Traduzido e adaptado de Rob Cross e Karen Dilon
Há uns anos, entrevistamos uma executiva da área farmacêutica que parecia ter construído a vida ideal. Ela destacava-se no trabalho, a sua vida pessoal era rica e plena, ela tinha a possibilidade de tirar férias, para locais onde ela e o marido pudessem correr maratonas juntos. Na nossa entrevista ela estava feliz e a sua energia estava no máximo.
A história dela era fantástica, mas talvez não muito surpreendente. A nossa entrevista, fazia parte de uma pesquisa sobre o que é que os funcionários de topo fazem de diferente. Pensamos que ela teria tudo e poderia ser um estudo de caso. Mas afinal não sabíamos a história toda. Esta entrevista permitiu-nos encontrar algo que não estávamos à espera de encontrar. Algo grande.
Esta executiva nem sempre teve uma vida tão equilibrada. Na realidade, ela apenas se organizou quando o médico dela lhe fez um último aviso, e lhe disse que a vida que ela tinha estava a pôr em risco a sua saúde. Antes de ser esta profissional de alto desempenho que entrevistamos, esta mulher era uma sedentária dependente do trabalho, que não tinha sucesso, nem na sua vida pessoal, nem na vida profissional. Como é que alguém tão focado em objetivos poderia negligenciar o seu bem-estar? De repente, perguntamos-lhe o que é que a fez desviar do caminho. Por instantes, ela ficou perplexa.
“Foi a vida, penso eu.”
A resposta deixou-nos intrigados, por isso fomos ao encontro de outros profissionais de alto desempenho e perguntamos se as vidas deles também estavam fora do controlo ou se as vidas deles tinham seguido direções que não estavam definidas. No total, entrevistamos 300 pessoas de 30 empresas globais, entre 2019 e 2021. Esta amostra apresenta um equilíbrio entre a população feminina e masculina. Muitos destes trabalhadores de alto desempenho eram autênticos barris de pólvora cheios de stress, e para nossa surpresa, muitos deles nem se apercebiam disso. Gradualmente, no decorrer das entrevistas eles percebiam que estavam numa luta para manter o equilíbrio da vida pessoal e profissional. Para alguns, a nossa entrevista funcionou como um momento de inflexão, o primeiro momento em que reconheceram o mau estado da vida. Alguns desataram a chorar, lamentando-se e assumindo que não estavam a ver como manter a situação.
Depois de muitas décadas de pesquisa em colaboração, em particular os efeitos de colaboração ineficaz, ficamos familiarizados com o tipo de stress que os profissionais de alto desempenho enfrentam. Apesar de tudo, isto foi completamente diferente. Aquilo que ouvimos era sobre stress, sim, mas era um tipo de stress que ninguém conseguia descrever em palavras. Enquanto eles se atrapalhavam em descrever o stress, surgiam alguns padrões. Nunca se sentiram sobrecarregados por causa de uma coisa em grande. Na verdade, foi o acumular de pequenos eventos, que passaram despercebidos, que afetava o seu bem-estar.
A estas pequenas pressões, chamamos de micro-indutores de stress. O facto de serem micro, não quer dizer que não se transformem em algo grande. Neste artigo descrevemos a forma como entendemos os micro-indutores de stress, a sua origem, e o modo como o nosso corpo responde a este stress. Agrupamos em três categorias as fontes de micro-indutores de stress mais comuns, de modo a clarificar como é que surgem nas nossas vidas. Finalmente, explicamos como reverter a situação dos micro-indutores de stress para sentir que tem o controlo, fortalecer os relacionamentos, e melhorar o bem-estar geral.
Stress versus micro-indutores de stress
Os micro-indutores de stress são diferentes de todos os tipos de stress. Vamos perceber porquê:
O stress é grande, visível e óbvio. Quase todos reconhecemos o stress e até simpatizamos com aquilo que é o stress normal, pois resulta de desafios e contratempos, e normalmente há sempre um motivo que identificamos para o stress. A causa pode ser o chefe com humor inconstante, ou ter sobrevivido a várias rondas de despedimentos que eliminaram funções no seu departamento, ou a mudança de casa, ou o facto de ter de ajudar pais que são dependentes, ou simplesmente ter de aguentar duas horas de viagem para o trabalho.
Do lado oposto estão os micro-indutores de stress, menos óbvios. Este tipo de stress é causado por pequenos momentos que consideramos mais um obstáculo, e que às vezes nem ligamos. Os micro-indutores de stress surgem rapidamente, mas estamos tão focados em tentar resolver tudo, que nem nos apercebemos de que algo aconteceu. Parece ser fugaz, simples de lidar, ou pequeno demais para o vermos por mais de um segundo. E mesmo quando registamos esta ligeira pressão, nem sequer pensamos no impacto que tem nas nossas vidas. O que o torna mais difícil de identificar é que normalmente é desencadeado pelas pessoas que nos são mais próximas.
Por exemplo, pode ser causado pela necessidade de proteger um funcionário da equipa cujo trabalho não está a ser reconhecido como deve ser. Ou simplesmente porque tem de terminar um projeto conjunto e os seus colegas de equipa não cumprem a parte deles. Ou porque a sua chefia de repente altera um projeto, quando já manifestou ser a favor de terminar esse projeto e depois de ter perdido o seu tempo e o tempo dos seus colaboradores. Ou simplesmente, porque mais uma vez, vai faltar ao jogo de ténis com um amigo, o que o leva a pensar que mais uma vez desiludiu o seu amigo e que as suas competências estão a diminuir.
Tal como o nome indica, os micro-indutores de stress são pequenos, muitas vezes invisíveis. No entanto, algumas vezes surgem de forma bastante positiva e justificam decisões que parecem ser inofensivas. No fundo, estamos a tentar ajudar os outros. Porque é que nos devemos sentir mal por estarmos a gastar, involuntariamente, o tempo de um amigo? Porque não ficar com a folga do seu colega negligente? São apenas 15 minutos de trabalho que vão ajudar a equipa.
Mas isso, é que é pernicioso no caso dos micro-indutores de stress. Na maioria das vezes, estas situações individuais parecem inofensivas, mas acumulam e cria-se um efeito cascata de consequências que podem durar horas ou dias, e para além disso, despoletar pequenas pressões nos outros. Por exemplo, se os elementos da sua equipa não conseguem terminar uma tarefa chave, vai ter de justificar este atraso e vai dar lugar a uma conversa desagradável sobre o que aconteceu. Para além disso, vai ter de pedir ao seu companheiro para levar o seu filho ao dentista, apesar de ser a sua vez e o seu filho gosta de ir consigo porque lhe leva sempre o brinquedo favorito. Para além disso, provavelmente já não vai ter tempo de se dedicar a um projeto de desenvolvimento profissional, tal como tinha planeado.
O micro-indutores de stress podem ser difíceis de identificar individualmente, mas no todo eles representam um golpe forte.
Os micro-indutores de stress envolvem uma bagagem emocional que nem sempre é fácil de desfazer. Isto porque as fontes dos micro-indutores de stress, raramente, são um antagonista tradicional, como um cliente extremamente exigente, ou um chefe idiota. Em vez disso, eles surgem das pessoas com quem se sente mais próximo: os amigos, família e colegas. Por exemplo, podemos manter secretamente os sentimentos de culpa ou falhanço por ter desiludido alguém de quem gostamos muito, ou estar em situações em que estamos preocupados com o seu bem-estar. Se for responsável por uma equipa de funcionários, vai-se, constantemente, preocupar com o facto de estar a fazer uma boa orientação, ou se é necessária uma supervisão mais próxima, para que eles não façam asneira em frente dos colegas. A emoção, positiva ou negativa, numa relação aumenta a pressão.
Claro, que nunca lida apenas com um ou dois micro-indutores de stress. Enfrenta vários por dia, e provavelmente já aceita que este modo de vida alucinante não é nada de especial. “Deixem-me sobreviver a esta semana,” esta é a promessa que faz a si próprio, pois está a planear ultrapassar os obstáculos com alguma força de vontade. “Depois, vou ficar bem.” Infelizmente, muitos de nós caíram numa postura reativa ao aceitar que agora vivemos num mundo hiper conectado, vinte e quatro horas por dia, basta uma simples mensagem, chamada ou chamada de vídeo. O resultado é estarmos de serviço vinte e quatro horas por dia. A conectividade entre a vida pessoal e a vida profissional é impressionante.
O problema é que todas as semanas são semanas de sobrevivência, e este ciclo mantém-se meses sem fim. Estamos à beira do esgotamento, quase diariamente, e não sabemos porquê.
Há uma razão biológica para isso.
A biologia dos micro-indutores de stress
Os micro-indutores de stress são perniciosos porque a maior parte das nossas vidas são passadas com grande agitação, intensidade e velocidade; mais do que aquilo que alguma vez vivemos. E isto aumenta com o avanço da tecnologia e com a conectividade omnipresente. O nosso corpo não sabe muito bem o que fazer com isso.
O processo segundo o qual nós respondemos ao stress normal é designado de alostase, é um mecanismo biológico que protege o corpo do stress. A alostase ajuda-nos a manter a homeostase interna, ou equilíbrio interno. O nosso cérebro sabe como registar formas convencionais de stress, por isso sabe identificar a ameaça e utilizar o vigor extra dos mecanismos de luta ou fuga que entram em ação para lidar com isso.
Segundo Joel Salinas, um neurologista comportamental e investigador da New York University Grossman School of Medicine e diretor médico da Isaac Health, que fornece serviços online, de saúde mental, os micro-indutores de stress conseguem escapar ao radar dos nossos mecanismos de luta e fuga enquanto cobram uma taxa significativa. “Imagine o vento a desgastar uma montanha”, diz Salinas. “Não é a mesma coisa que uma explosão de TNT que faz um buraco na montanha, mas com o tempo o vento, se nunca parar, consegue reduzir lentamente a montanha inteira a pó.”
Podemos não ter consciência destes micro-indutores de stress, mas tal como o stress que estamos habituados, eles também, fazem aumentar a nossa pressão arterial e a nossa frequência cardíaca, ou desencadear alterações hormonais e metabólicas. “Os micro-indutores de stress estão a danificar o nosso corpo, o nosso cérebro não regista a ameaça,” explica Salinas. “Por isso, o nosso cérebro não ativa o mesmo mecanismo protetor que ocorreria caso estivéssemos a enfrentar uma situação de stress mais obvia.”
Esta dinâmica acontece em parte devido à forma como o cérebro processa a informação. A nossa “memória de trabalho” que está situada no lobo frontal, é o local onde guardamos as notas mentais, é um “género de bloco de notas,” afirma Salinas. Mas em situações de stress continuado, o bloco de notas vai diminuindo, tornando-se mais difícil monitorizar as coisas que realmente precisam de atenção ou que requerem uma resposta. Isto explica o motivo pelo qual alguns de nós sentimos uma certa “confusão mental” durante a pandemia, quer infetados com Covid_19 ou não. O nosso cérebro acabou por ser apanhado pelos micro-indutores de stress, por isso o espaço e o tempo que normalmente tínhamos para prestar atenção a uma tarefa ou para resolver um problema não estava disponível. Para além disso, quando o bloco de notas diminui acabamos por não perceber porque nos estamos a sentir mal, e os micro-indutores de stress perpassam as nossas defesas. “Isto é muito pior do que as ameaças que passam o limiar do lutar ou fugir.” Diz-nos Salinas. “Não só, não reparamos nos micro-indutores de stress, como também podemos sentir consequências mais sérias.”
Mais facilmente colocamos de lado o stress que não se vê do que outras formas mais sérias de stress, porque simplesmente pensamos que conseguimos gerir tudo no momento. Mas a verdade é que o nosso cérebro não consegue gerir tudo, pois a resposta normal perante situações de pressão não foi acionada. Por isso, há um acumular de pequenas situações de stress, uma em cima da outra.
De acordo com a neurocientista Lisa Feldman Barett, uma reconhecida professora de psicologia na Universidade de Northeastern e autora de Seven and a Half Lessons (Sete lições e meia), o cérebro humano não consegue distinguir diferentes fontes de stress crónico. Isto acontece porque o nosso cérebro está constantemente a tentar coordenar todos os nossos sistemas, o sistema cardiovascular, respiratório, imunitário, endócrino, gastrointestinal entre outros, de modo metabolicamente mais eficiente. A coordenação é uma transação entre o corpo e o cérebro, é aquilo a que chamamos humor (segundo Barrett é um relato simples sobre como nos estamos a sentir, por exemplo, confortáveis, cansados ou conectados. É diferente das emoções como a tristeza ou a felicidade).
Para a transação, explica Barrett, o nosso cérebro faz um “orçamento corporal” para avaliar o efeito cumulativo dos stressores que vivemos diariamente. É importante ressaltar que, embora os micro-indutores de stress individuais, ou seja, um desentendimento com os colegas de trabalho, possam parecer insignificantes “o somatório de tudo pode ter um impacto enorme”, diz Barrett. “Se o orçamento corporal já estiver esgotado pelas circunstâncias da vida, como doenças físicas, dificuldades financeiras, alterações hormonais ou simplesmente privação de sono ou falta de exercício, o nosso cérebro torna-se mais vulnerável a todos os tipos de pressão. Podemos acabar por nos sentirmos uma pasta.”
Barrett, num outro estudo que desenvolveu, mostra-nos que se estivermos expostos ao stress social duas horas após uma refeição, o nosso corpo metaboliza a comida de forma que adiciona 104 calorias à refeição. “Se isto acontecer diariamente, são 11 quilos que ganhamos por ano! E não é só, se num dia de muita pressão, comermos gorduras insaturadas saudáveis, como as que se encontram nas nozes, o nosso corpo metaboliza estes alimentos como se estivessem cheios de gorduras más. Para além disso, Barrett, na sua pesquisa, foi capaz de estimular um pico de cortisol em cobaias, simplesmente com o seu tom de voz. Bastou para isso dizer que as cobaias estavam a ser avaliadas negativamente, criando na verdade uma certa pressão. Na nossa vida diária, quando enfrentamos os micro-indutores de stress de interações negativas com outras pessoas, os nossos orçamentos corporais esgotam-se, mesmo que não seja feito um registo tão negativo da situação. Estas “retiradas” momentâneas acumulam-se.
“Quando o orçamento corporal é continuamente assoberbado, os stressores momentâneos acumulam-se, mesmo aqueles que nós normalmente recuperamos com facilidade. É como as crianças a saltar na cama,” diz-nos Barrett. “A cama até pode aguentar com 10 crianças a saltar ao mesmo tempo, mas a décima primeira pode fazer estalar a estrutura da cama.”
As fontes e efeitos dos micro-indutores de stress
Qual a origem destes micro-indutores de stress que mal nos damos conta deles?
A nossa pesquisa identificou 14 fontes, distribuídas por três categorias:
Os micro-indutores de stress que esgotam a nossa capacidade de fazer as tarefas.
Estes são a causa de muitos de nós sentirmos que estamos a falhar no trabalho e na nossa vida pessoal: mal conseguimos lidar com as nossas responsabilidades. As fontes deste tipo de stress são:
- Desajustamento entre os colaboradores e as suas funções e prioridades
- Incerteza sobre a confiança nos outros
- Comportamento imprevisível de uma pessoa numa posição de chefia
- Exigências colaborativas diversas e em grande quantidade
- Surtos de responsabilidades domésticas e profissionais
Os micro-indutores de stress esgostam as suas reservas emocionais.
Estas são interrupções no poço interno da paz, força e resiliência que nos permitem focar, priorizar e gerir conflitos. As fontes são:
- Gerir e sentir-se responsável pelo sucesso e bem-estar dos outros
- Conversas frontais
- Falta de confiança na sua rede profissional
- Pessoas que espalham o stress
- Manobras políticas
Os micro-indutores de stress que desafiam a sua identidade.
Estes espoletam aquele sentimento desconfortável quando sentimos que não somos a pessoa que queríamos ser, o que poderá desfocar a sua motivação e propósito. As fontes de stress são:
- Pressão para atingir objetivos que não vão de encontro aos seus valores pessoais
- Ataque ao seu sentido de autoconfiança, valor e controlo
- Esgotar e manter relações negativas com a família e amigos
- Interrupções na sua rede
Muitos de nós vivem estes micro-indutores de stress diariamente. Por exemplo, o diretor do Laboratório Interdisciplinar de Ciência Afetiva da Northeastern, Barrett pode conseguir perceber o desgaste que o stress lhe causa no cérebro, no entanto, não a torna imune ao stress. “Quando me sinto sobrecarregada pela quantidade de coisas que tenho de fazer, e os resultados dos outros dependem daquilo que eu faço,” o meu marido diz-me, “Bem, isso é o que dá ser uma pessoa bem-sucedida,” diz-nos Barrett. “E se calhar isto é verdade, mas não pode ir mais longe.” Eu estou à frente de um laboratório de 25 jovens cientistas, e cada um deles depende de mim para alguma coisa. Eu tenho impacto nos seus resultados. Não fazemos apenas depósitos e levantamentos com o nosso orçamento corporal. Nós também somos os cuidadores dos orçamentos corporais de outras pessoas.”
Por exemplo, o Kunal, um chefe sénior da indústria automóvel, partilhou uma frustração quando sentiu que teve de refazer o trabalho de um subordinado que entregou um produto abaixo do esperado. “Isso cria uma espécie de amargura e pressão, pois agora tenho de fazer algo que já deveria estar feito,” disse-nos. “Ao ter de fazer o trabalho de outros, faz com que transfira o tempo para outras coisas e não me permite despender o tempo necessário para a minha equipa.” Para além de ter de refazer o projeto, o Kunal também teve de encontrar o tempo para resolver o problema do desempenho, o que acrescentou mais stress ao seu dia. “Tudo isto consome energia extra, porque tem de ser compreensivo e depois seguir um processo quase socrático de orientar alguém na preparação do que deveria ter feito.”
E estas foram as consequências imediatas. Com o tempo a situação criou uma espécie de ressentimento, fez com que o Kunal tirasse pareceres com os outros elementos da equipa e levasse as suas frustrações para casa. Ele estava consciente do que se estava a passar, mas ele não conseguia esquecer o que se passava durante o dia.
A história de Kunal é apenas um exemplo do que acontece quando um dos colaboradores falha, ainda que pouco. Multiplique as consequências pelas interações infinitas que tem, seja estarmos desalinhados com os nosso colegas de trabalho, aumento das responsabilidades, ou até mesmo sentir-se desconfortável com o pedido do seu chefe para utilizar muita pressão sobre os seus clientes. Para a maioria das pessoas, o dia-a-dia é uma mina de micro-indutores de stress.
Para tornar tudo mais complicado, é o facto de as pessoas que nos são mais próximas serem as principais fontes de micro-indutores de stress. O casamento por exemplo, é umas das fontes mais importantes de apoio, mas é também um gatilho para os micro-indutores de stress. Considere o efeito cascata quando troca pequenas palavras com o seu cônjuge sobre alguma tarefa ou uma tarefa inconsequente antes do trabalho. Passamos o dia todo a pensar nesta interação. Quando chegamos a casa à noite, tudo é perdoado, mas a verdade, é que a nossa preocupação afetou o nosso dia. Até nos podemos distrair no trabalho, com um desempenho abaixo do esperado, decepcionar os nossos colegas, o que com toda a certeza volta para nós.
Combater os micro-indutores de stress
Então o que é que podemos fazer para combater os micro-indutores de stress na nossa vida do dia-a-dia? Os conselhos convencionais para melhorar o nosso bem-estar tendem a concentrar-se na proteção contra o stress (micro ou macro), através da atenção plena, meditação ou gratidão. Estas abordagens podem, de facto, refrescar a mente. Mas de certa forma, também, prejudicam pois aumentam a capacidade de suportar mais Os conselhos convencionais para melhorar nosso bem-estar tendem a se concentrar em se proteger contra o estresse (macro ou micro), como por meio de atenção plena, meditação ou gratidão. Sim, essas abordagens ajudam a refrescar sua mente. Mas, de certa forma, eles também prejudicam, pois aumentam sua capacidade de suportar mais micro-indutores de stress.
Não seria bem mais fácil conseguir eliminar alguns indicadores e micro-indutores de stress das nossas vidas? Anos de pesquisa mostram que uma interação negativa tem um impacto cinco vezes maior do que uma interação positiva. O que significa que eliminar apenas alguns micro-indutores de stress das nossas vidas, seria uma mudança significativa. Os nossos estudos mostram que a maioria das pessoas identificam três a cinco oportunidades de conseguir marcar a diferença nos níveis de micro-indutores de stress, utilizando as seguintes estratégias:
- Fazer os micro-indutores de stress retroceder, em termos práticos. É fácil encontrar formas de combater estas pequenas pressões que têm um impacto enorme nas nossas vidas diárias. Isto varia entre saber dizer que não a pequenas tarefas, saber utilizar a tecnologia e o modo como isso nos interrompe e notifica, ao reajuste dos relacionamentos de forma que isso não cause pressão nas nossas vidas.
- Esteja atento às pressões que está a causar aos outros. Não só os está a ajudar, como também se está a ajudar a si próprio. Quando causamos alguma espécie de pressão nos outros, de uma forma ou de outra somos atingidos. (Um exemplo simples é quando estas pequenas pressões nos levam a discutir com o nosso parceiro o que por sua vez causa raiva e ressentimento que recai novamente sobre nós). Ao dar menos também significa que vamos receber menos.
- Eleve-se. Uma das razões pelas quais estes micro-indutores de stress nos afetam é porque permitimos que eles o façam. Podemos aprender a deixar alguns deles em perspetiva e deitar as coisas que nos incomodam para trás das costas. Não estamos a pedir às pessoas para serem uma Pollyanna (personagem infantil extremamente otimista), a verdade é que descobrimos que as pessoas mais felizes da nossa equipa são aquelas que são capazes de colocar estes micro-indutores de stress em perspectiva. Em parte, porque eles pertenciam a dois ou três grupos das suas vidas. Fora do âmbito profissional, eram muito importantes. A dimensionalidade que estas atividades e grupos trouxeram à suas vidas serviram um propósito muito real de ajudá-los a reconhecer quando é que pequenas coisas eram realmente pequenas. Por outro lado, as pessoas que permitiram que as suas vidas se tornassem muito unidimensionais, muitas vezes nadavam num mar de pequenas pressões que ajudaram a criar. E não conseguiam libertar-se de nenhuma dessas pressões.
Isto é apenas um resumo das técnicas que os nossos entrevistados mais bem-sucedidos utilizavam para controlar as pequenas pressões. Para reduzir os micro-indutores de stress nas nossas vidas é necessário identificar a raiz do problema (reconhecendo que as fontes podem não ser tão obvias), monitorizar e compreender o efeito cascata, e criar formas eficazes de o eliminar. Aquilo que não pode fazer é reconfigurar a sua vida.
Para dar início ao processo, criamos um diagnóstico que o ajuda a identificar dos 14 indutores de stress, qual o que tem maior impacto na sua vida. Também o vai ajudar a perceber onde é que está a causar pressão nos outros e que tipo de pressão é que consegue superar. O diagnóstico é composto por um glossário que contém detalhes sobre cada tipo de fonte de stress.
O poder das outras pessoas
Uma das impressões mais interessantes da nossa pesquisa é, que as pessoas são ao mesmo tempo, as grandes causadoras das pressões nas nossas vidas, e também são a solução. Como neurocientista, Barrett explica que a pior coisa para o nosso sistema nervoso é um outro ser humano. Mas a melhor coisa para o nosso sistema nervoso também é outro ser humano.
Nos nossos estudos, as pessoas que melhor lidavam com as pressões não só encontravam formas de recuar, como também conseguiam minimizar aquilo que causavam aos outros ou de se elevar. Também tentavam moldar as suas vidas de modo a ter uma maior diversidade de relações com as pessoas. Estas pessoas procuram atividades, interesses comuns e experiências em grupo que ajudam a criar uma vida rica e multidimensional para inocular os efeitos dos indutores de stress. Por exemplo, um simples encontro de amigos para um jogo de basquetebol ou manter uma conversa em grupo para partilhar momentos da vida que apenas os amigos da faculdade percebem. Tudo isto pode oferecer momentos de conexão autêntica que diminuem o impacto dos micro-indutores de stress.
Há uma base fisiológica que explica isto. “Envolver-se com outras pessoas treina o cérebro, assim como treinar um grupo coordenado de músculos, e permite desenvolver circuitos cerebrais para gerir as suas reações, respostas e emoções”, diz o neurologista Salinas. Existe ainda uma componente de distração saudável, porque muitas cargas emocionais não pesam tanto sobre nós quando estamos imersos numa vida multidimensional. “Tendemos a não ruminar sobre os nossos problemas quando estamos perto de outras pessoas que exigem a nossa atenção de uma maneira positiva,” explica Salinas.
Ao relacionar-se com outras pessoas, pode ajudar a enquadrar melhor o problema, principalmente se puder analisar no contexto. Poderá estar mais apto para dizer “Não sou o único a viver isto,” ou “Há outras pessoas em situações bem piores do que a minha”. Este tipo de perspetiva pode ajudar a dimensionar corretamente os micro-indutores de stress.
Para além disso, ter uma vida multidimensional significa que as nossas identidades não estão demasiado ligadas a uma atividade, como o trabalho. Os estudos sugerem que os grandes empreendedores, na casa dos 20 e 30 anos são frequentemente vulneráveis ao esgotamento pois ainda não desenvolveram outras dimensões, diz-nos Salinas. “As suas identidades estão muito mais ancoradas nos seus empregos. O que significa que as coisas positivas do trabalho podem ser bastante positivas e as coisas negativas podem ser bastante negativas.” O simples facto de estar ligado aos outros, manter conversas informais, partilhar interesses mútuos ou ver o mundo de uma outra perspetiva é um poderoso antídoto do stress diário dos micro-indutores de stress. Mas, ao longo da vida, somos levados a tantas direções que acabamos por abandonar as relações e atividades que já desfrutamos no passado.
A percentagem de pessoas que afirmam não ter um único amigo próximo quadruplicou nos últimos 30 anos, tal como nos mostra um estudo do Survey Center on American Life. Quase metade dos entrevistados afirma ter perdido o contacto com a maioria dos amigos. Este desconectar é muito importante. Os estudos de Salinas mostram que ter alguém que nos ouve quando precisamos de falar está associado a uma maior resiliência cognitiva, o que significa que o nosso cérebro pode funcionar melhor que o esperado, perante as mudanças devido ao envelhecimento físico ou doença.
Os nossos estudos sugerem que o ser humano necessita de uma variedade de relacionamentos (não apenas relacionamentos íntimos) para ajudar a superar a realidade de viver sob pressão. Os efeitos mais significativos surgem quando se está ligado a pessoas que partilham os mesmos interesses, poesia, religião, música, ténis, ativismo, são apenas alguns exemplos. Estes podem ser de diferentes profissionais, grupos socioeconómicos, educacionais ou de idade. Os interesses partilhados criam interações autênticas e confiáveis, e a diversidade de perspetivas ajuda a expandir a forma como vemos o mundo e o nosso lugar no mundo. Somos moldados pelas pessoas e experiências, e as nossas vidas tornam-se multidimensionais. No entanto, apesar da importância dos relacionamentos para a nossa felicidade, muitos de nós deixamos escapar as amizades com o passar do tempo.
As pessoas que nos relataram histórias de vida positivas, tal como acima referido ao apresentar a estratégia Rise above, invariavelmente descreveram ter relacionamentos com dois, três ou quatro grupos de pessoas fora do trabalho: atividades desportivas, trabalho voluntário, comunidades cívicas ou religiosas, clubes de livros ou de jantares, apenas alguns exemplos. Na maioria das vezes, um dos grupos apoiava a saúde física através de práticas de nutrição, atenção plena e exercícios. As relações formadas por esses grupos poderiam até parecer que não funcionavam, porém elas proporcionavam momentos positivos.
Por exemplo, Rob é um ávido ciclista e passa longas horas a pedalar pelo campo com um grupo de amigos que partilham as suas ideias. Com isto, ele beneficia do impacto da saúde física do exercício e da meditação que andar de bicicleta lhe proporciona. Mas um outro benefício prende-se com a amizade que ele criou com as pessoas que, de outro modo, não estariam presentes na sua vida: um executivo na área das tecnologias de informação, um carteiro, um cardiologista, um canalizador, todos estes fazem parte deste grupo de amigos. “Eu confiei e senti amizade e sorrisos vindos destas pessoas, que me ajudaram a reduzir a pressão.”, diz-nos. “Mas estas interações também nos permitem alguma perspetiva, pois muitas das coisas que me deixam angustiado, parecem irrelevantes aos olhos de um canalizador ou cardiologista.” Os estudos afirmam as experiências que o Rob catalogou no seu trabalho: as atividades certas oferecem diversidade ao seu mundo social, que não só criam um benefício instrumental de proximidade, mas também ajudam a desenvolver a capacidade de evitar ser apanhado por pequenas pressões, e claro mantê-las em perspetiva.
Ninguém está imune aos micro-indutores de stress, e as nossas entrevistas a profissionais de alto desempenho são uma prova disso. Mas também indicam o caminho a seguir. Aquilo que aprendemos com as centenas de entrevistas, tal como com a colaboração do Rob no nosso estudo é que é possível estruturar a vida de modo a reduzir estes micro-indutores de stress e melhorar o bem-estar geral e as relações com os amigos, família e colegas. Pode promover um conjunto diversificado de conexões autênticas que adicionam dimensionalidade à sua vida, o que, por sua vez, ajuda a mitigar os efeitos das pequenas pressões. É um círculo virtuoso.