De que forma é que o Mindfulness pode ajudar os Engenheiros a resolver problemas

O trabalho de engenharia exige criatividade einovação de forma a resolver problemas complexos e interdisciplinares. Mas acriatividade e a inovação não são skills muito trabalhadas nos cursos deengenharia. Por isso, os engenheiros entram no mundo do trabalho com umaexcelente capacidade analítica, porém, lutam bastante para pensar fora dacaixa, principalmente no que diz respeito a resolver problemas de formacriativa. A nossa pesquisa mostra como o mindfulness pode ajudar osengenheiros a reforçar a sua capacidade de gerar ideias, levando a novas formasde pensar e arranjar soluções.

Aimportância do pensamento divergente

No típico local de trabalho, aos engenheiros é-lhespedido que desenhem dispositivos, sistemas ou processos, que podem estarminados por objetivos diferentes e múltiplas soluções. De uma maneira geral, oprocesso para abordar estas tarefas é designado de processo de desenho deengenharia. A equipa de engenheiros recebe um problema ou identifica umproblema, define o âmbito do problema, gera ideias para soluções, avalia essasideias e propõe uma solução. Através deste processo, os engenheiros envolvem-senum pensamento convergente e divergente.

O pensamento convergente é linear, e envolve passarpor um conjunto de passos para chegar a uma única resposta correta. Pelocontrário, o pensamento divergente implica explorar diferentes direções para umproblema e gerar muitas possibilidades. No processo de conceção, os engenheirosseguem o pensamento divergente quando produzem ideias, pois assim conseguemidentificar um sem número de possíveis soluções. Utilizam o pensamentoconvergente quando avaliam as ideias para chegar à solução ideal.

Os dois tipos de pensamento são importantes paraencontrar a melhor solução final, mas o pensamento divergente é particularmenteimportante para desenvolver soluções inovadoras. Contudo, as competências parao pensamento divergente são desconsideradas nos cursos de engenharia, quetendem a focar-se na progressão linear de informações técnicas restritas efocadas na disciplina. Esta leva a que os estudantes de engenharia se tornemperitos em trabalhar individualmente e aplicar uma série de fórmulas e regraspara estruturarem problemas com a resposta correta.

Por isso não nos surpreende que os engenheiroslutem com o pensamento divergente quando ingressam no mundo do trabalho.Felizmente, são inúmeras as técnicas para promover o pensamento divergente,como por exemplo o brainstorming, needfinding (falar com aspessoas e perceber as suas necessidades), que dependem de um conjunto deatitudes simples. Durante uma sessão de brainstorming, por exemplo, aspessoas devem postergar um julgamento e ser curiosas. A Escola Stanford promovea ambiguidade ao estar presente no momento e sugere relaxar e alcançar o modode aceitação enquanto se estabelecem protótipos.

Estes elementos de presença e curiosidade são partefundamental da capacidade humana chamada mindfulness.

De que formaé que o mindfulness promove o pensamento divergente

O mindfulness é normalmente definido como acapacidade de prestar atenção com abertura, bondade e curiosidade. Embora ospsicólogos continuem a procurar os mecanismos pelos quais o mindfulness facilitao pensamento divergente, há evidências suficientes que mostram que há umarelação causal entre ser consciente e ser capaz de se envolver no pensamentodivergente.

Apesar de alguma pesquisa anterior sobre o mindfulnesse o pensamento divergente, se tenha focado na população geral, a nossa pesquisaprocurou explorar a relação entre o mindfulness, pensamento divergente einovação, especificamente entre estudantes de engenharia e recém-licenciados emengenharia.

Levamos a cabo dois estudos. No primeiro,observamos o impacto de 15 minutos de meditação numa atuação de pensamentodivergente num grupo de 92 estudantes na Universidade de Stanford. Estudosanteriores mostraram que uma simples meditação pode melhorar a formulação deideias nas populações estudantis.

Antes da experiência todos os estudantespreencheram um questionário para medir a base do mindfulness. Depois, os participantes foram divididos num grupo detratamento e num grupo de controlo e pediram-lhes para completar duastarefas de pensamento divergente: uma ideia genérica de formulação de tarefas,onde lhes foi pedido para pensarem nas possíveis utilizações dos tijolos; e umatarefa de design, na qual lhes foi pedido que listassem todos os fatorespossíveis na criação de uma parede de retenção de um rio para atuar em caso deinundação. No grupo de tratamento, os participantes eram guiados durante 15minutos de meditação antes de completar a tarefa. No grupo de controlo, osparticipantes viram um vídeo de 15 minutos sobre redução de stress antes decompletar a tarefa.

Nos dois grupos o mindfulness corelacionoucom o número e a originalidade das ideias dos participantes, na tarefa de formulaçãode ideias e no número de fatores considerados na elaboração de uma tarefa deengenharia. Os estudantes de engenharia que tinham uma base mais sólida de mindfulnesstiveram melhores resultados nas tarefas de pensamento divergente.

Enquanto que os resultados revelaram uma relaçãoclara entre mindfulness e melhoria dopensamento divergente, uma sessão de 15 minutos de mindfulness revelouuma mistura de resultados na prestação de pensamento divergente. A meditaçãomelhorou a originalidade das ideias na gestação de ideias, mas não teveimpacto, estatisticamente significativo, no número de ideias que os estudantesencontraram na formulação de ideias ou na tarefa de desenho de engenharia.

Os nossos resultados sugerem que uma sessão de 15minutos de mindfulness pode melhorar a originalidade das ideias, masprovavelmente não a sua quantidade. Estudos futuros poderiam beneficiar se incluíssemmais treino em mindfulness para além da sessão de 15 minutos, de forma adiscernir se a prática de mindfulness pode melhorar a quantidade deideias em detrimento da qualidade de ideias.

No segundo estudo, analisamos os resultados de umquestionário feito a 1400 estudantes de engenharia e recém-licenciados nosEstados Unidos, para observar a relação entre mindfulness e inovação.

Percebemos que o mindfulness prediziaa autoeficácia da inovação na nossa amostra de engenheiros. Interessante, foiuma componente do mindfulness denominado atitude de mindfulness,ser o preditor mais forte da autoeficácia na inovação. Apesar de muitos estudosfocarem a atenção do mindfulness, o nosso trabalho sugere que a componentemais importante é a atitude com a qual prestamos atenção, ou o facto de termosuma atitude aberta, curiosa e generosa.

Ter uma atitude curiosa e aberta é referida como amente de principiante – a capacidade de trazer ar fresco a um problema ecomprometer-se com novas perspetivas para resolver o problema. Ao estarmosabertos a experiências, estamos mais aptos a estabelecer relações entreconceitos que aparentemente não são relacionáveis, o que é fundamental para gerarideias novas e originais. Ter uma atitude generosa é um aspeto daautocompaixão, que protege contra o autocriticismo e o medo de errar, e inspiraas pessoas a correr riscos e explorar territórios virgens, levando a soluçõesnovas. O mindfulness apoia todas estas situações.

Estes estudos têm implicações importantes naeducação dos engenheiros e na mão de obra mais técnica. Apesar de osengenheiros necessitarem de competências de análise e julgamento, tambémnecessitam de cultivar uma atitude aberta, curiosa e generosa, de forma a nãose fixar numa abordagem mais especifica e assim ficam abertos a considerarnovos dados. Os estudos futuros poderiam fundamentar-se nesta promissora,embora preliminar descoberta e explorar as melhores práticas para reforçar o mindfulness em estudantes de engenhariae nos colaboradores.

Décadas de pesquisa mostram que o mindfulness pode ser melhorado com aprática. Como resultado, as maiores empresas da Fortune 100, como a Google,Cisco, P&G, Facebook já integram sessões de formação de mindfulnessno local de trabalho de forma a promover a criatividade, inovação, inteligênciaemocional e o bem-estar dos seus colaboradores. Ao adaptar estas estruturas àsempresas de engenharia, estas empresas estariam abertas a perceber de que formaé que o mindfulness poderá melhorar opensamento divergente, tão importante no processo de design, e de que forma éque uma atitude consciente de abertura, e não só atenção, pode ser um grandecatalisador de mentes inovadoras.

Textoadaptado do artigo da autoria de Beth Rieken, Shauna Shapiro, Shannon Gilmartine Sheri D. Sheppard, publicado a 04 janeiro de 2019 no website da HarvardBusiness Review (https://hbr.org/2019/01/how-mindfulness-can-help-engineers-solve-problems).

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