Como apresentar para um público mais experiente

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Artigo traduzido e adaptado de “How to Present to an Audience That Knows More Than You

Já tinha cinco anos de experiência em formação de líderes quando fui convidado para um workshop numa conferência internacional sobre “Competências formativas para chefias de recursos humanos”. À medida que a sala se enchia, identifiquei alguns colegas com mais de uma década de experiência profissional em formação. Surgiram-me dúvidas: Por que estão aqui? O que esperam aprender? O que querem ouvir de mim? 

 

Esperava que os participantes fossem profissionais experientes em recursos humanos, mas não na minha área de influência: formação. Fui apanhado de surpresa. Não deveria eu ser o perito na área? E se questionassem a minha credibilidade ou autoridade perante os colegas? E se dissesse algo errado e fosse envergonhado em público? E se simplesmente saíssem a meio da apresentação por não encontrarem valor nela? 

 

Foi então que percebi que tinha uma escolha: ficar intimidado por estes profissionais experientes ou usar o conhecimento profundo e diverso em prol da aprendizagem do grupo, gerindo o meu ego. 

 

Optei pela última. A apresentação permitiu-me partilhar o meu conhecimento e também aprender com aqueles mais experientes. Um profissional júnior dos recursos humanos questionou sobre a recomendação de apoio adicional de um programa EAP durante a formação. Respondi: “Esta é uma área na qual ainda estou a aprender. Há alguém na sala que gostaria de partilhar a sua experiência e dar algumas recomendações?” E, de facto, alguém o fez. 

 

A apresentação foi interessante, bem recebida e, em última análise, um sucesso. Provavelmente, porque eu não era o único perito na sala. De facto, após vários anos, ainda mantenho contacto com alguns dos participantes dessa sessão. Já não me sinto intimidado ao fazer apresentações para audiências com participantes mais conhecedores e experientes do que eu. Apesar de, como orador, saber que devo dominar o tema, reconheço que não é obrigatório saber tudo, e nunca foi. 

 

E isto aplica-se também a si. 

 

Idealmente, deveríamos saber, ou pelo menos perguntar antecipadamente, se estarão presentes profissionais com vasta experiência. Porém, por vezes, podemos ser surpreendidos e precisamos adaptar-nos. 

 

3 formas de fazer apresentações mais credíveis perante peritos na matéria 

Aqui ficam três formas de se sentir mais confortável em apresentações onde estão presentes profissionais que podem saber mais do que nós sobre o tópico que vamos abordar:  

 

1. Escolha a autoafirmação em detrimento da dúvida. 

No momento em que me apercebi da presença de outros formadores mais experientes na sala, percebi que a minha identidade estava ameaçada. Entendi a sua presença como a de “verdadeiros peritos”, diminuindo o meu papel, posição e autoridade. 

 

Estudos indicam que estamos preparados para combater ameaças à nossa identidade e que dispomos de uma vasta gama de adaptações psicológicas que nos ajudam a proteger a nossa auto-integridade em resposta a essas ameaças. Muitas dessas adaptações podem interferir com as nossas relações e com a nossa capacidade de aprender com essas experiências. 

 

Eu sabia que se deixasse que a ameaça me influenciasse, seria catastrófico, contrariando as características de um orador confiante e envolvente. Por isso, decidi optar por uma via de autoafirmação. A teoria da autoafirmação demonstra que conseguimos responder a ameaças no ambiente profissional e na vida pessoal, se evidenciarmos a nossa qualidade em outros domínios, incluindo as nossas competências e valores. 

 

Disse a mim mesmo: “Pode ser que eu não seja o maior perito sobre este assunto nesta sala, mas sou especialista em comunicar. Utilizando as minhas competências auditivas e uma abordagem envolvente, posso criar um ambiente no qual os participantes sintam que este foi um grande momento de aprendizagem.” 

 

Quando percebemos que estamos a sentir uma ameaça à nossa identidade de peritos, devemos pensar num domínio diferente, no âmbito profissional ou pessoal, onde somos os melhores ou onde as nossas características ou valores nos deixam orgulhosos e valiosos. Pode não ser o único perito neste assunto, mas é um líder exigente em outros tópicos, e é generoso, humano e criativo. 

 

(Só para ficar registado, quando tudo falha, lembro-me sempre que o meu pit bull me adora mais do que tudo.) 

 

2. Seja intelectualmente humilde sem enfraquecer a sua credibilidade

 

Vamos partir do princípio de que acontecem duas coisas nesta situação: Primeiro, pode dizer algo que está incorreto, incompleto ou inadequado e ser chamado à atenção por isso. Em segundo lugar, pode mostrar alguma humildade ao errar, sem que isso comprometa a sua credibilidade. 

 

Num teste de autoestima, mais de 4.700 participantes identificaram-se como tendo vontade ou não de assumir os erros. Aqueles que estavam mais dispostos a admitir os erros conseguiam: 

 

  • Acreditar que falar sobre os seus erros os deixava mais vulneráveis à rejeição ou ao escárnio por parte de outros. 
  • Sentir-se mal quando os outros apontam os erros. 
  • Acreditar que vão perder o respeito dos outros ao admitir que cometeram erros. 
  • Considerar-se um fracasso. 
  • Sentir medo da rejeição. 
  • Ter uma atitude de retaliação, referindo-se aos erros dos outros. 

 

Se se consegue identificar com isto, então pode estar a querer substituir o medo de cometer uma gafe por uma humildade intelectual. Isso inclui respeitar os pontos de vista dos outros, não ser demasiado confiante, separar o ego do intelecto e estar disponível para rever o seu próprio ponto de vista, principalmente quando há novas informações. 

 

Isto não é fácil. De acordo com os estudos, estamos menos dispostos a exibir humildade intelectual quando o risco é maior, como numa grande apresentação. Porém, os benefícios associados à humildade intelectual estão relacionados com fatores que contribuem para a credibilidade profissional e pessoal. 

 

Como assim? Como a empatia, gratidão, melhores relações interpessoais, mais inteligência emocional, maior satisfação por parte dos seguidores, tomada de decisões mais informada, melhor aquisição de conhecimento. A vontade de assumir os erros está positivamente correlacionada com ser reconhecido, confiável e ser um exemplo. 

 

Esteja preparado para dizer: 

 

“Eu percebi isso erradamente. Vou tentar atualizar a minha pesquisa.” 

“Eu não sabia disso. Muito obrigado por nos dizer.” 

“Isso é novo para mim. Estou muito grato.” 

“Partilharam uma perspetiva que não tínhamos considerado.” 

“Eu gostaria de o acompanhar, para que possa aprender mais.” 

 

3. Reconheça e convide os peritos e a experiência – sem que os deixe tomar conta da situação 

 

Quando iniciei a minha apresentação, apresentei-me e anunciei que tínhamos a sorte de contar com alguns dos melhores formadores entre nós, de quem poderíamos aprender muito. Pedi-lhes que levantassem a mão, permitindo que os outros participantes soubessem quem eram, para que eu também pudesse identificá-los e para que se sentissem reconhecidos e respeitados. Isso marcou o ambiente da sessão, deixando claro que eu não pretendia ser a estrela do evento; ficou evidente que eu também estava ali para aprender com o conhecimento e a experiência dos outros. 

 

Pode dizer algo como, “Nesta sala, estão presentes várias pessoas com vasta experiência nesta área. Eu sei que todos podemos aprender com eles.” E, depois, se perceber que eles estão dispostos a se identificar, peça-lhes para levantar a mão. 

 

Durante a apresentação, pode envolver os seus colegas ao solicitar: 

 

  • Uma perspetiva adicional: “Esta é a forma como vejo as coisas, e estou curioso para saber se algum dos meus colegas mais experientes tem uma perspetiva diferente. Alguma ideia?” 
  • Partilhar estudos de caso e exemplos: “A minha experiência é esta. Alguém com experiência nesta área gostaria de partilhar uma experiência pessoal?” 
  • Responder a questões para as quais não tem resposta: “Não tenho resposta para essa pergunta, mas imagino que algum dos meus colegas possa ter. Alguém gostaria de responder?” 

 

Apesar de ser benéfico ter profissionais experientes na audiência, podemos complementar ou acrescentar o nosso conhecimento, não se esqueça a quem se dirige a apresentação. As expetativas e objetivos da sua audiência não devem ser sacrificados só porque pode elevar o nível da conversa na sala. A minha sessão dirigia-se a profissionais de recursos humanos, que não tinham experiência na área de coaching. Embora, alguns dos participantes pudessem estar aptos para debater práticas avançadas de coaching, não era o mais adequado para este grupo.  

 

Eu disse, “Embora, estejam disponíveis várias abordagens de coaching que os mais experientes possam utilizar, na sessão de hoje, vamos manter o alinhamento e ensinar práticas de coaching mais elementares.” 

 

Pode dizer algo assim para lembrar as pessoas do objetivo da sessão e aquilo que está a planear discutir. E se um perito decidir sair? Então significa que eles tomaram uma decisão estratégica e decidiram fazer algo de diferente com o tempo deles. (Não é nada pessoal). 

 

Uma advertência: Se descobrir que a sua audiência está repleta de profissionais com mais conhecimento e experiência, pode querer dar a volta ao momento. É possível que o seu tópico original seja útil, mas também é possível que não seja. Em vez de ficar preso a uma ordem de trabalhos, que pode não interessar aos participantes, pode dizer algo como, “Embora tenha pensado falar sobre o tópico X, gostaria de saber se esse tema ainda é relevante para este grupo. Será que pode levantar a mão quem ainda estiver interessado em ouvir sobre este tema.” Se tiver o acordo da maioria, mantenha o plano, reconhecendo a diversidade de experiências (e convite os outros para dar um contributo à conversa). Caso não mantenha o registo planeado, então reúna uma série de ideias e tópicos a ser tratados e seja transparente quanto ao seu grau de proficiência no assunto. Diga algo do género, “Parece que a maioria quer falar sobre Y. Não sou perito no assunto Y, mas estou muito feliz em orientar a conversa, desde que estejam dispostos a partilhar a vossa experiência e conhecimento.” 

 

E depois, mude o seu papel. Deixou de ser o principal perito no assunto, passou a ser o facilitador – o que se pode transformar numa promoção profissional.  

 

Um último aspeto: a sua audiência pode saber mais sobre o assunto do que pensa, mas não sabem tudo sobre todos os assuntos. Lembre-se que tem imenso conhecimento, experiência, e competências e o seu tempo para brilhar está a chegar.  

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