O conflito causa estragos nos cérebros. Através da evolução, o ser humano foi ‘treinado’ para se proteger, sempre que sente uma ameaça. O Homem não entra, necessariamente, numa guerra como, por exemplo, um texugo e um coiote, ou tão pouco foge como um coelho de uma raposa. Mas o impulso básico de proteção é automático e inconsciente.
Existemduas amígdalas, uma de cada lado do cérebro, por trás dos olhos e dos nervos óticos.Dr. Bessel Van Der Kolk, no seu livro, chama-lhes “detetores de fumo.”São as responsáveis pela deteção do medo e pela preparação do corpo para uma respostade emergência.
Quandoo cérebro se apercebe de uma ameaça, a amígdala faz soar um alarme, liberandouma série de substâncias químicas no organismo. As hormonas do stress, como a adrenalina e o cortisol, inundam o sistema, preparando o corpo, imediatamente, paralutar ou fugir. Quando esta função, profundamente instintiva, toma lugar, dá-seo nome de ‘Inteligência Emocional’. Imediatamente são notadas algumas mudanças: aumento dos batimentos cardíacos ou mãos suadas, a respiração torna-semais rápida…
Oaumento de hormonas do stress cria outras sensações, como um tremor nos membros e na voz. O calor chega ao rosto, um nó toma conta da garganta e os maxilares ficam presos. Um conjunto de reação psicológicas, altamenteeficientes, apoderam-se do corpo. Estas reações não são propriamente agradáveis– também não é suposto que sejam relaxantes. Estas reações têm como objetivo infligiruma ação.
Aamígdala ativa fecha, imediatamente, o caminho neurológico para o córtexpré-frontal, de forma a provocar uma desorientação durante conversas mais ‘acesas’. Opoder de decisão desaparece, assim como o acesso a múltiplas perspetivas. Apessoa é transportada para uma única perspetiva: “Eu estou certo etu errado”, mesmo quando há outras formas de interpretar a situação.
E,como se isso não fosse suficiente, a memória torna-se indigna de confiança. Acontecemuitas vezes, depois de uma discussão com um amigo ou companheiro, as coisaspositivas sobre ele serem apagadas da memória. É como se o cérebro desligasse asmemórias, traduzindo assim um esforço para sobreviver à ameaça. Quando amemória é comprometida desta forma, torna-se impossível recordar algo dopassado que ajude a acalmar. Na verdade, muita coisa é esquecida. No seu lugar, existe uma luz vermelha indicando “Perigo, reagir. Perigo, proteger. Perigo,atacar.“
Quandoa amígdala está no controlo, é impossível escolher a reação, pois o mecanismodo sistema nervoso é quem escolhe a ação.
Tomar consciência
A tomada de consciência é a técnica perfeita para ser empregue quando surge um conflito- no trabalho ou em casa. Em vez de atacar ou recuar e, posteriormente,justificar as reações, é possível tomar as rédeas do sistema nervoso e,eventualmente, desenvolver novas formas de interagir.
‘Domar’ a mente a meio de um conflito exige uma grande força de vontade para substituir os pensamentos negativos.Como qualquer habilidade, é preciso prática.
Existemdiferentes abordagens para trabalhar com o sistema nervoso e com as emoçõesintensas, mas todos eles têm alguns elementos em comum. Aqui estão quatropassos simples.
Passo 1: Estar presente.
Oprimeiro passo é perceber quando existe umaprovocação. Pode notar-se uma mudança no tom de voz ou um súbito desejo de seretirar. Cada um tem uma linguagem corporal particular, que alerta para asameaças.
Épreciso decidir estar presente, ser curioso e explorar a experiência. Éimportante pensar em relaxar. Pensar em algo que acalme.
Passo 2: Deixar de lado a história.
Este ponto pode ser o mais difícil. É preciso deixar de lado o pensamentoe o julgamento. Isto é bastante desafiante pois, quando há a sensação deameaça, a mente imediatamente enche-se de todo o tipo de pensamentos ehistórias difíceis. Mas é preciso fazer um esforço para relativizar, nem queseja por um minuto, porque há uma ligação entre o feedback, os pensamentos e ocorpo. Se os pensamentos negativos persistirem, também as hormonas do stress. Issonão quer dizer que um lado está certo ou errado. Mas, se houver este esforço,as perceções serão muito mais fidedignas.
Passo 3: Concentre-se no corpo.
Éimportante explorar as sensações que surgem no corpo. Senti-las exatamente como são,e não tentar controlá-las ou alterá-las. É preciso permitir à mente ser o maisaberta possível, percebendo onde as sensações têm lugar no corpo.
Passo 4: Finalmente, respirar.
Todagente sabe que respirar, ajuda. É importante controlar o ritmo e a suavidade,desta forma, a produção do cortisol e adrenalina vai parar. Isto significa quea inspiração e expiração ocorrem, repetidamente, nos mesmos intervalos.
Prestaratenção ao corpo restabelece o equilíbrio mais rapidamente, restaurando acapacidade de pensar, ouvir, e relacionar-se. Isso requer prática mas,eventualmente, é possível treinar o corpo a responder, em vez de reagir. Araiva torna-se clareza, a tristeza leva à compaixão, e a inveja torna-secombustível para a mudança.
Cadavez que houver sucesso na tomada de consciência do corpo, em momentos de aflição,há um desenvolvimento das capacidades. Antes daquilo que se espera, o velhohábito de discussão ou fuga desapareceu e, de repente,o mundo é um lugar maisseguro.
Texto adaptado do artigo da autoria de Diane Musho Hamilton publicado na Harvard Business Review, em 22 dezembro de 2015.