![Os trabalhadores em teletrabalho também precisam de conversas informais 1 48e182204d4f0982f6f7baac42bf23171e7f459e](https://Casais.client.signed.dev/wp-content/uploads/2021/12/48e182204d4f0982f6f7baac42bf23171e7f459e.jpg)
Antes do Covid_19 e do distanciamento social, a conversa informal fazia parte do ritual do local de trabalho, para a grande maioria dos trabalhadores. Trocavamos “olás” com os colegas no caminho para o estacionamento, conversávamos sobre o fim-de-semana enquanto aguardávamos o início das reuniões e partilhávamos as histórias da nossa família com os nossos colegas de escritório. Estes momentos, provavelmente, duravam apenas minutos, no entanto desempenhavam um papel importante na ligação que criavam com o trabalho.
A conversa fiada é importante para nós de muitas maneiras, deixa-nos mais relaxados e ajuda na transição para situações mais sérias como negociações, entrevistas de emprego, vendas e avaliação de desempenho. As pequenas coisas que aprendemos sobre os nossos colegas; que eles tocam guitarra ou adoram cães, ajudam a construir uma relação mais próxima e ajudam na construção de laços de confiança. De acordo com os estudos, estes encontros e conversas espontâneas, entre colegas, favorecem a colaboração, melhoram a criatividade, inovação e desempenho. Algumas pessoas afirmam que estas conversas lhes dão energia e deixam com a sensação de ser visto. Tal como nos disse um trabalhador de uma pequena e média empresa de contabilidade “Os seus colegas não têm de saber todos os detalhes da sua vida, mas faz com que todos se sintam pessoas verdadeiras.” Não admira por isso, que muitos de nós lamentem o fim destas conversas durante a pandemia, que levou à explosão do trabalho a partir de casa.
No entanto, há aqueles que são muito cépticos em relação à conversa fiada. Dizem que ficam ansiosos, aumenta o falatório, é um desperdício de tempo, não é autêntico e é estranho. Algumas pessoas até chegam à reunião mesmo em cima da hora para evitar estas conversas. Isto faz da conversa fiada um paradoxo social e por isso levanta-se a seguinte questão: será que estas conversas são mais úteis ou mais dolorosas para o dia-a-dia dos funcionários?
Numa tentativa de tentar resolver esta questão, questionamos 151 trabalhadores a tempo inteiro, três vezes por dia antes da pandemia. Perguntamos a quantidade de conversas que tinham ao longo do dia, no local de trabalho, e as emoções positivas (amizade, orgulho e gratidão) e a capacidade de concentração. Todos os dias, eles reportavam o seu nível de bem-estar e comportamentos prosociais.
Os resultados revelaram que a conversa fiada era encorajadora e distratora. Nos dias em que os trabalhadores tinham mais momentos de conversa fiada, experimentavam mais emoções positivas e menos cansaço. Também tinham mais vontade de ajudar os colegas. Ao mesmo tempo, estavam menos concentrados no trabalho e menos focados, o que diminuía a capacidade de ajudar os outros.
Porém, descobrimos que um grupo de pessoas que eram adeptas de estudar os outros e ajustar-se às conversas, sentiam-se menos transtornados com a conversa fiada. Também observamos que as conversas não tinham de ser longas ou intimas para ter benefícios. De um modo geral, percebemos que o lado positivo destas conversas compensava o lado negativo e esses aspetos mais negativos podiam ser geridos.
Uma vez que as organizações consideram optimizar a estratégia de teletrabalho após a pandemia, vai ser necessário tornar a conversa fiada como elemento integrante do ecossistema do trabalho. A boa nova é que o teletrabalho apresenta uma vantagem surpreendente para o valor da conversa fiada. Baseados na nossa pesquisa, oferecemos os seguintes conselhos aos gestores e funcionários:
Estimule novos rituais sociais. O trabalho a partir de casa diluiu as barreiras entre o trabalho e a vida pessoal dos trabalhadores, e sem as rotinas como as viagens para o trabalho, para separar a vida profissional da vida pessoal, muitos são os que lutam para tentar separar estes dois mundos. As conversas informais podem ajudar os trabalhadores a libertarem-se do seu papel mais caseiro e empenhar-se no mundo do trabalho. Por isso, é que é muito importante, no início de cada reunião cumprimentar os colegas, trocar elogios, e fazer perguntas engraçadas. Isto pode também imprimir um tom mais positivo à reunião.
Outra estratégia pode ser incluir salas de estar virtuais no Slack ou Teamwork, onde as equipas podem socializar e beber um café virtual, falar de trivialidades, e happy hours. Um estudo recente da INSEAD com mais de 500 profissionais a trabalhar remotamente por todo o mundo, mostrou que as equipas que mais prosperavam no meio virtual eram aquelas que agendavam encontros sociais que envolviam jogos, partilhavam playlists, recomendavam livros e clubes de filmes. Embora este divertimento obrigatório, possa ter sido algo estranho no início, as equipas que não se envolveram nestes rituais lutaram muito mais para se adaptar ao novo normal e mostraram estar menos conectados.
Recrie encontros causais. Algumas instituições encontraram formas criativas de orquestrar interações virtuais informais entre os colaboradores. Empresas como a Spark Collaborationajudam os colaboradores a organizar chamadas de vídeo tipo roleta russa que emparelham coloboradores, que normalmente não se conhecem, em situações de comunicação real. Um dos clientes da Spark explicou a uma empresa de advogados, “Durante a pandemia foi importante para nós assegurar que os colaboradores mantinham relações ocasionais, daquelas que se conseguem estabelecer no escritório, e que ajudam na inovação, construções de relações e colaboração. Tem sido valioso na construção de relações. Plataformas como a Airmeetajudam a criar espaços virtuais para os colaboradores se encontrarem. Uma das grandes vantagens é que estas situações, embora menos espontâneas, são mais inclusivas, pois oferecem a todos a oportunidade de se relacionar em vez de deixar isso ao acaso.
Seguir o guião. Os gestores assim como os colaboradores devem ter algum cuidado para não deixar que estas conversas sejam negativas. A conversa informal deve ser polida, com nível, e centrada em tópicos neutros, como por exemplo o tempo, desporto e televisão. Nunca deve ser transformada em bisbelhotice, principalmente acerca da empresa e dos colaboradores, o que leva à falta de civismo, cinismo e desconfiança. Os gestores devem manter as equipas longe de temas controversos como religião, política e relações amorosas. Algo que também deve ser evitado é a partilha de pormenores pessoais; partilhar os nossos motivos de ansiedade pode até nem ser mau se estamos com um colega a tomar café, mas não é positivo quando estamos a conhecer alguém pela primeira vez. Se alguém nos perguntar, “Como é que estás?” é falta de educação estar a relatar o nosso péssimo dia. Porém, com a pandemia é muito normal ouvir “Espero que tu e a tua família estejam bem” e mostrar a nossa preocupação e interesse.
Realçar o lado positivo. Dar importância às conversas informais pode potenciar a felicidade dos colaboradores e da empresa e pode evitar o isolamento. Encoraje os colaboradores a manter uma vida social saudável, ao fazer pausas sociais ao longo do dia. Podem até ser tidas como contraproducentes, uma vez que se sente a pressão dos prazos, porém, os estudos sugerem que estas práticas são reparadoras e reduzem os efeitos do burnout. As novas aplicações, como a Water Cooler, permitem aos colaboradores escolher uma hora para conversar com os colegas de trabalho sobre os seus interesses comuns, hobbies ou objetivos de exercício físico. Uma vez que o programa tem uma janela fixa para as conversas, pode prevenir que o horário de trabalho seja reduzido, o que se torna mais difícil de gerir em situações de comunicação reais.
Os colaboradores podem perguntar-se “Hoje sinto-me mais ou menos conectado?” “A quem é que eu posso recorrer se precisar de ajuda?” e “Quais são as relações mais importantes para mim?”. Para além disso, estratégias simples como uma simples confirmação, pode aliviar os sentimentos de solidão do colaborador. Para além de ser fácil, esta abordagem é extremamente eficaz. A investigação tem mostrado que os colaboradores têm maior sentimento de pertença no trabalho quando os colegas enviam o email ou uma mensagem a perguntar por eles.
À medida que estamos em reuniões via Zoom e os desafios profissionais vão surgindo, não devemos subestimar o valor da conversa fiada. Só porque estamos a trabalhar remotamente não significa que as conversas informais não sejam importantes. De facto, podem ser mais importantes do que nunca, pois ajudam-nos a tirar proveito das oportunidades de ligação durante este fosso virtual.
Texto adaptado do artigo da autoria de Jessica R. Methot, Allison S. Gabriel, Patrick Downes, e Emily Rosado-Solomon, na edição da revista da HBR da edição de março de 2021, e disponível em https://url.gratis/pFogAG