Stressados. Ansiosos. Exaustos. É assim que muitos colaboradoresse sentem no trabalho devido a fatores stressantes, tais como horas de trabalhomais longas, dificuldades frequentes, necessidade de apresentar mais trabalho commenos recursos e por aí adiante. O stress no trabalho tem vindo a induziransiedade e raiva, comportamentos antiéticos, tomadas de decisão deficientes,depressão e esgotamento crónico – os quais prejudicam o desempenho pessoal eorganizacional.
Tipicamente, existem duas formas como as pessoastendem lidar com o stress. Uma delas destaca-se pela obsessão e concentração emrealizar o trabalho stressante o mais rapidamente possível. Os colaboradores possuem,muitas vezes, um “viés de ação” para encontrar uma solução rapidamente; estestêm orgulho em ser pessoas duras, que podem continuar a trabalhar, apesar de sesentirem stressados e exaustos.
A outra tática comum é recuar – desligartemporariamente do trabalho e fugir do ambiente stressante. Nos últimos anos, osestudos acerca do dia-a-dia no trabalho têm aumentado exponencialmente e, amaioria, defende que relaxar e aproveitar intervalos pode melhorar as emoções eaumentar a energia no trabalho. Isto ajuda a explicar o investimento dedeterminadas organizações em zonas de relaxamento e entretenimento,equipamentos de ginástica e serviços de saúde e bem-estar.
Infelizmente, tanto a concentração excessiva como oafastamento possuem potenciais armadilhas. A pesquisa na área estabeleceu hámuito tempo que os seres humanos têm limites no que diz respeito à cargahorária de trabalho. Continuar a trabalhar em esforço, quando já está stressadoe exausto, pode levar a um desempenho abaixo da média e ao esgotamento. É certoque uma pausa no trabalho contribui para um alívio temporário, mas não resolveos problemas subjacentes que causam o stress. Por exemplo, quando voltamos deuma pausa, não nos deparamos apenas com os mesmos problemas; também podemossentir culpa e ansiedade adicionais.
O que podem os colaboradores fazer para amenizar osefeitos nocivos do stress? A pesquisa sugere uma terceira opção: foco na aprendizagem. Isto significaadquirir uma nova competência, reunir novas informações ou procurar desafiosintelectuais.
Em dois projetos de pesquisa recentes, um comfuncionários de várias organizações e outro com médicos, foram encontradas evidências de que participar em atividades de aprendizagempode proteger os colaboradores dos efeitos prejudiciais do stress, incluindoemoções negativas, comportamento antiético e esgotamento.
A aprendizagem ajuda os colaboradores a construirvaliosos recursos instrumentais e psicológicos. A aprendizagem traz novasinformações e conhecimentos que podem ser úteis para resolver problemasstressantes de curto prazo; a aprendizagem também nos fornece novascompetências e capacidade para abordar ou até prevenir futuros picos de stress.Psicologicamente, refletir sobre o que sabemos assim como aprender novascompetências, ajuda-nos a desenvolver sentimentos de competência e autoeficácia(a sensação de sermos capazes de alcançar objetivos e fazer mais). Aprendertambém nos ajuda a assimilar um propósito subjacente de crescimento edesenvolvimento. Desta forma, o ser humano aprimora o seu desenvolvimento, não ficandopreso a recursos fixos. Estes recursos psicológicos permitem-nos construir aresiliência perante situações de stress.
Evidênciasda aprendizagem como ferramenta para aliviar o stress
Dois estudos complementares abordaram mais de 300colaboradores americanos de diversas organizações sobre os seus fatores destress e comportamento no trabalho. Estudos anteriores tinham afirmado que,face ao stress, as pessoas tendem a desenvolver um comportamento antiético notrabalho (por exemplo, roubar, falsificar folhas de tempo ou ser rude comcolegas). Desta forma, observamos os colaboradores em processo de aprendizagemde novas tarefas ou a relaxar no trabalho. O primeiro estudo utilizouquestionários diários para acompanhar os sentimentos e atividades dos colaboradoresno trabalho durante duas semanas e, o segundo estudo utilizado emparelhourespostas de vários inquéritos para estabelecer uma relação entre as atividadese os sentimentos dos colaboradores com o que os seus supervisores observaram.
Em ambos os estudos, os colaboradores mencionaram ograu de envolvimento com as atividades de aprendizagem no trabalho (por exemplo,formações, novos projetos) bem como as suas atividades de relaxamento notrabalho (por exemplo, dar um passeio ou navegar na web).
O primeiro estudo revelou que, face ao stress, oscolaboradores experimentaram menos emoções negativas (por exemplo, ansiedade,angústia) e menos comportamentos antiéticos (por exemplo, assumir a propriedadeda empresa, ser mesquinho com colegas de trabalho) nos dias em que seenvolveram em mais atividades de aprendizagem. Da mesma forma, no segundoestudo, o mesmo tipo de benefícios foi mais comum entre os colaboradores querelataram ter um maior número de atividades de aprendizagem.
Por outro lado, as atividades de relaxamento não tiveraminfluência nas consequências prejudiciais do stress, ou seja, os colaboradoresexperimentaram os mesmos níveis de emoções negativas e demonstraram comportamentosantiéticos nos dias em que realizaram atividades mais relaxantes no trabalho equando geralmente se concentravam mais no relaxamento. Desta forma, pode-seconcluir que as atividades de relaxamento não são tão eficazes como aaprendizagem.
Os efeitos da aprendizagem foram ainda evidenciadosnum outro estudo com médicos, cujo trabalho envolve a tarefa stressante decuidar de pacientes em estado crítico enquanto trabalham muitas horas semperíodos de descanso.
Em resposta à crescente questão sobre o desgastemédico, foram entrevistados cerca de 80 médicos de medicina interna daUniversidade Johns Hopkins. O estudo teve como objetivo perceber a relação enteo comportamento de trabalho o desgaste.
O estudo revelou que os médicos que estavam maisenvolvidos em comportamentos de aprendizagem (procura de novas informações oureflexão sobre o processo de trabalho em equipa) relataram níveis significativamentemenores de burnout.
Utilizarestrategicamente a aprendizagem no trabalho
O que pode fazer para aumentar a sua aprendizagemno trabalho quando confrontado com o stress?
Primeiro,comece internamente. Tente reenquadrar o trabalho stressante. Altere amensagem que diz a si mesmo de “esta é uma tarefa / situação de trabalho stressante”para “esta é uma oportunidade desafiadora, mas recompensadora”. Reenquadrar as tarefasstressantes como possibilidades de aprendizagem, muda a sua mentalidade e prepara-opara abordar a tarefa com uma orientação para o crescimento.
Em segundolugar, trabalhe e aprenda com os outros. Se não está a conseguir lidar comum trabalho, tente obter informações dos outros. Discutir projetos e ideias comos seus colegas pode revelar insights preciosos e novas perspetivas.
Terceiro,encare as atividades de aprendizagem como uma nova forma de realizar uma pausano trabalho. Para além dos intervalos para relaxar, encare o processo deaprendizagem como uma rutura com as tarefas diárias. Ver a aprendizagem como “maisum trabalho” irá tornar o processo menos atraente numa situação já stressante;abordá-lo como uma forma de descanso pode torna-lo mais atraente e maispropenso a experiências positivas e agradáveis.
Abraçar a aprendizagem pode ser a maneira maisativa de se proteger dos efeitos negativos do stress no trabalho. Ao mesmotempo, não é necessário esperar por um pico de stress para começar a procurar oportunidadesde aprendizagem. O envolvimento com o processo de aprendizagem deve ser uma característicada vida profissional, que o ajudará a construir recursos pessoais e aprepará-lo para ser mais resiliente.
Texto adaptado do artigo da autoria de Chen Zhang,Christopher G. Myers e David M. Mayer publicado no dia 04 de setembro de 2018no website da Harvard Business Review (https://hbr.org/2018/09/to-cope-with-stress-try-learning-something-new).