Traduzido e adaptado de Zhanna Lyubykh e Duygu Biricik Gulseren.
Para a maioria das pessoas, ser produtivo significa passar muitas horas a trabalhar. Parece muito intuitivo, que quantas mais horas passamos a trabalhar, mais conseguimos fazer. Surpreendentemente, a literatura abunda em conselhos em como maximizar o tempo em que estamos a trabalhar. Por exemplo, as rotinas diárias dos CEOs, incluem, na maioria, acordar às 4 da manhã, trabalhar ao fim-de-semana e ter uma estratégia quanto à regularidade com que se usa a casa de banho. De modo a lidar com a crescente carga de trabalho, muitos trabalhadores optam por trabalhar horas seguidas, saltar refeições e trabalhar horas extra.
Mas o custo de estar sempre a trabalhar (e trabalhar bem) é elevado. Num estudo recente da Aflac, mais de metade dos trabalhadores acusa o burnout. O comprometimento seguiu o caminho oposto e está a diminuir nos trabalhadores americanos. É preocupante, pois elevadas taxas de burnout e baixas taxas de comprometimento estão associadas a um desempenho mais fraco. O que é que se pode fazer para resolver este declínio do bem-estar e manter o desempenho?
Fazer pausas enquanto se trabalha, em vez de trabalhar horas seguidas, pode ajudar. Intrigados por duas histórias bem competitivas, uma mais focada no trabalho como um indicador de desempenho e a outra mais orientada em manter o bem-estar, a nossa equipa resolveu levar a cabo uma revisão sistemática sobre as pausas no local de trabalho. Os resultados individuais destes estudos são situações mistas (e por vezes contraditórias). Ao analisar mais de 80 estudos (com os nossos colegas Zahra Premji, Timothy Wingate, Connie Deng, Lisa Bélanger, e Nick Turner) confirmamos que fazer pausas ao longo de um dia de trabalho pode melhorar o nível de bem-estar e ajuda a fazer o trabalho. Contrariando a ideia popular de trabalhar longas horas, a nossa pesquisa sugere que fazer pausas durante o horário de trabalho, não só não prejudica o desempenho profissional como permite melhorias visíveis.
Porque é que as pausas são tão benéficas para o bem-estar e para o desempenho profissional?
Tal como as baterias necessitam de ser recarregadas, também nós temos um limite físico e psicológico. Quando as nossas baterias estão em baixo, sentimo-nos esgotados, exaustos e ansiosos.
Forçar o trabalho quando nos sentimos com pouca energia, sobrecarrega o bem-estar e o desempenho profissional. Em casos extremos, trabalhar sem parar pode levar a uma espiral negativa: o trabalhador procura terminar as suas tarefas, apesar do seu estado de esgotamento, e não consegue realizar as tarefas corretamente e sem erros, do que vai resultar mais trabalho e menos recursos para lidar com essas mesmas tarefas. Isto significa que quanto mais trabalhamos, menos produtivos e mais exaustos vamos ficar. É como ler pela quinta vez a mesma linha e mesmo assim não compreender o que lá está escrito.
A boa noticia é que fazer pausas ajuda os colaboradores a recarregar e diminui a espiral de exaustão e a reduzida produtividade. No entanto, nem todas as pausas têm o mesmo efeito.
Quais as melhores pausas para melhorar o bem-estar e o desempenho?
As pausas assumem diferentes formas e feitios: praticar exercício físico, ver as redes sociais, fazer uma pequena caminhada, socializar, fazer uma sesta, parar para almoçar, e por aí fora. Porém, a revisão da literatura mostra que nem todas as pausas são igualmente eficazes. Ou seja, é importante ver a forma como se faz a pausa. Deixamos aqui alguns elementos a ter em conta quando se faz uma pausa:
Duração e tempo de pausa
Uma pausa mais longa não significa, necessariamente, uma pausa melhor. Desligar do trabalho, regularmente, nem que seja por uns minutinhos (micro pausas) pode ser suficiente para prevenir a exaustão e melhorar o desempenho. Por exemplo, os trabalhadores podem fazer pequenas pausas para comer um snack, alongar, ou simplesmente olhar pela janela. Para além disso, a altura em que se faz a pausa também importa. As pausas mais pequenas são mais eficazes de manhã, enquanto as pausas maiores são mais benéficas durante a tarde. Isto porque o cansaço aumenta com o decorrer do dia, e por isso precisamos de mais tempo, durante a tarde, para recuperar.
Onde fazer as pausas
O local onde as pausas acontecem, pode influenciar bastante em termos de recuperação. Fazer alongamentos, ou uma breve caminhada, podem parecer iguais, mas a recuperação que cada uma oferece pode ser bem diferente. A nossa revisão da literatura revela que fazer uma pausa num espaço exterior e apreciar espaços verdes é bem melhor em termos de recuperação, do que simplesmente ficar sentado junto à secretária.
Interromper a atividade
Realizar uma atividade física durante uma pausa pode ser muito eficaz para melhorar o bem-estar e o desempenho. A prática de exercício físico é uma ferramenta muito valiosa para os trabalhos mais exigentes do ponto de vista mental. Porém, os efeitos positivos deste tipo de pausas são breves, e os colaboradores devem fazer exercício numa base diária para de facto sentirem os benefícios.
Apesar dos benefícios, a prática de exercício físico não é a preferida dos funcionários para as pausas. A nossa revisão da literatura mostra que andar pelas redes sociais é a pausa mais comum, quase toda a gente (97%) afirma ver as redes sociais durante as pausas. Porém, os estudos mostram que ver as redes sociais durante as pausas pode levar à exaustão emocional. Como resultado, as pessoas acabam por sentir menos criatividade e comprometimento com o trabalho, em vez de se sentirem cheias de energia. Deste modo, este tipo de pausa pode não ser o mais indicado para melhorar o desempenho.
Companheiros de pausas peludos
Um dos estudos da nossa revisão, mostrou que as interações com cães podem diminuir os níveis de cortisol, um indicador de stress. É necessária mais investigação nesta área, pois os efeitos no desempenho ainda não são claros. Porém, nós suspeitamos que passar tempo com um animal é eficaz para muitos funcionários. De acordo com alguns estudos, a companhia de animais pode melhorar o bem-estar físico e psicológico dos indivíduos, o que por sua vez está intimamente relacionado com o desempenho.
O que é que as chefias e as organizações podem fazer para potenciar as pausas?
A simples disponibilidade para as pausas não garante benefícios. Os trabalhadores podem não utilizar as pausas da forma mais eficaz, ou podem nem sequer utilizá-las. As chefias, com capacidade de decisão e no papel de modelos, desempenham um papel importante para incentivar pausas eficazes. Isto pode ser alcançado das seguintes formas:
Promover atitudes positivas face às pausas
Enquanto os funcionários têm uma atitude positiva perante uma pausa e mostram os benefícios das pausas no desempenho profissional, este sentimento nem sempre é partilhado pelas chefias. Isto pode impedir as pessoas de recarregar energias. Porém, é fundamental que as chefias conheçam os benefícios associados à melhoria do desempenho quando se verifica a existência de pausas. Por exemplo, os chefes de recursos humanos podem integrar esta informação nos programas de bem-estar das organizações. As empresas podem considerar implementar “momentos de bem-estar” (semelhante a momentos de segurança) durante os quais podem partilhar estratégias para potenciar as pausas e pensar em atividades divertidas. O simples facto de se colocarem posters, no local de trabalho, sobre os benefícios e as melhores práticas para as pausas pode significar muito.
Fazer pausas para si mesmos
As chefias devem comunicar a importância de fazer pausas, fazendo também pausas regularmente, de tal modo que os colaboradores possam imitar. Se uma chefia leva, regularmente, o seu cão a passear num parque próximo, passa a imagem de que se vai ausentar do trabalho para o fazer. Esta estratégia, não só dá um exemplo positivo, como também estabelece fronteiras sobre não interromper as pausas. Dar o exemplo, pode ajudar a prevenir o estigma e a culpa associada a fazer uma pausa. É animador perceber que cada vez há mais chefias que reconhecem tudo isto e ainda se arrependem de não parar de trabalhar por mais tempo.
Definir horários para as pausas
Os nossos estudos mostram que muitos colaboradores não fazem pausas regulares, ou são dissuadidos a fazê-lo devida ao estigma. Porém, recomendamos que as organizações e as chefias definam os horários das pausas. Esses horários devem ser implementados com cuidado. Horários rígidos para as pausas, tais como obrigar os funcionários a parar de trabalhar em horários rígidos e com duração fixa, reduz a autonomia do colaborador e pode implicar efeitos negativos para o funcionário. Por isso, recomendamos oferecer períodos de pausa de certa duração, por exemplo, uma hora por dia e a possibilidade de sair quando e quantas vezes quiserem. Permitir horários de trabalho flexíveis, iniciativas criativas para os momentos de pausas, como os bilhetes de pausa (por exemplo, oferecer bilhetes que permitam ao funcionário sair durante uma hora do seu local de trabalho), ou proporcionar, no local de trabalho, algum tipo de atividade social ou física, são exemplos de atividades para preencher os tempos de pausa.
Criação de espaços para as pausas
Tal como já mencionado, o local onde as pausas acontecem podem ser importantes para maximizar os benefícios da pausa. Por exemplo, ter um pequeno parque, ou um espaço verde interior pode demonstrar o empenho da empresa em facilitar as pausas no trabalho e melhorar os benefícios das pausas no desempenho dos funcionários. Para obter mais benefícios das pausas ao ar livre, pode transformar esse espaço num parque para animais sem trela, para aqueles funcionários que gostam de interagir com animais. Esta pode ser uma variável de recrutamento, uma vez que cada vez é a maior a exigência de locais de trabalho amigos dos animais, e muitas empresas já adotaram políticas de proteção de animais de estimação.
As empresas com funcionários a trabalhar a partir de casa, podem disponibilizar os espaços disponíveis ao permitir reuniões online a partir de um parque da conveniência do trabalhador que está em casa. Como alternativa, podem alocar um “orçamento de intervalo” para que os funcionários criem o seu próprio espaço para as pausas. Por exemplo, os funcionários podem adquirir uma planta de interior ou um colchão de ioga.
O desempenho profissional dos colaboradores foi sempre uma preocupação para as empresas, e cada vez mais as empresas se esforçam no sentido de permitir o bem-estar dos funcionários. As pausas no trabalho são ferramentas importantes para alcançar o bem-estar. As empresas devem reconhecer a importância das pausas e envolver-se em esforços para facilitar pausas eficazes.