Quando Nicholas estava no final dos seus vinte anos, foi-lhe diagnosticado cancro no estômago. Os médicos operaram-no e disseram-lhe para esperar o melhor. Nicholas voltou para o Japão, onde estava a trabalhar, e tentou esquecer o que lhe tinha acontecido. Um ano depois, os tumores voltaram, desta vez no seu fígado. Após uma exaustiva pesquisa, os cirurgiões encontraram um novo procedimento para os remover mas, novamente, logo pensou que era apenas mais uma correção temporária, os seis meses que se seguiram foram uma desgraça. A parte mais difícil da sua doença era a constante ansiedade sobre a possibilidade de o cancro voltar.
Então, conheceu um homem que mudou a sua perspetiva. O Dr. Derek Roger passou 30 anos a pesquisar o porquê de algumas pessoas, em situações difíceis, ficarem sobrecarregadas, enquanto outras perseveram. Roger ensinou tudo aquilo que aprendeu ao longo dos anos a Nicholas, que começou a aplicar isso a ele mesmo. A sua ansiedade diminuiu, mesmo não havendo alterações na sua situação clínica. Na realidade, o cancro voltou há cerca de cinco anos e permanece relativamente estável no seu fígado. Mas Nicholas não se preocupa mais com isso. Derek tornou-se no seu mentor e, nos últimos dez anos, treinaram milhares de líderes a superar o stress e a ansiedade.
O processo começa com a compreensão de que o stress não é causado por outras pessoas ou por eventos externos, mas sim pelas próprias reações a essas causas. Muitas vezes culpamos o chefe, o trabalho, os curtos prazos ou os compromissos pelos altos níveis de ansiedade. Mas os nossos colegas, que enfrentam os mesmos desafios, fazem-no sem stress, e vice-versa.
A pressão não é sinónimo de stress. Mas o primeiro é convertido no último, quando adicionado o processo de ruminação: tendência de continuar a pensar nos eventos passados ou futuros, ao mesmo tempo que se atribui uma emoção negativa aos mesmos. Claro que os líderes devem refletir – planear o futuro ou rever as lições do passado – mas este é um processo analítico, de curto prazo, com reflexos positivos. A ruminação é contínua e destrutiva, diminuindo a saúde, produtividade e bem-estar. Os problemas crónicos mostram um aumento da incidência de problemas coronários e da repressão do sistema imunitário. A permanência no passado ou no futuro também nos afasta do presente, tornando-nos incapazes de completar o trabalho que temos em mãos no presente. Se perguntarmos aos ‘ruminadores’ como se sentem, ninguém irá responder “feliz”, a maioria sente-se miserável.
Para quebrar esse hábito indutor de stress, Derek e o Nicholas recomendam quatro etapas:
Acordar. As pessoas passam a maior parte do dia num estado denominado “dormir acordado”. Ou seja, quando vamos para o estacionamento do escritório mas não nos lembramos de onde estacionamos, ou quando alguém numa reunião pede a opinião mas, como não prestámos atenção, aos últimos minutos de conversa, não sabemos o que responder… Uma vez que toda a ruminação acontece durante este estado, o primeiro passo é sair dela. Pode fazer isso fisicamente: levantar-se ou sentar-se, bater palmas e mover o corpo. Ou pode fazê-lo mentalmente: conectar-se com os sentidos notando o que pode ouvir, cheirar, provar e sentir. A ideia é reconectar-se com o mundo.
Controlar a atenção. Quando rumina, a atenção fica presa num loop improdutivo, tal como um hamster numa roda. É preciso direcionar-se para áreas nas quais pode tomar medidas úteis. Aqui está um exercício que os executivos devem fazer: Desenhar um círculo numa página e anotar todas as coisas que pode controlar ou influenciar dentro do círculo, e todas as coisas que não pode controlar fora do círculo. Lembre-se de que pode preocupar-se com as externalidades – o trabalho, a equipa, a família – mas não tem poder sobre elas.
Perspetiva. Os ruminadores tendem a ser catastróficos, mas os líderes resilientes mantêm as coisas em perspetiva. Nicholas e Roger costumam ensinar às pessoas três técnicas: comparar (comparando um stress passado com um atual, por exemplo, uma doença grave versus uma venda perdida), questionar (perguntar a si mesmo “Quando é que isso vai acontecer dentro de três anos?” e “O que é isso? Qual a pior coisa que poderia acontecer?” e “Como eu a iria sobreviver?”) e reestruturar (ver o seu desafio de um novo ângulo: “Qual é a oportunidade nesta situação que eu ainda não vi?” ou mesmo “O que é engraçado nesta situação?”).
Deixar ir. O último passo é muitas vezes o mais difícil. Se fosse fácil deixar o passado, já o teríamos feito. Estas três técnicas ajudam. A primeira é a aceitação: reconhecer a situação. A segunda é aprender a lição. O cérebro irá analisar os eventos até sentir que ganhou algo com eles. Então pergunte a si mesmo: “O que aprendi com esta experiência?” O terceiro é a ação. Às vezes, a solução real não é relaxar, mas fazer algo sobre a situação. Pergunte a si mesmo: “Que ação é necessário realizar aqui?”.
Texto adaptado do artigo da autoria de NicholasPetrie, publicado a 16 de março de 2017 em: https://goo.gl/4Ae4b5.