Quem trabalha num escritório, num ambiente empresarial, certamente já notou que cada vez menos pessoas levam bloco e caneta para as reuniões. A espiral dos notebooks, que prevalecia nas reuniões semanais, tem sido substituída pelos portáteis e tablets.
Faz sentido, uma vez que estamosnuma era de evolução tecnológica constante, e onde é esperado que enviemos links e materiais online, e que conduzamos chats virtuais e reuniões na web.O rápido já não é suficiente. Queremos o instantâneo. Enviar documentos logo depoisda reunião, quando se regressa à secretária, já se torna demasiado tempo deespera. Por isso, tirar notas ‘digitalmente’ e enviar relatórios durante asreuniões é o mais conveniente.
Mas estará a escrita ‘à mão’ morta?Deverá ter vergonha de levar uma caneta e papel para as reuniões? De acordocom uma pesquisa recente da Universidade de Princeton e UCLA, a resposta é NÃO.Quando se usa apenas o portátil para tirar notas, não se absorvem novosmateriais, essencialmente porque, digitar notas, encoraja a transcrições naíntegra, muitas vezes sem sentido.
Para este estudo, foram feitas três experiências, com o objetivo de responder à questão: As notas digitais sãoprejudiciais ao entendimento e à retenção de nova informação?
Para a primeira experiência, os investigadoresapresentaram uma série de filmes das TED Talks, a um conjunto de estudantes daUniversidade de Princeton. Os participantes foram instruídos a usarem asua estratégia usual de anotações, quer digitalmente, quer à mão. Mais tarde,os estudantes responderiam a algumas perguntas sobre o filme.
A pontuação dos alunos diferiulargamente entre aqueles que tiraram notas à mão e os que o fizeram noportátil. Enquanto os participantes que usaram computador tiraram notaslongas, mais como transcrições, durante o filme, aqueles que escreveram à mãoanotaram mais questões conceptuais e menos transcrições.
No segundo estudo, osinvestigadores instruíram um novo grupo de estudantes que, normalmente, tiravam ‘notas digitais’a não transcreverem a palestra na sua íntegra. Pediram aos participantes quetomassem notas nas suas próprias palavras e não transcrevessem, palavra porpalavra, aquilo que os oradores diziam.
Estes alunos assistiram também aofilme da palestra, tomaram as respetivas notas e, em seguida, fizeram o teste.
Os cientistas concluíram que ainstrução de não transcrever o discurso dos oradores tinha sido completamenteineficaz, e que os utilizadores do portátil continuavam a tomar notas de umaforma literal, em vez de usarem as suas próprias palavras.
Na terceira experiência, foi tida emconta uma outra variável – os investigadores descobriram que aqueles quetiravam notas no portátil produziam um número significativamente maior depalavras, do que aqueles que escreviam à mão. Seria, então, possível que oprimeiro grupo, caso tivesse tempo para estudar as suas notas, conseguissemelhores resultados nos testes? Uma vez que a memorização do conteúdo, paraaqueles que tiram notas em portáteis, é pior do que daqueles que escrevem àmão, seria possível que, pelo menos, as notas lhes fossem úteis?
Para este último estudo, a cada participante foi dado um portátilou um papel e uma caneta para tomar notas de uma conferência, e foi-lhes dito quevoltariam na semana seguinte e teriam 10 minutos para estudar as notas antes defazerem o teste.
Novamente, embora os estudantes dos portáteis tivessem registado uma maior quantidade de notas, os que escreveram à mão tiveram melhores resultados às questões.
Embora tirar muitas notas sejabenéfico, pelo menos até certo ponto, se as notas forem tomadas de formaindiscriminada ou se se transcrever todo o conteúdo, o benefício desaparece.
Embora, provavelmente, a sua fase dos testes eexames escolares já tenha passado, certamente continua a precisar de se lembrar datas,estatísticas ou pormenores de reuniões. Por isso, deve tomar notas. E, embora existam muitas maneiras de trabalhar com ferramentasdigitais, certamente lucrará mais se deixar o portátil ou o tablet na secretáriae trouxer um caderno e caneta.
Além da forma das anotações, deveainda ter em mente o conteúdo. Está mais concentrado em gravar aquilo que oorador está a passar no slideshow ou em ouvir, efetivamente, o que está a serdito? Escreva notas usando as suas próprias palavras. Isso vai ajudá-lo a processar e a resumir o que está a ser dito.
Claro que nem todas as reuniões são iguais. Por isso, éimportante distinguir a que tipo de reunião vai, para poder escolher o métodode tirar notas. Traga o seu portátil ou tablet, se souber que vai precisar deanotar apenas algumas ideias chave, ou uma lista de coisas para fazer, ou entãoaceder à internet. Mas, lembre-se, reuniões como apresentações, relatórios deprogresso, e avaliações de desempenho, contêm informações que precisa dememorizar. Se dispensar os seus meios digitais e trouxer a caneta e o caderno, asua memória vai agradecer-lhe.
Texto adaptado do artigo da autoria de Maggy McGloin, publicado no dia 31 de julho de 2015 em www.hbr.org