
No que toca a constituir locais de trabalho extraordinários e equipas de alto desempenho, os investigadores consideram que há três necessidades psicológicas essenciais: autonomia, competência e afinidade. Décadas de pesquisa revelam que quando as pessoas se sentem satisfeitas do ponto de vista psicológico, sentem-se tendencialmente mais felizes, saudáveis e são mais produtivas.
Desses três elementos essenciais, a afinidade ou o desejo de se sentir conectado aos outros foi sempre o mais difícil de cultivar no seio das organizações. Uma coisa é atrair empregados com talento, mas como é que se consegue que gostem uns dos outros?
O Covid tornou esta questão da afinidade mais complexa. O trabalho a partir de casa foi um benefício para o desenvolvimento da autonomia, permitiu que os funcionários decidissem onde e quando trabalhar, a falta de proximidade física com os colegas tornou cada vez mais desafiante a criação de relações pessoais com os colegas.
No entanto, novos estudos sugerem que as equipas de elevado desempenho encontraram formas subtis de potenciar as relações sociais durante a pandemia e fomentar o sucesso. As descobertas oferecem-nos pistas importantes para as organizações fomentarem maior estabelecimento de relações de modo a criar equipas de elevado desempenho, quer durante o trabalho à distância quer em momentos de trabalho híbrido.
Durante o verão, a minha equipa da ignite80 partilhou o software de comunicação Front para questionar 1,106 funcionários americanos. O nosso objetivo era simples: determinar o ponto de diferenciação das equipas de elevado desempenho.
Para identificar elementos de equipas de grande desempenho, os participantes tiveram (1) de classificar a eficácia da equipa, (2) comparar o desempenho da sua equipa com outras equipas no âmbito da área profissional. Os funcionários que avaliaram a sua equipa com 10 pontos num total de 10 pontos foram classificados como equipas de alto desempenho, o que nos permitiu comparar os comportamentos.
Então, o que fazem as equipas de alto rendimento de diferente? O nosso estudo revelou cinco diferenças significativas. Em todo o caso, todas apontaram o papel fundamental da proximidade da relação entre os colegas como condutor de alto desempenho.
Equipas de alto desempenho não têm medo de atender o telefone
A tendência é haver cada vez menos chamadas telefónicas nos locais de trabalho, porém este não é o caso das equipas de alto desempenho. Os estudam mostram que estas equipas comunicam mais, de um modo geral, e estão abertas a comunicar mais com os colegas utilizando o telefone, do que a maioria dos colegas com menos sucesso (10.1 versus 6.1 chamadas por dia, em média)
Isto faz sentido. Estudos recentes mostram que a maioria das pessoas imaginam que as chamadas são aborrecidas e desconfortáveis, porém esta ideia está errada. Não só não só desadequadas, em termos práticos, como tendencialmente fortalecem as relações e previnem equívocos, contribuindo para interações mais positivas entre colegas.
Equipas de alto desempenho são mais estratégicas nas reuniões
Não é segredo que uma reunião mal gerida contribui para a insatisfação do funcionário, esgota a capacidade cognitiva e traz custos elevadíssimos às organizações.
As nossas descobertas mostram que as equipas de alto desempenho evitam as armadilhas das reuniões mal geridas ao incorporar práticas que promovam reuniões mais produtivas. Na realidade, podem até exigir mais trabalho anterior à reunião (39% exigem mais trabalho), ter uma ordem do dia (26%) e começar com uma verificação do progresso de cada um dos elementos da equipa (55%).
Ao assegurar que o tempo que estão juntos é eficaz e colaborativo, as equipas de alto rendimento não só não fazem um bom uso das reuniões, com também marcam o passo para interações mais positivas, contribuindo por sua vez para a melhoria das relações.
As equipas de alto desempenho investem tempo a falar de assuntos extratrabalho
Do ponto de vista da gestão, é fácil torcer o nariz a conversas, no local de trabalho, que não tenham nada a ver com o trabalho. Afinal de que serve estar no local de trabalho a falar de um grande evento desportivo ou de um grande filme?
Porém, os estudos mostram que discutir assuntos não relacionados com o trabalho traz muitas vantagens. Isto porque, é nestas conversas informais que se descobrem interesses comuns, que por sua vez promovem relações autênticas.
O nosso estudo, mostra que as equipas de alto desempenho passam muito tempo, no local de trabalho, a discutir assuntos que não são relacionados com o trabalho (cerca de mais de 25%). Assuntos como desporto, livros e família. Também há possibilidade de se terem encontrado com os colegas para um café, ou uma bebida ao longo dos últimos seis meses.
Por outras palavras, as melhores equipas não são as mais eficazes porque estão sempre a trabalhar. Pelo contrário: as melhores equipas investem tempo de modo genuíno, que por sua vez se transforma em amizades mais verdadeiras e consequentemente melhor trabalho de equipa.
As equipas de alto desempenho dão e recebem apreço mais frequentemente
A principal razão pela qual a afinidade contribui para um melhor desempenho no trabalho, é que nos faz sentir valorizados, apreciados e respeitados pelas opiniões daqueles que gostamos. Por isso, é que o reconhecimento é tido muitas vezes como mais motivador do que os incentivos monetários.
No nosso estudo, os elementos das equipas de alto desempenho mostraram ter o trabalho reconhecido mais frequentemente, cerca de 72% mais, assim como os gestores (mais de 79%). Importante é que estes elementos também reportaram que reconheciam o trabalho dos colegas mais frequentemente (44%), sugerindo que dentro das melhores equipas o reconhecimento não é feito de cima para baixo. É uma norma cultural, observável nas interações entre colegas.
As equipas de alto desempenho são mais autênticas no trabalho
De acordo com o nosso estudo, os elementos das equipas de alto desempenho exprimem emoções mais positivas entre os colegas. Estão mais abertos a elogiar, brincar e gozar com os colegas. Nos emails, por norma, usam mais pontos de exclamação, emojis e GIFs.
No entanto, e curiosamente, também estão disponíveis para expressar emoções negativas no trabalho. Descobrimos que também estão mais disponíveis para amaldiçoar, queixar-se e expressar sarcasmo com os colegas de equipa.
Porque é que expressar emoções negativas no trabalho produz um desempenho mais positivo? Porque a alternativa a expressar emoções negativas é suprimi-las e a supressão é cara do ponto de vista cognitivo. Envolve gastar recursos cognitivos valiosos para tentar esconder as emoções dos outros, deixando assim pouca força mental para executar o trabalho.
Estudos anteriores mostram que a autenticidade contribui para o bem-estar dos locais de trabalho e desempenho individual. De acordo com a nossa pesquisa, também melhora o rendimento.
Escusado será dizer, há alturas em que expressar emoções negativas no escritório não é útil ou apropriado. Aquilo que as nossas descobertas sugerem é que, se os elementos de uma equipa se sentem confortáveis psicologicamente a expressar as suas emoções, com os colegas, o desempenho da equipa tende a melhorar.
Finalmente, o nosso estudo sugere que criar uma equipa de alto desempenho é muito mais do que simplesmente contratar as pessoas certas e dotá-las das ferramentas certas para fazer o trabalho. É necessário criar oportunidades para o desenvolvimento de relações genuínas e autênticas.
Promover relações próximas entre colegas de equipa não precisa de ser caro ou demorado. Ao incorporar práticas simples, baseadas em evidências que possam promover uma melhor comunicação, reuniões mais produtivas e relações de amizade mais profundas, todos os locais de trabalho conseguem motivar a necessidade psicológica básica da afinidade e melhorar o desempenho da equipa.
Texto adaptado do artigo da autoria de Ron Friedman, na edição da revista da HBR da edição de outubro de 2021, disponível em https://bit.ly/30ngUS3.