Traduzido e adaptado de Research: How Creative Collaboration Can Strengthen Relationships
Quando pensamos em criatividade nas organizações, quase sempre pensamos de que modo é que isso pode resultar em melhores produtos, soluções mais inovadoras, ofertas mais atrativas para os clientes, e colaboradores mais energéticos. Aquilo que quase nunca ouvimos no local de trabalho é, “Será que pode ser um pouco menos criativo?”. Isto acontece, porque a criatividade está quase sempre associada a resultados positivos, quer para a pessoa que está a ser criativa, quer para a empresa.
Apesar dos claros benefícios da criatividade no modo como os colaboradores fazem o trabalho, e o trabalho que produzem, estávamos interessados em compreender melhor um benefício subaproveitado da criatividade organizacional: o potencial da criatividade no estabelecimento de relações sociais positivas entre os colegas de trabalho. Sabemos que o oposto é verdade – as relações sociais positivas favorecem a criatividade – e estudos sugerem que as equipas cujos elementos gostam uns dos outros e mantêm uma relação positiva, produzem soluções mais criativas e inovadoras. Para além das relações sociais positivas facilitarem o processo criativo, será que a criatividade também pode aproximar os colegas de trabalho?
Para explorar esta possibilidade, levamos a cabo uma experiência para perceber se uma mentalidade criativa poderia facilitar experiências sociais positivas. Durante dez dias, todas as manhãs, escolhemos aleatoriamente um grupo de 151 trabalhadores adultos – com funções profissionais diversas, incluindo líderes técnicos, gestores de projetos, engenheiros de I&D, diretores de filiais, responsável pelo atendimento aos clientes, controlador financeiro – para uma situação de mentalidade criativa (onde lhes foi pedido que pensassem com criatividade sobre um problema) ou uma condição neutra (durante a qual recordavam uma situação do dia a dia). No final do dia, pedíamos-lhes que avaliassem vários aspetos relacionados com a relação com os seus colegas de trabalho. Indo ao encontro das nossas expetativas, descobrimos que nos dias em que os trabalhadores experimentavam mais situações criativas, os participantes sentiam-se, socialmente, mais próximos dos colegas de trabalho. Esta proximidade social também permitia que desenvolvessem menos comportamentos rudes para com os colegas, assim como também percebiam que os colegas eram mais corretos na sua atitude para com eles.
Os resultados desta experiência, permitiram-nos concluir que a criatividade pode facilitar experiências sociais positivas e, por isso, quisemos perceber um pouco mais sobre a causa deste efeito. Para explorar tudo isto, consideramos a natureza social do processo criativo e, de que forma é que isso pode influenciar o modo como os colaboradores se sentem uns com os outros. Em particular, porque muitas vezes pensamos no génio criativo solitário como o responsável pela maioria do trabalho criativo mas, na verdade, não é o modo como a criatividade funciona no mundo das organizações. Pelo contrário, a criatividade é um processo social, os colaboradores partilham ideias, construídas a partir das sugestões dos colegas, oferecem feedback para melhorar um conceito, e colaboram para surgir com um novo modelo mais inovador, para resolver um problema específico. Por isso, criamos uma teoria que mostra como a natureza social da criatividade pode ajudar a explicar porque é que a criatividade pode facilitar as relações sociais positivas entre os funcionários.
Para testar esta explicação, conduzimos uma série de experiências laboratoriais para explorar como é que a natureza social da criatividade pode influenciar a melhorar a proximidade social. No segundo estudo, (370 adultos trabalhadores) e no terceiro (275 trabalhadores profissionais), descobrimos que ao fazer o brainstorming de novos usos para um produto, tornava os participantes mais conscientes de que os seus colegas de trabalho são parte integrante do processo criativo. No quarto estudo (686 trabalhadores adultos), descobrimos, igualmente, que ao pedir aos colaboradores para desenvolverem práticas de Recursos Humanos inovadoras, promovíamos nos colaboradores uma maior consciência da importância dos colegas no processo criativo.
No final, percebemos que esta consciência explicava o motivo pelo qual uma mentalidade criativa criava as condições para laços sociais mais apertados. Por exemplo, foi relembrado aos participantes, como uma conversa com os colegas poderia desencadear uma ideia única; como os mapas conceptuais ajudam os elementos da equipa a ver os problemas de uma perspetiva diferente ou como algo que ouviram a partir de uma conversa informal com um colega os levou a explorar o assunto em profundidade. No fundo, é esta consciência de que os colegas são fundamentais no processo criativo que leva os colaboradores a sentirem-se mais próximos uns dos outros, e por sua vez, a serem menos rudes entre eles.
Por fim, estávamos interessados em perceber as situações ou os contextos em que a criatividade foi particularmente facilitadora das relações sociais positivas entre os funcionários. Uma vez que a criatividade é um processo social no trabalho, nem sempre é positiva. Por vezes, os funcionários não partilham ideias, guardam-nas para si próprios, e tornam-se cautelosos de tal forma que o processo criativo não permite a criação de sentimentos de proximidade social.
Percebemos que o elemento diferenciador das consequências da criatividade, era o ambiente ser favorável e psicologicamente seguro. Por outras palavras, quando os colaboradores trabalhavam em ambientes de apoio onde não visionavam qualquer tipo de risco por pensarem de forma diferente, ser criativo resultava em sentimentos de proximidade para com os colegas de trabalho. Isso porque, nesses ambientes, uma mentalidade criativa fazia com que os funcionários se lembrassem e imaginassem interações criativas e positivas e de apoio entre colegas. No entanto, quando os funcionários trabalhavam em ambientes onde se verificava menos apoio, onde os erros jogavam contra eles, a eficácia da criatividade na proximidade social era mais fraca, pois os funcionários lembravam-se das relações mais negativas e de menor apoio.
Com base nos nossos estudos, deixamos algumas recomendações às organizações, aos líderes e aos funcionários:
Em primeiro lugar, os líderes devem reconhecer o poder que a criatividade pode ter na melhoria das relações entre os funcionários. A nossa investigação sugere que os grupos que lutam para se relacionarem, podem beneficiar se lhe forem atribuídas tarefas criativas, pois podem potenciar a criação de laços sociais entre os funcionários.
Em segundo lugar, as organizações devem reconhecer o impacto positivo da criatividade em aumentar ambientes apoiantes. Isto significa que ambientes criativos onde os funcionários se sentem confortáveis para partilhar as suas ideias criativas – e dar feedback positivo aos seus colegas de trabalho, encorajando a experimentação e não penalizar os funcionários pelos erros durante os seus esforços, são ingredientes fundamentais para impulsionar o impacto social positivo da criatividade.
Finalmente, tanto os trabalhadores como os empregadores devem ter presente que o pensamento criativo é uma das ferramentas que ajuda a reduzir a rudeza organizacional, que, tal como tem sido mostrado, tem implicações negativas no desempenho, motivação, humor e muito mais. O nosso trabalho mostra que pensar com criatividade pode ser a solução para o problema, uma vez que pensar com criatividade não só reduz a quantidade de comportamentos rudes entre funcionários, como na falta de educação percebida pelos funcionários.
De um modo geral, os nossos estudos mostram que o pensamento criativo pode acarretar implicações sociais para o local de trabalho. Embora, trabalhos anteriores tenham mostrado um lado mais escuro e sombrio da criatividade no local de trabalho, pois mostraram que a criatividade leva à desonestidade e desvio, os nossos estudos mostram que, no meio de tudo isto, há espaço para o otimismo pois está intimamente relacionado com o local de trabalho. Para melhor ajudar as organizações e as equipas a aprimorar o processo criativo, sugere-se que as pesquisas futuras explorem com detalhe quando é que a criatividade acarreta consequências positivas e quando tem uma carga negativa.