Cada um de nós possui um conjunto de crenças e atitudes – um quadro mental – que determina como interpretamos e respondemos às situações. Esse quadro mental define a forma como nos relacionamos com os outros, e, portanto, afeta também as pessoas com quem trabalhamos de forma simultaneamente subtil e profunda.
Uma pessoa desconfiada, por exemplo, analisa todas as situações de trabalho como competições e atua, „politicamente“, para promover seus próprios interesses às custas dos outros: alternando alianças, obtendo confiança, atribuindo culpa, retendo ou distorcendo informação. Estes comportamentos provocam o aumento do stress e a saturação dos outros, e diminuem a eficácia organizacional.
Em oposição, uma atitude de abertura, confiança e generosidade promove comportamentos que têm efeitos benéficos sobre os outros. Há diversos estudos que comprovam esta teoria, suficientes para afirmar até que ser solidário no trabalho contribui para „iluminar“ o dia dos colegas, e até ajuda a preservar a saúde e a vida destes.
Na verdade, o impacto social do nosso quadro mental ultrapassa o âmbito dos colegas de trabalho com quem interagimos diretamente no nosso dia a dia. Atinge também todos aqueles que estão conectados com eles, especialmente os seus companheiros, familiares e conhecidos. Pesquisas confirmam mesmo que as experiências de stress no trabalho atravessam fronteiras e prejudicam o bem estar dos familiares, afetando até o desempenho escolar dos filhos.
Esta cadeia pode desdobrar-se da seguinte forma: um líder que acredita que a melhor maneira de gerir a equipa é “mantê-la em rédea curta”, habitualmente faz exigências descabidas, confronta os funcionários em público, não dá feedback positivo e retém informações. Estes comportamentos provocam aumento dos índices de stress nos seus colaboradores. Quando estes chegam a casa depois do trabalho, estão mais propensos a demonstrar raiva e impaciência. O aumento do nível de stress implica a diminuição da qualidade do ambiente familiar. Para não arriscarem que os pais gritem com eles, os filhos “aprendem” a deixar os adultos sozinhos à noite. Em cadeia, derivam as mesmas complicações nas escolas, grupos e comunidades.
Felizmente, as relações positivas no ambiente de trabalho também têm fortes efeitos em cascata. Uma pessoa com um quadro mental positivo, aberto e confiante consegue agir de forma a criar nos colegas de trabalho recursos emocionais que enriquecem o bem estar e o equilíbrio funcional das famílias deles.
Durante anos, muitos gestores acreditaram que um colaborador competente e empenhado é aquele que é capaz de deixar a sua vida familiar e pessoal na porta do escritório e concentrar-se a 100% nas suas tarefas durante o horário de trabalho. Esta suposição é poderosa pois molda as expectativas sobre o que é preciso para ter sucesso profissional, define como as empresas avaliam o valor e o desempenho dos seus colaboradores, mas também orienta o comportamento dos gestores.
O problema é que apresenta as suas falhas. É um mito, pois os seres humanos não conseguem segmentar completamente as suas vidas. E esperar que o façam, só aumenta a tensão e diminui os ganhos que podem ser obtidos pela procura de vitórias em vários domínios da vida. No entanto, enquanto as empresas despertam cada vez mais para a consciência dos ganhos mútuos da integração da vida profissional com a vida familiar e pessoal, a mentalidade das esferas separadas ainda persiste.
Ficam aqui algumas dicas para irradiarmos energia positiva e produtiva nas nossas equipas e consequentemente nas suas redes familiares e pessoais:
- Seja um modelo de integração entre vida profissional e a vida familiar e pessoal. Esteja aberto aos seus próprios desafios e estratégias para conciliar o trabalho, família e vida pessoal. Deixe que os seus colaboradores o vejam como uma pessoa completa.
- Aprecie os outros como pessoas completas. O facto de todos os seus colegas terem uma vida além do trabalho significa que a equipa e a organização estão inseridas numa grande rede de relacionamentos valiosos e de objetivos partilhados. Apreciar os compromissos dos outros fora do domínio do trabalho, permite criar abertura suficiente para procurar maneiras de criar ganhos mútuos trabalho-vida familiar e pessoal.
- Esteja disposto a experimentar. Mantenha o foco nos objetivos que a sua equipa ou organização está a tentar alcançar e em como cada pessoa pode contribuir da melhor forma para esses resultados. Pergunte aos colaboradores o que poderia ajudar a aumentar a sua capacidade de alcançar os resultados esperados, e ao mesmo tempo, amplificar o seu bem-estar além do trabalho. Quando os funcionários estão envolvidos na conceção e implementação de soluções, o seu compromisso em atingir os resultados é muito mais forte.
- Ofereça apoio sócio-emocional. Compreensão em relação aos desafios da conciliação do trabalho com a vida familiar e pessoal, sensibilidade quanto à forma como o trabalho pode afetar a vida pessoal, demonstrando respeito e oferecendo apoio, são atitudes que contribuem para a promoção de relações positivas que ajudam os colaboradores a manter o equilíbrio necessário, com o mínimo de conflito possível, perante as dificuldades de conciliação entre o trabalho e a vida familiar e pessoal.
- Seja um defensor da integração da conciliação entre trabalho e vida familiar e pessoal na sua organização. Explique porque é que acredita que é importante reconhecer e corresponder aos desafios da conciliação da vida profissional com a vida familiar dos colaboradores. Partilhe com outros gestores casos de sucesso e exemplos para os ajudar a entender como podem fornecer suporte às suas equipas.
Pode ser difícil reconhecermos e mudarmos o nosso próprio quadro mental (na verdade, esta meta é o foco do desenvolvimento de liderança). Uma forma simples de fazer um autoexame, é através da resposta à pergunta: que tipo de influência social eu gostaria de ter?
De uma forma geral, cada pessoa que supervisionamos ou com quem trabalhamos, acaba por nos incluir na sua rede de relações – inicialmente da sua família direta, mas também, dos seus grupos, comunidades e em última instância da sociedade.
Assim, devemos refletir sobre que tipo de efeitos pretendemos transmitir a todas estas redes, pois de uma maneira ou de outra, estes efeitos secundários vão ser criados e efetivos.
Texto adaptado do artigo de Monique Valcour, publicado em http://blogs.hbr.org/, no dia 7 de maio de 2013