Artigo traduzido e adaptado de “When the best leadership skill is just being present”
Quando a Alex entrou no meu gabinete e disse que estava sobrecarregada, pensei: ok, ela precisa da minha ajuda, ela precisa de respostas. Ouvi, fiz algumas perguntas esclarecedoras e depois fiz o que fui treinada para fazer, resolver o problema. Peguei numa caneta, dividi o problema em partes e ofereci estratégias: delegar mais, bloquear tempo no calendário, estabelecer prioridades. Vi que ela estava a lutar, e queria ser útil.
Mas algo nos seus olhos mudou à medida que eu falava, como se ela se afastasse cada vez mais, em vez de se aproximar. Pensei que estava a ser útil, mas saiu da conversa com mais peso do que quando entrou. Só mais tarde me apercebi que o que ela precisava não era da minha estratégia, era da minha presença. Precisava de sentir que alguém a percebia, não de ser consertada.
Esta é a história de uma líder que conhecemos durante um coaching, alguém que sinceramente tentava apoiar um membro da equipa sobrecarregado, apenas para descobrir que o que era necessário não era perícia ou eficiência, mas sintonia emocional. Enquanto coaches de liderança e psicólogos, verificámos que a sintonia pode ser uma forma profunda de apoio. Mas poucos sabem o que é, por que e quando é benéfico, e como o praticar com sucesso.
O que é sintonia emocional?
Ao contrário das respostas tradicionais de liderança, oferecer conselhos, saltar para soluções, minimizar sentimentos, a sintonia trata-se de estar com a pessoa em vez de tentar consertá-la ou resolver a situação. É a arte da presença total, sem julgamentos. É quando um líder percebe profundamente, escuta ativamente e sinaliza ao colaborador: vejo-te. compreendo-te. estás seguro aqui. Líderes que se ajustam e não tentam mudar emoções, mas reconhecem-nas.
Com sintonia, os líderes utilizam a sua presença, contacto visual, linguagem corporal e serenidade interior, para transmitir apoio. A investigação mostra que este tipo de suporte social pode alterar dramaticamente a perceção de situações stressantes. De facto, o ato de sintonizar antes de tomar medidas futuras pode tornar essas soluções mais eficazes. Simplesmente sentir-se visto pode tirar os colaboradores do estado de sobrevivência e levá-los a um estado de ligação, clareza e compromisso.
Sintonia não é suave. Não é passiva. Não é um luxo. É uma habilidade de liderança rápida e poderosa em tempos de sobrecarga e excesso de trabalho.
Porque é que a sintonia emocional é importante agora?
Os colaboradores estão stressados. De acordo com os indicadores de bem‑estar da Gallup relativos à força de trabalho, de fevereiro de 2025, 52 % dos trabalhadores nos EUA afirmam sentir muito stress, 44 % muita preocupação, 24 % muita tristeza e 22 % muita raiva.
É certo que não és terapeuta, mas como líder não podes ignorar os sentimentos dos teus colaboradores. As emoções negativas impactam dramaticamente a produtividade e desempenho, por isso a forma como respondes à frustração, preocupação ou sobrecarga de alguém importa mais do que pensas. Quando os colaboradores percebem que os seus líderes se preocupam com o seu bem‑estar emocional, ficam mais envolvidos e felizes. Na verdade, são mais propensos a endossar a organização, a desempenhar bem, a permanecer na empresa, a dedicar esforço extra e a adotar comportamentos de cidadania.
Na nossa experiência, quando os líderes sintonizam, ficam frequentemente surpreendidos pelos resultados, relatando uma ligação mais profunda e menor reatividade. A resistência dá lugar à possibilidade. O isolamento transforma‑se num sentido de pertença. O mais impressionante é quão mínimo pode parecer o esforço para o líder, mas a mudança no colaborador é real e duradoura.
Um líder sénior com quem trabalhámos enfrentou uma situação difícil durante uma fusão. Um colaborador, visivelmente ansioso, expressou o seu medo de perder o emprego. A líder não pôde oferecer garantias mas, em vez de se apressar a tranquilizá‑lo ou delinear os próximos passos, sincronizou. Reconheceu o seu medo, ouviu sem interromper e permitiu que o silêncio existisse. Manteve‑se centrada e presente. Aquele momento de reconhecimento calmo não resolveu a incerteza, mas alterou a forma como ele se sentia dentro dela. Mais tarde referiu sentir‑se mais apoiado e menos sozinho — o suficiente para continuar envolvido e focado nas semanas seguintes.
Porque é que os líderes têm dificuldade com a sintonia emocional?
Se a sintonia é gratuita e universalmente acessível, por que é que tantos líderes não a praticam? Vários fatores impedem:
- Falta de modelo. Muitos líderes nunca experimentaram uma escuta profunda e sem julgamentos de figuras de autoridade, pelo que não oferecem isso naturalmente. Além disso, nas escolas raramente se ensina a escutar, quanto mais a presença emocional.
- Instinto de resolver problemas. Os líderes são treinados para resolver, não para estar com o desconforto. Mas frequentemente os colaboradores precisam de apoio antes de precisarem de soluções.
- Escassez de tempo. Alguns líderes acreditam que a sintonia distrai do trabalho que precisa de ser feito. (Na realidade, ela facilita o trabalho ao dissolver resistências emocionais, aumentar a confiança interpessoal e desbloquear a produtividade.)
- Exaustão do líder. Os líderes não conseguem sintonizar com os outros se estiverem presos às suas próprias respostas crónicas de stress. Cargas de trabalho ininterruptas e histórias pessoais de trauma podem mantê-los em modos de luta, fuga ou paralisia, tornando difícil acolher as emoções dos outros.
- Comunicação digital. O Slack, o e‑mail e o texto retiram os sinais somáticos que tornam a sintonia natural. A presença é mais difícil de transmitir por palavras.
Além disso, os líderes podem não saber quando sincronizar. Verificámos que o momento ideal é durante uma conversa individual, quando se sente que alguém está emocionalmente inundado, sobrecarregado por frustração, tristeza, raiva ou ansiedade, ou, pelo contrário, quando aparentam estar emocionalmente apáticos, entorpecidos ou desligados. Muitas vezes, o corpo percebe algo errado antes da mente. Poderás sentir tensão ou distúrbio. Poderás notar uma distância palpável entre ti e a outra pessoa, como se estivessem em dois mundos diferentes. É esse o momento para oferecer a tua presença plena.
Evita tentar sincronizar por texto, e‑mail ou Slack, presencial ou por vídeo é o ideal. O sistema nervoso baseia‑se em sinais corporais em tempo real, expressões faciais, tom de voz, postura, respiração, para co‑regular. Sem esses dados, as tentativas de ligação emocional podem falhar facilmente.
E lembra-te, nem toda a conversa exige sintonia. Se o colaborador está à procura de contributo prático, um plano ou feedback relacionado com uma tarefa, deves manter a orientação para solução.
Os cinco passos para a sintonia emocional
A boa notícia é que sintonia é uma competência de liderança que qualquer líder pode aprender e aplicar quando apropriado. Começa com estes cinco passos:
1. Define a intenção.
A sintonia começa com uma decisão: estou aqui para ouvir, não para julgar ou consertar. Afasta a inclinação para criticar, aconselhar, planear ou socorrer. Prepara‑te para estar com o colaborador, não para fazer algo por ele.
- Diz a ti próprio: vou criar um espaço onde se sinta seguro.
- Diz-lhe: estou aqui contigo. não estás sozinho. quero ouvir e compreender. conta‑me o que se passa…
- Liberta‑te da pressão de ter respostas. A tua presença é suficiente.
2. Muda para um estado de calma.
O teu estado emocional é contagiante. Se estás tenso ou apressado, os colaboradores sentem. Sintonia exige que estejas regulado, suficientemente calmo para absorver e refletir a experiência sem reagir.
- Respira de propósito. Enche todo o diafragma e expira lentamente ou utiliza a respiração em caixa: inspira quatro vezes, segura quatro, expira quatro, segura quatro.
- Remova distrações, guarda o telemóvel e fecha o computador.
- Opta por uma reunião a caminhar, pois ativa os dois hemisférios cerebrais, ajudando a processar emoções stressantes. Ainda conseguirás perceber pistas emocionais e caminhar pode sincronizar sistemas nervosos.
- Considera adiar a reunião se estiveres demasiado distraído ou desregulado. Podes dizer: isto é importante e quero estar presente para ti. Podemos fazê‑lo às 15h em vez de agora?
3. Mantém-te curioso.
A curiosidade é o antídoto ao julgamento. Entra na conversa com abertura, sem suposições. O teu trabalho é perceber a experiência deles, não impor a tua perspetiva.
- Pergunta‑te: o que posso aprender? como posso ser surpreendido?
- Diz: pergunto‑me o que foi mais difícil para ti? Ou, conta‑me mais sobre como foi isso.
- Suspende a resolução de problemas e ouve as emoções por detrás das palavras.
4. Escuta com o corpo.
A sintonia não é apenas ouvir palavras, é assimilar o quadro completo. Escuta o tom, a linguagem corporal e emoções não ditas. Quando os colaboradores se sentem verdadeiramente ouvidos, o sistema nervoso relaxa, permitindo-lhes processar emoções e seguir em frente.
- Acena com a cabeça, mantém contacto visual suave e espelha subtis emoções.
- Frases-chave: parece que estás frustrado porque… ou, conta-me mais.
- Evita frases como: sei exatamente como te sentes (não sabes) ou olha pelo lado positivo (minimizando).
- Permite o silêncio.
5. Convida à reflexão.
À medida que as emoções assentam, ajuda os colaboradores a refletir sobre a experiência e próximos passos. Isto reforça a sua capacidade de autorregulação e resolução de problemas.
- Diz: parece que a tua energia mudou.
- Pergunta: como te sentes agora? Há algo mais claro para ti agora? Ou o que pensas que precisas mais neste momento?
- Oferece uma frase de encerramento: obrigado por partilhares comigo ou é importante para mim que eu saiba como te sentes.
- Observa as mudanças verbais e não verbais do colaborador, bem como as tuas próprias, e usa-as como feedback do poder da sintonia.
O efeito ondulante da liderança
Quando os líderes praticam sintonia, os colaboradores não se sentem apenas ouvidos, sentem-se ancorados. E num mundo cada vez mais caótico, essa pode ser a diferença entre desvinculação e resiliência.
Como líder, a tua presença é poderosa. Nem sempre precisas das palavras perfeitas. Nem sempre precisas de resolver tudo. Só precisas de aparecer, com um coração aberto, um corpo calmo, uma mente curiosa e a disposição de reparar.
Sabe mais sobre outros temas AQUI!