nos arrepender desta decisão?
Como explica Daniel Pink no seu livro The Power of Regret, a maioria dos arrependimentos enquadra-se em quatro categorias: fundacional (decisões erradas na educação, saúde ou finanças), ousadia (oportunidades perdidas ou falta de risco), moral (compromissos com os nossos valores ou ética) e ligação (relações prejudicadas ou perdidas).
Esta pergunta obriga-nos a considerar os potenciais resultados negativos de uma decisão. Explore com questões complementares: Esta é uma escolha sólida para a sua saúde física, mental e financeira a longo prazo? Haverá arrependimento por não ter sido mais ousado? Um compromisso moral poderá gerar insatisfação a longo prazo? Estará a pôr em risco uma relação importante? Se tudo correr mal, o que mais me/nos causaria arrependimento? Reflita também sobre decisões passadas que geraram arrependimento, identifique padrões e aprenda com eles.
Que alternativas descurámos?
Por mais conscientes que sejamos, o nosso cérebro tem tendência para o viés de confirmação — privilegiamos a informação que valida as nossas crenças — o que nos pode levar a ignorar opções viáveis. Em contexto de equipa, é igualmente fácil cair no groupthink ou decidir rapidamente sem explorar todas as alternativas. Outros pontos cegos comuns incluem o viés de ancoragem (quando a primeira informação recebida influencia a decisão), a falácia do custo afundado (persistir numa escolha porque já investimos nela) e o excesso de confiança (assumir que a primeira resposta está certa e não voltar a questioná-la).
Esta pergunta serve para combater esses enviesamentos e manter a curiosidade. Considere caminhos alternativos e avalie se poderão trazer melhores resultados. Reanalise opções anteriormente descartadas e questione se os motivos se mantêm válidos. Garanta que todas as perspetivas foram ouvidas e que os pontos cegos foram identificados.
Como saberemos se esta foi a decisão certa?
É impossível tomar uma boa decisão se não estiver claro para si e para a equipa o que significa o sucesso. É fundamental ter uma visão do resultado ideal e métricas claras para o desempenho esperado — seja através de Objetivos e Resultados-Chave (OKR), de um Balanced Scorecard que avalie resultados financeiros, resposta dos clientes, eficiência dos processos e crescimento, de Indicadores-Chave de Desempenho (KPI) ou de objetivos SMART (específicos, mensuráveis, atingíveis, relevantes e temporais).
Visualize os resultados que espera obter. Defina um sistema de medição de progresso, a curto e a longo prazo. Estabeleça marcos concretos e crie um plano para rever a velocidade e o sucesso do percurso em direção aos objetivos.
Esta decisão é reversível?
Avaliar o quão reversível ou ajustável é uma decisão pode reduzir a pressão de tomar a “decisão perfeita”. Sobretudo em ambientes voláteis e projetos complexos, é possível testar, iterar e corrigir o rumo, através de várias decisões que conduzam à solução final.
Pergunte a si próprio ou à equipa: Quais os custos — financeiros e reputacionais — de reverter esta decisão, se necessário? Será fácil ou difícil mudar de direção? Podemos dividir esta decisão em pequenos passos para experimentar e recolher feedback? Que sinais, dados ou métricas indicarão que é altura de reconsiderar? O que diz o seu instinto sobre esta decisão?
Aplicação das Perguntas
Uma empresa de serviços financeiros com quem trabalho estava a decidir se avançava para um modelo de solução fintech ou se mantinha o seu modelo de serviços. Começámos por analisar as consequências de não agir: as duas principais preocupações eram perder clientes mais tecnológicos e não acompanhar os concorrentes. Avaliámos também os potenciais arrependimentos, incluindo perder oportunidades de mercado ou investir na solução tecnológica errada. Em seguida, explorámos várias alternativas, como desenvolver ferramentas híbridas de tecnologia e serviço ou manter-se exclusivamente no modelo de serviços.
Definimos o que significaria o sucesso com base em OKR, incluindo o potencial de crescimento das receitas, rácios de custo/receita e valor do cliente ao longo da vida, tanto no modelo de serviços como na solução fintech projetada. Analisámos também KPIs como a percentagem de retenção de clientes, os custos e os retornos da aquisição de novos clientes e uma matriz de sucesso do cliente. Por fim, pensámos numa abordagem ágil para o desenvolvimento e lançamento da tecnologia, dividindo o projeto em várias decisões faseadas de avançar ou não.
Dois anos depois, a empresa lançou a versão beta da sua plataforma fintech, com crescimento contínuo na captação de novos clientes e uma taxa de retenção positiva nos clientes atuais.
Outro exemplo vem de uma executiva que aconselho, que recebeu uma proposta de promoção significativa numa empresa da Fortune 100, precisamente quando ponderava abandonar o mundo corporativo para seguir uma carreira como escritora e consultora. Ao longo de várias sessões de coaching, aplicámos o modelo das cinco perguntas. Ela concentrou-se sobretudo na questão do arrependimento e respetivas reflexões, o que a ajudou a perceber como se sentiria se optasse por continuar na empresa em vez de arriscar algo novo. Daqui a cinco ou dez anos, sentir-se-ia arrependida por não ter tentado? Ficaria sempre a pensar no que poderia ter sido? Ou a estabilidade e o prestígio do novo cargo seriam suficientes para a satisfazer?
Fizemos também cenários sobre a reversibilidade da decisão de sair. Por exemplo, se o percurso empreendedor não corresse como esperado, seria fácil ou difícil regressar ao mundo corporativo? Que relação profissional poderia manter como rede de segurança e alavanca numa nova carreira? Poderia negociar uma colaboração em regime de consultoria com o antigo empregador, garantindo uma almofada financeira enquanto construía o seu negócio? Este trabalho deu-lhe a clareza e a confiança necessárias para recusar a promoção e deixar o emprego. Um ano depois, está a viver a sua jornada como empreendedora e escritora, já com agência para palestras e livros, superou as primeiras metas financeiras e, o mais importante, conquistou um estilo de vida mais satisfatório.
As cinco perguntas apresentadas não garantem uma boa decisão, mas afinam o processo de tomada de decisão — seja em questões pessoais ou estratégicas de negócio. Com o tempo, ao aplicá-las a solo e com a sua equipa, estará também a desenvolver os hábitos necessários para o crescimento e sucesso sustentados.
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