
Ter a confiança dos colegas é a chave para o sucesso em qualquer local de trabalho. Sem isso, os seus colegas podem estar hesitantes em apoiar as suas ideias ou em o apoiar a si. A confiança, ou falta dela, pode ser a diferença entre alcançar os seus objetivos ou não os cumprir.
Quando eu era analista na CIA (Central Intelligence Agency), eu fazia estudos analíticos para o Presidente dos Estados Unidos e para outros responsáveis políticos. Trabalhei diretamente com os meus colegas na Direção de Operações onde reunia com ativos de inteligência e reunia informação de interesse para os Estados Unidos, uma função para a qual a confiança era fulcral. Quando saí da CIA e abracei uma nova carreira numa empresa de tecnologia, percebi imediatamente o quão instrumental seriam as minhas capacidades adquiridas ao longo dos tempos que trabalhei na CIA, particularmente a minha capacidade para construir a confiança. Como mulher a trabalhar num mundo da Segurança dominado por homens, foram muitas as vezes que vivi o ceticismo em relação à minha pessoa. Também não ajudava o facto de ter tido uma carreira sobre a qual pouco podia partilhar. Depois de uma série de reuniões, onde não ganhei muito apoio para as minhas ideias, percebi que deveria mudar o meu foco. Antes de conseguir alcançar o meu objetivo, tinha de conseguir estabelecer uma relação com os outros para ganhar a sua confiança e respeito.
Para conseguir isto, apoiei-me numa técnica que aprendi na CIA denominada Tu Eu, O mesmo. Alguns oficiais interpretaram esta técnica como uma forma de fingir o interesse num tópico sobre o qual a sua inteligência estava interessada. No entanto, os oficiais de operações mais bem-sucedidos procuraram encontrar um terreno comum genuíno sendo eles próprios multifacetados. Vamos examinar algumas das técnicas que os agentes da CIA utilizam para se relacionar, genuinamente e construir confiança com os seus colegas.
Encontre uma forma de se relacionar bem.
De modo a ter algo que o ligue aos outros, tem de ter os seus próprios interesses e passatempos. Há algo que sempre pensou em aprender? Há um sem número de oportunidades de adquirir competências novas, com pessoas de todo o mundo sem ter de sair de casa. Pode viver uma experiência de degustação de vinhos, em casa, com um reconhecido escanção através do Masterclass, pode aprender a tricotar com o TikTok, ou reunir-se com amantes de livros através de um clube livreiro virtual.
Já tem um passatempo, que acabou por deixar, devido à azáfama do dia-a-dia? Ter tempo para os nossos interesses fora do trabalho pode ser difícil quando estamos assoberbados com as nossas carreiras e responsabilidades caseiras. Talvez seja boa ideia bloquear na agenda um horário para este passatempo. Lembre-se de que não precisa de ser um perito em tudo o que faz. Ter experiência, mesmo que pouca, numa ampla variedade de coisas pode ser o suficiente para se relacionar e reunir com os outros.
Não finja ser o que não é.
Do mesmo modo, que as tentativas dos oficiais de operações da CIA de se conectarem a alguém com falsos interesses, falha, também falham as tentativas de construção de confiança se não for autêntico. Tente encontrar um ponto comum genuíno. Se não consegue encontrar um meio de se conectar com alguém, pense em aprender mais sobre um dos seus interesses, mas só se for algo que realmente quer aprender. Digamos que o seu novo colega é um perito em vinhos. Em vez de ir a correr comprar todos os livros sobre vinhos, ou inscrever-se num curso, para dar a ideia de que também sabe, que tal mostrar interesse em saber mais. Pôr-se no lugar do aluno e deixar o outro no lugar do professor pode ser uma forma mais genuína de aprender.
Saiba ouvir.
Quando está a tentar criar um bom relacionamento com alguém, pense que a maioria das pessoas, gosta de falar sobre si próprias e dos seus interesses. Também deve falar de si, e deve fazê-lo para que haja partilha, mas deve fazê-lo de modo que mantenha a conversa acesa e mantenha a intenção de partilha. Se sabe que é, naturalmente, uma pessoa conversadora, que gosta de estar na ribalta, não se esqueça de dar a palavra aos outros. Partilhar algo em comum é importante para estabelecer uma relação, mas por vezes também é importante ser o ouvinte. Por exemplo, se alguém está entusiasmado a contar as férias mais recentes, e por acaso é um dos destinos que já esteve muitas vezes, resista à vontade de dominar a conversa com histórias sobre as suas viagens. Se perguntarem se já lá esteve, deve dizer a verdade, mas diplomaticamente passe a bola para o adversário, pergunte o que gostaram mais de fazer, onde é que ficaram, se voltariam àquele destino. Dependendo das respostas, pode até encontrar formas de partilhar a sua experiência.
Dar para receber.
Para fazer com que as pessoas falem, por vezes devemos partilhar alguma informação sobre nós próprios para que se sintam confortáveis e partilhem algo sobre si próprios. Esta é uma das técnicas utilizadas no treino de oficiais da CIA, para os ajudar a estabelecer relações clandestinas com alvos importantes. Isto pode ser importante na área dos negócios. Se há informação concreta que espera que alguém lhe confidencie, oriente a conversa para um momento de partilha semelhante na sua vida, que idealmente irá impulsionar a partilha do tópico que lhe interessa. Por exemplo, se espera que um colega lhe fale de uma situação mais tensa no local de trabalho, pode optar por partilhar algo que tenha vivido, recentemente, que esteja muito próximo do assunto. Quer esteja a tentar estabelecer um compromisso num negócio, ou simplesmente a tentar “quebrar o gelo” com um colega, dar para receber pode ser uma forma simples de encorajar o outro a abrir-se, levando ao nascimento de uma relação de confiança.
Tome notas.
Tal como os oficiais da CIA tiravam notas nas reuniões, procure registar aquilo que ficou a saber sobre a pessoa que acabou de encontrar, para que da próxima vez saiba dar continuidade à conversa. Não estou a dizer, para registar informação confidencial sobre alguém, mas sim, pequenos detalhes sobre a vida que poderá não se lembrar porque anda muito ocupado. Assim, se um colega lhe diz que anda a treinar para a maratona, anote isso, pois da próxima vez que o vir pode-lhe perguntar como é que está a correr o treino. Se partilharem consigo o nome dos filhos, anote isso também. As pessoas sentem-se especiais quando nos lembramos de pequenos detalhes que nos contaram, e ainda mais quando mostramos interesse.
Texto adaptado do artigo da autoria de Christina Hillsberg na edição da revista da HBR da edição de setembro de 2021, disponível em https://bit.ly/3oOQ52S.