Michelangelo abordou a arte de esculpir com a humildeconvicção de que uma obra de arte já existe dentro da pedra, e o seu trabalhoera, apenas, liberá-la. Os melhores mentores abordam a sua arte da mesma maneira.
Psicólogos sociais confirmam que, nas melhores relaçõesromânticas, os parceiros moldam-se um ao outro, de tal maneira, que aproximam ooutro do seu ideal de pessoa, ou seja, ao ‘eu’ que desejam ser. Um parceiro derelacionamento atencioso compromete-se, em primeiro lugar, a compreender ooutro. Mas, um bom mentor, também consegue ver o ‘eu’ ideal do outro – aquele serúnico e promissor que pode estar escondido.
Como é que um mentor desenvolve a visão do ‘eu’ idealdo mentorando? Tudo se resume à arte da afirmação. Evidências revelam que doiscomponentes distintos entram aqui em jogo. Primeiro vem a afirmação percetual. Osexcelentes mentores dedicam tempo para realmente ‘ver’ os seus aprendizes,compreendendo – e aceitando – os seus autênticos e verdadeiros ‘eus’, e os seus‘eus’ ideais e imaginários. Isso leva tempo e requer paciência. Um mentor deveganhar confiança, ser acessível e saber ouvir. Aqui está a chave: quando o ‘eu’ideal de um mentorando se torna claro, o mentor deve, consistentemente, apoiara visão do aprendiz.
O segundo elemento envolve a afirmação comportamental,ajudando os aprendizes a adotarem comportamentos alinhados com seus ‘eus’ideais. Percebendo o ‘eu’ que o aprendiz sonha ser, o mentor deve abrir portase dar oportunidade para que o aprendiz consiga lá chegar.
Para os mentores, pode ser um desafio usar aabordagem de Michelangelo quando estiverem a orientar alguém do sexo oposto. Istoé especialmente verdade para mentores masculinos e aprendizes do sexo feminino,que é o emparelhamento mais comum. A verdade é que os homens ainda são maispropensos a ocupar altos cargos de liderança, na maioria das organizações e,portanto, compõem a maioria dos mentores.
Investigações revelam que as mulheres enfrentam maisbarreiras para encontrar um mentor, e que, mesmo quando o encontram, podem ter menosbenefícios profissionais e psicológicos. Uma razão para isso pode ser o factode, quando se trata de skillsinterpessoais fundamentais, como a escuta, os homens têm mais dificuldades coma escuta ativa, necessária para ajudar um aprendiz a esculpir o seu ‘eu’ ideal.
Podem os homens, realmente, encarnar Michelangelo eorientar as mulheres com humildade e paciência? Os estudos dizem que sim mas,somente, se trabalharem para entenderem algumas das característicasda masculinidade socializada que, frequentemente, interferem nas boas mentoriasentre géneros.
Primeiro, quase todos os mentores têm a tendência dese tentarem clonar nos seus aprendizes. Isto é, muitas vezes, inconsciente. Pressionamos mentorandos para procurar trajetórias de carreira e tomarem decisões de vidaou carreira que espelhem as suas próprias escolhas. A clonagem está a anos de distânciada teoria de Michelangelo.
Embora isto seja verdade para mentores masculinos e femininos,é mais difícil para os mentores do sexo masculino superarem esta questão,devido à forma como homens e mulheres são educados a ouvir, e também pelo factode as mulheres serem (geralmente) mais orientadas para relacionamentos e oshomens serem (geralmente) mais orientados para as tarefas. Para evitar essatendência de clonagem instintiva, os homens precisam de se esforçar pararealmente ouvir as mulheres que orientam, concentrando-se mais norelacionamento e menos na tarefa específica que está a ser discutida. Os homenstambém têm mais tendência a saltar para a resolução do problema antes de ouvir,entender e avaliar a perspetiva da mulher.
Os homens que pretendem seguir a orientação de Michelangelopodem ser ‘assaltados’ por suposições problemáticas de género sobre os mentorandos.Robert Lightfoot, diretor da NASA, partilha como é que as suposições odesviaram do caminho certo:
“Tive muita sorte no início da minha carreira por teruma experiência nesta área. Estava num comitê de seleção e um dos membrosda comissão era um dos meus mentores, uma mulher. Muito rapidamente, o comitêchegou a um consenso sobre uma candidata. Enquanto discutíamos sobre acandidata, eu fiz o seguinte comentário: «Esse trabalho exige muitas viagens eela acabou de ter um bebé. Isso pode ser realmente difícil, caso seja contratada.»Felizmente, a minha mentora olhou para mim e disse claramente: «Essa não é umadecisão nossa. Ela sabe que tem que viajar, ela sabe que acabou de ter um bebé.Não devemos tomar a decisão por ela.» Isso atingiu-me como uma tonelada detijolos.”
Outro elemento crucial é a honestidade/bondade ehumildade de género. Esta é a arte de ser autoconsciente e humilde sobre tudo oque não se sabe sobre as mulheres em geral, e sobre a experiência da aprendizcomo mulher, especificamente. A humildade autêntica de género requer uma genuínacuriosidade sobre as experiências e preocupações únicas da mentoranda,transparência em relação aos limites da compreensão e a capacidade de expressarempatia quando ela revelar os seus sonhos e ambições para o futuro.
Aqui está uma advertência. Se um aprendiz parecerestar com um objetivo muito pequeno, um bom mentor irá pintar uma visão maisambiciosa e inspiradora do seu potencial, incluindo possibilidadesanteriormente não contempladas. Grandes mentores são, muitas vezes, ousados eaudaciosos sobre a capacidade de um aprendiz. Por exemplo, Sandy Stosz, umalmirante de três estrelas da Guarda Costeira, revelou recentemente:
“Os meus mentores deram-me oportunidades sobre asquais eu não tinha pensado. Deram-me a chance de ver além daquilo que eu tinhacomo visão de mim, que era apenas tornar-me um marinheiro e comandar um navio. Ajudaram-mea ver um cenário maior, não apenas a Guarda Costeira, mas todo o Departamentode Transportes. Esses dois homens mostraram-me que não me devo contentar apenasem ir para o mar… Que há empregos e possibilidades especiais que eu nem sequer considerei.”
No final, um grande mentor honrará o ‘eu’ ideal e osonho de carreira do mentorando (não aquele em que ele próprio investiu ou queespelha a sua própria carreira). Estes mentores-escultores ouvem pacientemente,questionando, aceitando incondicionalmente e ajudando, generosamente, aelaborar o sonho e a apoiar o/a aprendiz para que ele/ela lá chegue.
Texto adaptado do artigo da autoriade W. Brad Johnson e David G. Smith, publicado a 23 de janeiro de 2018 em:https://goo.gl/kPsCD1.