Conectar-se com os outros fazparte da natureza humana. Pesquisas recentes revelam que o poder dos laços podeajudar os colaboradores a serem mais criativos, resilientes e, até mesmo, aviverem mais tempo. Mas podemos facilmente ignorar a importância destasligações. Adam Grant, um popular escritor e investigador, notou que a pressãodos prazos e o uso da tecnologia faz com que poucas pessoas façam amizades nolocal de trabalho. De facto, muitos de nós facilmente se desconectam daspessoas com quem trabalhamos: devido ao stress e às experiências de falta decivismo no emprego.
Como podemos criar laços notrabalho com atmosferas hostis? É preciso ter mais empatia.
A compaixão é definida numaexperiência de quatro partes: perceber a angústia ou a dor de alguém, interpretá-lacomo relevante ou importante, sentir preocupação com essa pessoa ou grupo eagir para aliviar a sua dor. Como é explicado no livro, ‘Awakening Compassion at Work’, os atos de compaixão podem sergrandes e coordenados em grupo ou pequenos e pessoais.
Vejamos o exemplo de Patty, queestava preocupada por voltar ao trabalho depois da morte do seu marido. O quemais temia era chegar e encontrar uma mesa vazia. Nos últimos 15 anos, o maridode Patty encomendava, a cada segunda-feira, ao início da manhã, flores, queagraciavam a sua secretária.
Com esforço e determinação, Pattyentrou no escritório. Depois de cumprimentar algumas pessoas, deslocou-se emdireção à sua secretária, avistou um colorido ramo de flores e esforçou-se paraconter as lágrimas, ao ler uma nota dos seus colegas de trabalho. Estes tambémnão queriam que ela voltasse e se deparasse com uma secretária vazia. Preocupavam-setanto com ela que recolheram fundos no escritório e uniram esforços para quetodas as segundas-feiras, um novo ramo de flores fosse entregue na suasecretária, durante um ano.
Compaixão, quer seja um gestocoordenado ou individual, aumenta o bem-estar no trabalho – não apenas paraPatty, mas também para os colegas e para todas as pessoas que viram estaresposta humana a concretizar-se. Ser empático muda a forma como vemos evalorizamos as pessoas que fazem parte do nosso mundo de trabalho. Muda comonos vemos e ajuda-nos a ver a nossa organização mais humanizada.
Destacam-se então quatro formas atravésdas quais as pessoas podem ter mais compaixão no trabalho:
Treinar a capacidade para percebero sofrimento alheio
Os sinais de sofrimento notrabalho são, muitas vezes, subtis. As normas de trabalho determinam que não é profissionalexpressar muita emoção, tornando difícil ver a dor. Reparar nos padrões doscolegas torna-nos física e psicologicamente mais disponíveis, fazendo-nosperceber melhor o que está a acontecer.
Alex notou que o seu colega detrabalho, Ming-Jer, não estava a divertir-se na festa de Natal. Apesar de não oconhecer muito bem, Alex ficou preocupado e começou por perguntar: “Como estásMing-Jer?”. Com a conversa, acabou por descobrir que o colega estava a lutarcontra uma doença crónica que estava a destruir as suas finanças e os seusrelacionamentos. Os dois tornaram-se próximos desde aquele momento.
Aperfeiçoar a capacidade de questionar
As normas sobre como manter avida pessoal e profissional separadas podem dificultar as perguntas pessoais.Organizações como a Accenture e a EY estão agora a oferecer programas de treinoque promovem a compaixão. Perguntar “Estás bem?” é um exemplo. Este tipo deperguntas, feita de forma genuína, num tempo e espaço confortáveis, podem aumentara sensação de segurança e abrir espaço para a compaixão. Foi o que aconteceucom Alex e Ming-Jer.
Se perguntar diretamente à pessoaé demasiado difícil, recorra a alguém com quem tenha uma relação mais próxima ecompartilhe as suas preocupações. Numa das organizações estudadas, uma colaboradoratinha sido vítima de violência doméstica, e vários dos seus colegas sentiramque não era apropriado falar diretamente com ela sobre isso. Em vez disso, partilharamas suas preocupações com os seus amigos no trabalho, que lhe transmitiram amensagem. Esses intermediários também se tornaram coordenadores, organizandouma recolha de donativos e entregas de refeições. Pedir aos intermediáriosatualizações tornou-se um meio eficaz para que muitas pessoas participassem nacriação de compaixão no trabalho, durante uma situação difícil e sensível.
Sintonizar os sentimentos de preocupação
A deteção e compreensão daangústia de outra pessoa é, muitas vezes, acompanhada por um sentimento ao qualos investigadores chamam de ‘preocupação empática’ – o desejo de que a outrapessoa esteja bem. Este tipo de emoção surge mais facilmente quando sabemos quetemos algo em comum.
Quando foi estudado um grupo de jovens estudantes que perdeu tudo num incêndio,e a forma como a sua universidade se organizou para dar uma resposta, osinvestigadores descobriram que um membro da faculdade também tinha sobrevividoa um incêndio, tornando-se um elemento muito importante neste processo. A suaexperiência ajudou-o a distribuir recursos, como fundos de emergência, roupasnovas, computadores e até habitação.
Mas, ter experiência não é a única forma de encontrar algo em comum. Umestudante, que nunca esteve envolvido num incêndio, conseguiu sintonizar a suaprópria empatia e preocupação profunda com os seus colegas de turma: usou amotivação que decorreu desses sentimentos para facilitar a coordenação delivros e notas das aulas, permitindo a substituição completa dos materiais deestudo de cada aluno.
Dar espaço à criatividade com ações de compaixão
As normas sociais, muitas vezes, fornecemuma espécie de guião a seguir quando nos encontramos em situações de dor ousofrimento: oferecer as condolências, perguntar se há algo que se pode fazerpara ajudar, enviar um cartão… Embora estas ações possam ser úteis, muitasvezes não são significativas para o recetor.
Numa organização sem finslucrativos, estudada pelos investigadores, o sobrinho de um dos executivos foimorto num trágico acidente, antes de uma importante reunião do conselho. Em vezde uma resposta baseada em scripts,os colegas fizeram um brainstorming sobreas várias formas de agir: dispensá-lo de participar na reunião do conselho,assumir as suas tarefas urgentes para que ele não tivesse que se concentrarnelas, transferir-lhe dias de férias, escrever um poema para enviar à família eorganizar uma homenagem.
Muitas pessoaspensam em compaixão e conexão como um plusnuma organização. Mas, se as pessoas sentirem que fazem parte da empresa e, realmente,se preocuparem uns com os outros, certamente serão mais criativas, resilientese proativas. É tentador ignorar a angústia e a dor, e fingir que não há lugar paraisso no escritório. Mas a experiência humana da dor vai aparecer, quer seespere ou não, e a única maneira de responder é com compaixão.
Textoadaptado do artigo da autoria de Monica C. Worline, Jane E. Dutton e Ashley E.Hardin, publicado a 6 de outubro de 2017 em: https://goo.gl/cNH4hC.