Encontre a alegria em qualquer trabalho: O que é que eu realmente gosto de fazer?

O que é que eu realmente gosto de fazer

ALISON BEARD: Sou a Alison Beard, e esta é uma série especial da HBR IdeaCast que procura ver de que forma se consegue encontrar alegria no trabalho.

Numa altura em que muita gente está a passar por uma fase de exaustão, descomprometimento, e infelicidade na sua vida profissional, tentamos explicar com a ajuda do autor, Marcus Buckingham, como melhorar os nossos empregos.

Enquanto no último episódio, vimos porque é que há tantas pessoas infelizes no trabalho, hoje, vamos tentar perceber de que forma é que se sentem realizadas no trabalho.

ORADOR 1: Aquilo que me deixa mais feliz no meu trabalho, são todas as coisas relacionadas com coaching, mentorias, de um modo geral ajudar as pessoas, de facto ajudá-las a atingir o seu potencial.

ORADOR 2: Aquilo que me deixa mais entusiasmado é quando estou com um grupo de pessoas e tentamos melhorar um processo que vai melhorar a vida de todos os elementos da equipa.

ORADOR 3: Eu gosto de escrever propostas e desenvolver atividades no âmbito de um projeto.

ORADOR 4: Sou paisagista há mais de 35 anos. Adoro ver o espaço e ser criativo, e desenvolver algo que as pessoas possam usufruir, crescer e divertir-se.

ORADOR 5: Aquilo que genuinamente gosto de ver é de ter a possibilidade de ajudar as pessoas a ver aquilo que achavam que era impossível e que depois se tornou possível.

ORADOR 6: Cada vez que lançamos um novo produto, um novo menu que os nossos clientes adoram, fico muito entusiasmado.

ORADOR 7: Aquilo que mais alegria me dá no meu trabalho é ver a satisfação no rosto dos meus clientes quando estão a progredir. Outra coisa que gosto no meu trabalho é falar com os diferentes pacientes com quem trabalho e educá-los, dar-lhes feedback e apoio.

ORADOR 8: Eu gosto mesmo de ser criativo, fazer tábua rasa e criar algo para os clientes.

ORADOR 9: Aquilo que verdadeiramente gosto no meu trabalho é saber que aquilo que marca a diferença na vida das pessoas.

ALISON BEARD: Depois de perceber que precisamos de mais alegria no nosso trabalho, está na altura de tentar perceber o que é que nos faz tão felizes, de modo a orientar as nossas energias. O ideal seria fazê-lo sem deixar o nosso trabalho. Marcus Buckingham é o autor do livro Amor e Trabalho (Love and Work) e é com enorme prazer que o temos de volta.

MARCUS BUCKINGHAM: Também estou muito satisfeito por estar cá novamente.

ALISON BEARD: Então, a questão mais obvia, é realmente possível gostar de alguma coisa em qualquer dos trabalhos?

MARCUS BUCKINGHAM: Bem, devemos assumir que há determinados tipos de trabalhos que foram pensados por pessoas que acham que não é possível gostar daquilo que se faz. Seja um funcionário de armazém, onde não há pausas para ir à casa de banho, ou seja uma função no escritório, onde somos vigiados através do software do nosso computador, e aqui podem ser criados empregos sem qualquer paixão.

Quando as pessoas não conseguem ter alegria no trabalho, então estamos perante uma profecia auto-cumprida. Vejamos então esta situação. É possível criar empregos mesmo maus, mas consegue-se dar a volta se começarmos pelo seguinte, “Em primeiro lugar, vamos entrevistar pessoas que verdadeiramente gostam do trabalho.” Quero dizer, passei 25 anos a trabalhar com grupos de foco de carater qualitativo, entrevistas qualitativas, questionários quantitativos, e a avaliar pessoas que adoram o que fazem, sejam lá qual forem os motivos.

E aquilo que salta à vista… da última vez falamos de empregadas, mas agora vejamos os mineiros de boro. Rio Tinto Borates é uma mina de boro na Califórnia do Norte. Pode pensar “Este é um tipo de trabalho em que temos mesmo de nos adaptar.” Mas entrevista estas pessoas e percebe que elas adoram o que fazem e que a alegria com que falam do trabalho é tal que surpreende tudo e todos. Elas dão nomes às máquinas com que trabalham e cada uma dessas máquinas tem uma personalidade.

“Eu adoro trabalhar todos os dias e perceber que máquina é que vai decidir avariar. Eu vou ouvindo e vou andando… porque não sou muito habilidoso e vou andando. “O que quer dizer com avariar?” E esta pessoa, seja qual for a razão, definiu que cada uma dessas máquinas tem uma personalidade.

Alguém disse que esta emoção, a emoção desta pessoa vai… E ele mede isso. Quantos dias passaram sem um acidente? Ele fica emocionado quando fala nisto.

Qualquer trabalho de que não se gosta é vazio na opinião deles. Não significa, porém, que é vazio para todos, e devemos ser cuidadosos e não devemos assumir que só porque não gostamos é algo odioso. Não é assim. E mais uma vez, não significa que não conseguimos criar trabalhos aborrecidos, que não confiamos nas pessoas e isso é bastante constrangedor e errado. Muitas vezes fazemos, mas não devíamos fazer. Mas é possível encontrar o amor em todo o lado.

ALISON BEARD: Aquilo que parece que está a dizer é que é possível corresponder o trabalho à personalidade. Então é necessário fazer uma pesquisa entre a alma e o trabalho para se perceber se se está no caminho certo. E assim há a possibilidade de encontrar momentos de alegria e o caminho para o amor.

MARCUS BUCKINGHAM: Sim. Se conseguir fazer andar tudo para trás, aquilo que diríamos a uma criança de nove anos “Não precisas de ter medo da vida”. Eu sei que as crianças acordam e tentam sobreviver ao longo do dia. Pode até ser algo que não fizemos no dia anterior, pode ser um trabalho da escola e hoje acorda-se a pensar que temos de o fazer e a vida é assim algo a que temos de resistir.

E como adultos temos esse mesmo sentimento, não temos? Acordamos e pensamos, “A minha lista de afazeres não foi cumprida ontem não sei como vou conseguir fazer tudo hoje?” Mas aquilo que podemos ensinar às pessoas é que a vida não é algo que temos de suportar. A vida é um espetáculo. Cada dia, a vida apresenta-nos um sem número de situações, momentos, contextos, pessoas. E é como se o nosso dia fosse uma manta de retalhos. Alguns desses retalhos são pretos, cinzentos ou brancos ou amarelos. Por vezes deitam-nos abaixo, por vezes dão-nos moral. Mas sem campo de manobra.

Mas alguns dos retalhos são vermelhos. Alguns desses retalhos são vermelhos todos os dias. E aquilo que os estudo da Mayo Clinic mostra é que os médicos e enfermeiras, mais resilientes, fazem cerca de 20% das atividades de que gostam. A metáfora é que eles não têm uma manta vermelha. A verdade é que eles não têm de passar os dias a remendar uma manta vermelha.

Eles já encontraram fios vermelhos todos os dias e acabaram por cosê-los deliberadamente e intencionalmente. Se os procurar e os encontrar pode criar uma trama com um tecido e remendar todos os dias. E a propósito Alison, o dia a dia parece ser algo muito importante. Quando estamos a fazer os nossos estudos, e tiramos a palavra dia-a-dia da pergunta, dizemos; eu tenho a possibilidade de fazer o que gosto.

E se deixar isso assim pois tem a possibilidade de fazer aquilo que gosta, então começa a correlacionar com desempenho, comprometimento, processos judiciais, acidentes no trabalho, receita. Todas as correlações desaparecem. A frequência das coisas, o acontecer diariamente parece ser mesmo importante, mais do que a intensidade das coisas.

Não é como dizer, “Que mês terrível, mas pelos menos tenho a possibilidade de uma vez por mês fazer o que gosto”. Tudo bem, mas não temos dados que de isso realmente funciona. Por isso, tudo começa com uma pesquisa na alma, a tal procura dos fios vermelhos. Não os julgue. Não assuma que os seus são iguais aos outros. Não parta do princípio, que estão todos na mesma corrida, que têm todos a mesma idade, ou são do mesmo género. Pois somos todos diferentes, não é igual ao seu irmão ou irmã, as pessoas que cresceram consigo. Os fios vermelhos não são os mesmos, nem mesmo quando tinham nove anos e sabia disso.

Para todos nós, tudo começa em fazer aquilo que se gosta, para um mundo melhor. Durante algum tempo, é-lhe dito que os seus amores não são verdadeiros. Não há nada lá. É um recipiente vazio e aprender para si é a transferência de informação, e depois confirmação através da testagem standard. Isso é o que a escola é. Temos muito que desaprender se realmente queremos encontrar alegria e amor naquilo que fazemos.

ALISON BEARD: Sendo mais concreto, quando estamos a procurar estes fios, significa que estamos à procura de tarefas. Quer dizer projetos especiais? Quer dizer relacionamentos com os outros trabalhadores? Que tipo de coisas é que devemos procurar?

MARCUS BUCKINGHAM: Tudo o que disse. Tudo o que disse é real. Mas deve começar por prestar atenção. Preste atenção ao que lhe acontece todos os dias. Até parece algo obvio. Mas tal como disse anteriormente, nós muitas vezes pensamos que a vida é o inimigo e que tem de continuar assim.

Em primeiro lugar, procure mudar a sua relação entre aquilo que o está a prejudicar diariamente e comece a prestar atenção ao espetáculo que a sua vida o expõe. Em segundo lugar, observe as três pistas mais obvias dos seus fios vermelhos. E essas três pistas seriam o número um, a que é que se está a voluntariar?

Que atividade particular ou momento… pode até ser escrever um email. Poderia até ser lidar com uma queixa. Poderia ser redesenhar o horário de fluxo de trabalho. A que é que se está instintivamente a voluntariar e a aguardar com ansiedade?

Uma antecipação positiva é uma grande pista. A segunda pista, o tempo voa. É a ideia que se tem quando se está envolvido em atividades, o tempo passa e nem damos por isso. E em alguns casos, estamos a falar de coisas sobre as quais andamos a procrastinar. Por isso, a primeira pista não é algo que devemos procurar porque estivemos a adiar. A verdade é que quando começamos a fazer isso, é quando sentimos o tempo a passar rápido.

Isto é como se estivesse apaixonado alguém. Antes de estar com a pessoa que ama o tempo não passa e de repente quando estão juntos parece que o dia voa.

ALISON BEARD: Isso sou eu quando estou a escrever um artigo. Vou adiando, e adiando. Até que finalmente, sento-me e começo a escrever, e não sou capaz de parar. Até que os meus filhos chegam a casa. E eu digo para eles fazerem o jantar e o meu marido pergunta-me se quero ver televisão e eu digo que não, que quero acabar o artigo.

MARCUS BUCKINGHAM: Sim. Esses dois sinais podem nem estar relacionados. Quero dizer, às vezes até estão, mas segundo o que diz vai adiando e depois está submersa na atividade.

ALISON BEARD: Eu acho que também temos de ser bons no que fazemos. Estou certa? Não estou a brincar, esta é a minha profissão, faço isto há 25 anos. É por isso que me posso perder nas atividades.

MARCUS BUCKINGHAM: Bem, sim. Embora se verifique uma relação entre o amor que leva ao apetite. Apetite leva à prática. Prática leva ao desempenho. Sem dúvida que as pessoas melhoram naquilo que praticam mais, mas o que é realmente interessante é perceber o que é que as pessoas verdadeiramente gostam e que as leva a praticar. Pois quando se vê a prática em termos de amor, não é uma disciplina, praticar torna-se uma obsessão. Por isso, torna-se bom naquilo que faz porque já o faz há muito tempo. Peço desculpa não sei a sua idade, Alison.

ALISON BEARD: Foi há muito tempo, não se preocupe.

MARCUS BUCKINGHAM: Há muito, muito tempo. Mas de certeza que escreveu alguma coisa e alguém devolveu, e aposto que conseguiria resumir isso.

ALISON BEARD: Cem por cento. No sétimo ano, na disciplina de Inglês com a Mrs. Sussman. Tinha de escrever um texto sobre “depressa e bem há pouco quem”. Tinha de ser uma história pequena e eu tive um A+. Tive de ler o texto para a turma. Não me vou esquecer disso. Obviamente, depois pensei, “Vou ser escritora.”

MARCUS BUCKINGHAM: Até me dá arrepios, porque é muito bom ter alguém, neste caso um professor. O que quero dizer, é falar sobre pessoas a desenvolver uma resposta para outro ser humano. Está muito próximo do seu amor. No sétimo ano, ainda não vive o momento da individuação. Ainda não decidiu se se deve encaixar ou destacar. Por isso, alguém de fora, que lhe diz que escreveu algo que as pessoas gostariam de ler, isso é muito bom.

Claro que isso não significa que não pode melhorar. Isto não é o mesmo que uma mentalidade em crescimento versus uma mentalidade fixa, e ficou presa ao sétimo ano. É só apenas aquilo que vimos que fez, e ressoou em nós e fez com que o seu apetite aumentasse. E transforma-se nesta coisa razoável, na qual alguém nos ajuda a tornarmo-nos melhores.

Sabe bem quais são as frases que funcionam e as que não funcionam. Transforma o seu amor em contribuição, o que é fantástico. Essa é a segunda pista. A terceira pista, a propósito é só… há coisas que quando as começamos a fazer, não precisa de dar os passos. As pessoas por vezes separam as competências em passos, mas há algumas atividades em que os dá, mas não precisa deles. A aprendizagem já fazia parte de si. Há enfermeiras que sabem dar injeções sem sentir dor, e elas usam a mesma técnica que as outras enfermeiras. Mas quando pede ao doente para quantificar a dor, o mesmo doente, enfermeira diferente, os mesmos passos para dar a injeção, um doente e uma enfermeira tem mais pontuação na dor do que outros doentes e enfermeiras.

E não são os passos. É quase como se houvesse uma certa empatia dentro da enfermeira. Elas não precisam dos passos. Portanto, uma das outras pistas do fio vermelho, é quando estão a experimentar algo novo, é quase como se já o tivesse feito.

Não precisa de ser muito místico, os nórdicos tiveram uma excelente ideia sobre isto. Eles consideram que em cada um de nós há um destino (Wyrd), não quero dizer estranho (Weird), mas sim destino. Temos um destino. Nascemos com um tipo de diamante dentro de nós que sabe coisas. Eu sei que isto agora parece um pouco esquisito e espiritual, mas aquilo que quero dizer é… De certeza que já viveu isto com os seus filhos, quer que ele faça alguma coisa e eles começam “A sério, eu tenho de mecanizar isto, pois o miúdo não faz ideia de como fazer aquilo.”

E então com outra criança, diz o seguinte “Como é que sabias isso?”. Só para dar um exemplo. A minha filha não falou antes dos três anos, o que nos deixava muito preocupados. Mas quando começou a falar, dizia frases completas. E uma das primeiras, quando a minha esposa estava debruçada sobre o berço, o fio da minha esposas ficou suspenso e a minha filha conseguiu ver isso. E uma das primeiras frases que a minha filha disse foi “Esse fio é muito bonito, mãe.”

ALISON BEARD: Uau!

MARCUS BUCKINGHAM: … “Tu não queres esse fio. Aos três anos percebeu o conceito de altruísmo recíproco. Quem é que lhe ensinou que se mostrar alguma boa vontade com a mãe, algum dia a mãe lhe vai devolver. Quem é que lhe ensinou isso?”

ALISON BEARD: Quem é que lhe ensinou a fazer elogios?

MARCUS BUCKINGHAM: Sim.

ALISON BEARD: Fantástico.

MARCUS BUCKINGHAM: É engraçado. Um dia regressou da escola, tinha cinco anos, e tinha-lhe sido pedido para escrever três objetivos para o semestre. Um dos objetivos, era ler melhor, mas o segundo objetivo, muito espontaneamente, era deixar de enganar os professores. E eu ri-me, porque eu pensei, “De onde é que isto vem?”. Eu virei-me para o meu filho e disse-lhe “Isto é engraçado. Já viste o que é que a tua irmã escreveu como objetivo? Ela escreveu deixar de enganar os professores.” E eu pensei que ele se ia rir, porque eu me estava a rir, porque eu claro sou um pai fantástico. Mas ele não se riu. Ele olhou para mim muito sério.

Ele devia ter sete anos. Ele olhou para mim e foi mais ou menos isto “Espera, é possível enganar os professores?” Ele não imaginava que fosse possível disseminar a boa vontade, manipular… Não é manipular, não é isso que quero dizer. Mas nem imaginava que as pessoas se deixavam enganar. Então, uma parte dos fios vermelhos é isto. É uma aprendizagem quase imediata da mestria. A ausência de alguém dividido em passos. Portanto, essas são as três primeiras coisas, Alison. Ainda bem que podemos ensinar isto aos miúdos de nove anos e ainda mais aos de trinta e nove.

ALISON BEARD: Então na prática, anda à procura destas pistas. Sabe juntar ideias e escrevê-las numa lista? Pensa nas coisas dentro e fora do trabalho, coisas da sua infância? Será que as pessoas, quando entram neste processo devem fazer uma lista das coisas que gostam de fazer, das que fazem naturalmente, aquelas que surgem?

MARCUS BUCKINGHAM: Bem, a forma mais simples de fazer isto é… e muito provavelmente ainda ninguém o fez, mas é muito fácil de fazer. Tenha consigo um bloco de notas em branco durante toda a semana. Tenha essas três pistas em mente. Mas tenha o bloco consigo e desenhe uma linha no meio. Escreva adorei no cimo de uma das colunas. Detesto, no cimo da outra coluna. E ande com o bloco sempre consigo durante uma semana. Sempre que vir um dos sinais de que gosta, anote no caderno. E se por acaso acontecer o contrário e vir sinais de tarefas que gosta, mas que está a procrastinar, ou parece que anda a arrastar e parece que está a fazer isso há uma hora, apesar de terem sido minutos, e sente-se alienado, então deve escrever na coluna daquilo que não gosta.

Esta é uma boa forma de fazer o inventário de uma semana. E depois ver o que está na coluna do que mais gosta. E depois de ver o que está na coluna daquilo que mais gosta, aquilo que está a tentar alcançar, quero dizer, aquilo que está a tentar alcançar é conseguir escrever para si próprio três, digamos, utilizando um termo melhor, notas de amor, que devem começar assim; “Adoro quando…”. E depois é só tentar terminar a frase.

E como hoje ninguém nos ensina nada disso, a maioria de nós está totalmente desarticulado com a linguagem do amor. E por isso dizemos coisas genéricas, como o quanto eu gosto de ajudar as pessoas. Eu adoro desafios. Na realidade aquilo que está a tentar fazer é depois de ter feito ou gosta ou odeia. E depois tem de tentar escrever três notas de amor, mas tem de ser com detalhe, pois o amor vive dos detalhes. E o caminho para o coração faz-se com detalhes.

Se durante a semana escreveu algumas coisas, então faça questão de fazer algumas perguntas realmente importantes. Deve dizer “Eu gosto de ajudar pessoas,” e depois pense se importa quem são as pessoas que gosta de ajudar, onde é que está a ajudar, como é que está a ajudar. Tente incluir detalhes naquilo que gosta. Não há respostas certas. Há apenas as suas respostas. Sabe quais são os seus fios vermelhos. Por isso, as coisas mais simples a fazer, é fazer o que se gosta ou não gosta e obrigar-se a escrever três frases. E podem até mudar no espaço de nove meses. Tudo bem. Mas não pense que alguém as vai conhecer melhor do que você. Nem pense nisso.

ALISON BEARD: Eu penso que é bom as pessoas dizerem o que não gostam, pois é fácil chegar a casa depois de um dia de trabalho e dizer “Hoje tive um dia terrível.” Mas quer alongar-se na razão de ter sido um dia tão mau. Mas se pensar nas coisas todas que fez durante o dia e de que modo é que isso difere de quando tem um dia bom. Com certeza, vai encontrar os fios de outras cores e vai saber juntá-los.

MARCUS BUCKINGHAM: Sim, e isso é uma das coisas que temos de mudar no mundo do trabalho, o mito da totalidade. As listas dos empregos descrevem detalhadamente tudo aquilo que é suposto fazer, e depois tem de ser completo. Os sistemas de gestão de desempenho listam todas as coisas que supostamente tem de fazer e só depois está completo, e depois pode ser promovido. Se faz parte do grupo de três milhões de pessoas que trabalha para o Departamento de Gestão de Pessoal, principalmente para o governo, tem de manifestar completitude nessa lista de coisas, para conseguir o emprego.

Temos de acabar com esse mito pois é a antítese do trabalho em equipa. É do género, se vou trabalhar com alguém em equipa, tenho de ser capaz de dizer “Aqui estão os meus fios vermelhos.” E isto não é ser arrogante, “Sou o melhor em…”, significa andar em frente “Estou no meu melhor quando… pode recorrer a mim para… As pessoas recorrem a mim quando…”. Pode utilizar a linguagem correta para falar sobre os seus fios vermelhos sem dizer que é arrogante.

E agora o seu ponto, Alison. Sem dúvida que temos de falar sobre as outras cores dos fios. Nós temos a necessidade de aprender uma língua que diga, “Mas eu daqui pareço um veado.” Se alguma vez me vir a procrastinar em alguma coisa, então é aqui. E com isso significa que eu vou precisar de ajuda, e quem é que faz isso? Quem é que ajuda pessoas que têm permissão para seguir em frente, “Aqui está o que eu adoro, e por acaso esta é a minha contribuição para esta equipa.”

E depois aqui, há uma série de coisas para as quais eu vou precisar de ajuda. Aqui está uma série de coisas com as quais eu me vou sentir a afundar. Nós não fazemos isso, e, no entanto, nas melhores equipas… Se pensarmos nos filmes, vemos as equipas, por exemplo do filme Oceans 11. A primeira parte do filme consiste em ver diferentes pessoas que se juntam. Ninguém é completo. Ninguém é perfeito. A equipa é perfeita, porque cada um individualmente considerado, não o é.

Por isso, sempre que vemos grandes equipas não acreditamos em completitude, nós acreditamos que temos alguns fios vermelhos e depois alguns fios de outras cores. No mundo do trabalho, uma equipa, principalmente, num ambiente à distância ou hibrido, se as equipas são as grandes preocupações dos CEOs, que de acordo com a minha experiência, todos perguntam sobre as equipas, então temos que desfazer o mito da completitude e fazer com que as pessoas se articulem mais. Tal como disse, sobre o fio vermelho e sobre as outras cores, pois de outro modo ninguém sabe como confiar em si. Ninguém sabe quando precisa de ajuda, e lá no fundo isso é que é a colaboração.

ALISON BEARD: Vejo alguns riscos nisto tudo. Um é que “Isto é o que eu adoro. Isto é aquilo em que sou bom. Não vou trabalhar em mais nada. Eu sei que tenho de melhorar a minha comunicação em público, mas eu não gosto disso, e ainda não sou muito bom nisso. Então, por isso, vou continuar a escrever.” Mas aquilo que queremos é que as pessoas cresçam e desenvolvam novas competências. Então como é que se ultrapassa tudo isso?

MARCUS BUCKINGHAM: Bem, isso é bastante interessante, pois já decidimos que há aquilo que chamamos mentalidade em crescimento e mentalidade rígida. E se não tiver cuidado, esta ideia de que os seus amores são reais e que é diferente dos outros, implica uma mentalidade fixa. Aquilo que deveríamos dizer é “Pode ser tudo o que quiser ser Alison. Continue a tentar. Vá para além da sua zona de conforto.” Nós dizemos isto muitas vezes.

Mas na verdade o amor é que alimenta a aprendizagem. Nós sabemos que isto é a verdade. O seu cérebro tem uma rede massiva de conexões sinápticas. Sabemos que o cérebro retém a sua plasticidade ao longo da vida, o que significa que consegue aprender coisas novas.

Mas também sabemos que biologicamente, isto não é uma teoria. Esta é a realidade biológica. As relações sinápticas vão aumentar nas partes do seu cérebro onde existem a maioria das conexões sinápticas. É assim que a natureza é.

Portanto, a questão não é crescer… Ou não crescer. A questão é onde é que mais vai crescer. E as suas paixões são as pistas para este crescimento. Isso não significa que não deve tentar falar em público.

O que significa é que se a vou ajudar a falar em público, eu provavelmente tenho de ver pelas suas lentes, para ver as suas paixões. Não basta ensinar as seis regras para falar em público. Eu tenho de questionar “Alison, como é que normalmente vê a comunicação? Como é que pensa na comunicação escrita e como é que manifesta publicamente?”

Isso talvez traga algum receio associado, mas a escolha na sua vida não é o conforto a sua ausência, é amor ou não amor. E se fizer coisas de que gosta, por vezes, sente-se algum medo. E isso é bom. Por isso, se eu a quiser ajudar a aprender e crescer, devo dizer-lhe, “Segue o que mais gosta e lute por isso. Porque para além de tudo aquilo que a vai levar a algum tipo de competência e profundidade, isso não a torna mais tacanha, pelo contrário, permite-lhe inovar.”

Aquilo que quero dizer, Louis Pasteur era um químico famoso. Ele foi, praticamente, o primeiro a descobrir o princípio da vacinação, e isso aconteceu porque ele estragou um lote de cólera que injetou em algumas galinhas. E ele descobriu que essas galinhas foram as únicas que não tiveram cólera. E então ele pensou, “Ó meu Deus, se der a alguém um pouco da doença, então o seu sistema imunitário começa a funcionar e eles tornam-se imunes à doença.”

Tudo bem. Como é que ele aprendeu isto? Bem, ele aprendeu porque ele seguiu aquilo que gostava e aplicou-o à química. E depois disse, a criatividade só atinge as mentes questão preparadas. Só quando fazemos aquilo que gostamos é que mergulhamos profundamente num assunto e reconhecemos os padrões, conhecemos muito bem os padrões estereotipados, de modo que estamos aptos a reconhecer os padrões bizarros.

Assim, no seu caso, não vou dizer que se deveria dedicar só à escrita. Isso não é fazer pesquisa. A pesquisa diz, “Leve a sério aquilo que gosta, pois isso vai levá-lo a aprender mais e mais, e vai trazer mais inovação e criatividade. E se realmente quer estar perante o público e falar, as suas paixões sobre o modo como comunica serão o melhor trampolim para a ajudar a melhorar as suas competências comunicativas em público. Não quer dizer que vai ser como…

ALISON BEARD: O Marcus.

MARCUS BUCKINGHAM: Como o Barack Obama. Como eu. Posso dar-lhe um exemplo disto? A Alison sabe que eu faço muitas conferências, e eu comecei a gaguejar. Não falei até aos 12 anos. Andei na terapia da fala para aprender como… Nós traumatizamos toda a gente e tudo se estava a transformar num trauma por causa de gaguez. Uma altura, o idiota do diretor da minha escola disse-me que eu ia ler alto na igreja. E eu pensei “Ó meus Deus, a minha carreira acabou. Eu nem consigo dizer o meu nome, quanto mais falar.” Ninguém pede a uma criança gaga para ler na igreja. Isso é ser sádico.

ALISON BEARD: Certo.

MARCUS BUCKINGHAM: Seja como for, levantei-me e fui para a igreja, e nem sei como ou porquê, o estímulo que os meus olhos tiveram fez com que as minhas sinapses disparassem, de um modo que nunca tinha acontecido, e eu consegui falar. Fiz tudo sem gaguejar. Em primeiro lugar, isto foi uma grande descoberta. Em segundo lugar, eu descobri o meu fio vermelho. Ter as pessoas a olhar para mim faz-me falar. O que não deixa de ser interessante, pois eu vi o que estava à minha frente e fiz de conta. Quando falava com alguém individualmente, no recreio da escola, eu fazia o mesmo, imaginava que estava a falar perante 400 pessoas e a minha gaguez desaparecia. Aquilo que tinha sido a minha experiência de criança em desenvolvimento, desapareceu numa semana.

Então, eu acidentalmente, descobriu qual era o meu fio vermelho e usei isso para aprender a lidar com algo que tinha sido bastante difícil para mim. Por isso, o mesmo acontece com todos nós. As nossas paixões são a nossa salvação quando a vida nos tenta esmagar. Nós por norma, não pensamos nisso. Mas isto, não tem a ver com conforto. Tem a ver com honrar aquilo que gostamos e que nos eleva. Todos somos diferentes, e isso promove-nos.

ALISON BEARD: Claro. O outro risco é que descobre os fios vermelhos, mas não são suficientes para criar a manta ou para os descobrir diariamente. Por isso, há o perigo de se encontrar apenas alguns, vai permanecer num emprego que não lhe vai permitir encontrar alegria e felicidade.

MARCUS BUCKINGHAM: Bem, é necessário mudar a metáfora daquilo que é um emprego. Pensamos numa carreira como uma escada, ou como uma malha, ou como algumas pessoas dizem é uma selva. Mas todas essas metáforas são metáforas ascendentes. Uma outra forma de pensar a carreira é como uma caça ao tesouro. É a caça pelo amor. Se dá o seu máximo numa carreira de que não gosta, então tem de se transformar num caçador. Tem de procurar os fios vermelhos pois precisa deles diariamente, pois os dados mostram que isso é que é importante. É assim que faz florescer.

Se faz parte dos 73% de pessoas que diz que consegue fazer manobras para encaixar no seu emprego, então deve continuar à procura. Deve tentar, diariamente, perceber como manobrar o seu emprego de modo que se transforme numa manifestação daquilo que é. Continue a procurar os fios vermelhos. Talvez aprenda uma nova competência, que faça com que as pessoas digam, “Ó meus Deus, vamo-nos curvar perante ela.”

Se como disse, estiver no grupo dos 27% que dizem que não têm liberdade para manobrar então provavelmente está no emprego errado, e neste caso deve continuar a procurar. Neste ponto, o amor não é um luxo. O amor é uma necessidade para os humanos. Não estou a dizer o amor pelo próximo. Embora, isso também seja uma necessidade. Eu quero dizer, nós necessitamos de atividades que sejam a nossa cara e o trabalho não é o único lugar. Mas sem dúvida que o nosso trabalho é um dos locais onde dedicamos muito do nosso amor.

Por isso, se estiver num trabalho onde não consegue encontrar os fios vermelhos, ou se calhar o seu chefe o impede, e perante o mercado de trabalho atual, se calhar tem mais poder do que alguma vez teve. Sabe como? Vou caçar para outro lado. Muito obrigada.

Não deve ser a sua primeira escolha, mas em algum momento, se vai pensar na sua carreira como uma procura do amor, em algum momento, isso vai ter de acontecer. “Isto não é para mim, e eu preciso de ir lutar para outro lugar. Mas assim, tem consciência sobre o que está a fazer, e sabe que não está a fugir de nada. Está à procura dos seus fios vermelhos.

ALISON BEARD: Fantástico. Mal posso esperar por falar mais sobre isto, principalmente, sobre como alteramos as nossas funções. Portanto, temos mais desses fios vermelhos. Mas isso será para os próximos episódios. Marcus, muito obrigada.

MARCUS BUCKINGHAM: Muito obrigada Alison.

ALISON BEARD: Tivemos Marcus Buckingham, autor de Amor mais Trabalho (Love and Work). Pode ouvir toda a mini série sobre encontrar alegria no trabalho, em hbr.org ou num canal de podcasts. Este episódio foi produzido por Mary Dooe. Com o apoio técnico de Rob Eckhardt. Ian Foz é o nosso gestor de áudio. Muito obrigada por acompanhar o HBT IdeaCast. Sou a Alison Beard.

Texto adaptado do artigo da autoria de Mary Dooe, da edição da revista da HBR da edição de abril de 2022, disponível em https://bit.ly/3LIAgCZ.

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