Nas redes sociais, a popularidade é medida por aquilo que temos ou não temos. E aqueles que normalmente são populares são líderes que inspiram, pessoas que estão sempre disponíveis e prontas a ajudar os outros. Por vezes, esta descrição faz vista grossa a uma realidade psicológica importante: ritmo circadiano.
O processo circadiano é o nosso ciclo biológico durante 24 horas que influencia uma série de processos fisiológicos, mais notavelmente, os períodos de sono e de estar acordado. O processo circadiano é um condutor muito poderoso da função cognitiva, humor e comportamentos. Nós comunicamos mais claramente e demonstramos emoções mais positivas quando estamos no pico da nossa capacidade de estarmos despertos e alerta e somos menos eficazes nestas atividades durante os períodos de sono, mesmo estando acordados. No entanto, o processo circadiano não é igual para todos, pessoas diferentes têm ritmos diferentes. Algumas pessoas têm a tendência para acordar de manhã cedo e deitar-se cedo. Estas pessoas são normalmente denominadas de cotovias. Outros, por seu lado, preferem deitar-se tarde e acordar tarde e são conhecidos como corujas. Estas diferenças refletem-se no ciclo de sono de cada pessoa.
As pessoas carismáticas mostram emoções positivas como a esperança, otimismo e entusiasmo. Os líderes que procuram carisma têm de regular as emoções de modo a infundir esse entusiasmo nos seus colaboradores. A nossa equipa de investigadores da Universidade do Indiana e de Washington descobriu que quando os líderes têm o seu ciclo circadiano em baixo (caracterizado por baixos níveis de alerta, energia e humor pobre) são tendencialmente menos carismáticos. Por outro lado, espera-se que quando os líderes estão com o ciclo circadiano em alta, são mais carismáticos. Claro que, levantamos a hipótese de que as cotovias tenham mais carisma de manhã do que à tarde, e que as corujas tenham mais carisma à tarde do que de manhã.
O nosso artigo sobre Leadership Quarterly, mostra como testamos esta experiência em laboratório. Pedimos a um conjunto de estudantes que respondessem a um questionário, para verificar se eram cotovias ou corujas. Esta diferença individual no ritmo circadiano recolhe informações sobre o ciclo de sono. De seguida selecionamos 131 que eram cotovias ou corujas e pedimos que participassem numa tarefa de role-play, durante o qual seriam os oradores de uma cerimónia de graduação. Escolhemos os participantes aleatoriamente, para que pudessem fazer os seus discursos logo pela manhã (sessões a começar às 7 da manhã) ou então a iniciar à noite (sessões a iniciar à meia-noite). Tínhamos dois observadores a avaliar o nível inspirador dos discursos. Tal como esperávamos, o alinhamento do ciclo de sono era um preditor de carisma. As cotovias faziam discursos mais inspiradores na sessão das sete da manhã, enquanto as corujas faziam discursos mais interessantes à meia-noite.
Para explorar esta ideia, avaliamos o papel dos seguidores. As perceções dos seguidores do líder são orientadas pelas ações do próprio líder, mas também pelo modo como os seguidores se sentem nesse momento. Percebemos que os sentimentos dos seguidores também eram orientados pelo seu ciclo circadiano. Quando os seguidores estão com baixa de energia no que diz respeito ao ritmo circadiano, o seu humor vai sofrer, e vão atribuir isso à falta de carisma dos seus líderes. Os discursos exuberantes dos líderes são menos eficazes quando os seguidores estão cansados e simplesmente não os querem ouvir. Claro que esperamos que os seguidores que são como as cotovias, sintam os seus líderes mais carismáticos durante o dia, do que à noite, e aqueles que são como as corujas que os sintam mais carismáticos à noite do que de manhã cedo.
Para testar esta ideia, pegamos numa nova amostra de estudantes e pedimos-lhe que completassem um questionário para medir o ciclo de sono e depois convidamos uma série de cotovias e corujas para analisar os seus discursos. Neste estudo, pedimos aos participantes que avaliassem os discursos, previamente gravados, e o grau de carisma de cada um dos líderes. Mais uma vez, aleatoriamente, pedíamos às cotovias e às corujas que avaliassem discursos feitos pela manhã e discursos proferidos à meia-noite. Tal como era esperado, as cotovias classificavam como mais carismáticos os oradores que proferiam os discursos de manhã e as corujas o contrário. Os líderes com mais carisma eram os que faziam os discursos à noite. Isto sugere que é fácil inspirar as cotovias de manhã e as corujas à noite.
Esta pesquisa inicial utilizou uma amostra restrita de estudantes universitários e, portanto, deve ser visto como um teste preliminar e claro que os locais de trabalho são complexos e as contingências de cada um dos locais têm efeitos no nosso tema. No entanto, estes estudos fornecem apoio empírico à nossa teoria de que os ritmos circadianos influenciam o carisma em ambos os lados da equação, no que respeita a liderança (líderes e seguidores). Isto significa que se o objetivo é inspirar os seus seguidores, então deve considerar o dia a partir de dois ângulos. Em primeiro lugar, considere a parte do dia em que é mais carismático. Se for uma cotovia, de certeza que funciona melhor de manhã e, portanto, deve aproveitar a manhã para inspirar os seus seguidores (ou pelo menos evitar o final do dia). Se for uma coruja, deve aproveitar a parte da tarde para dar o seu melhor (ou pelo menos evitar a manhã). Em segundo lugar, pense qual a fase do dia que os seus seguidores estão mais disponíveis para serem inspirados. Alguns dos seus seguidores podem não estar muito disponíveis durante a manhã e alguns podem não estar ao final do dia. Talvez seja boa ideia fazer um questionário sobre os ciclos de descanso de cada um dos seus colaboradores e encoraje a sua equipa a fazer o mesmo. Tudo isto pode ser benéfico na forma como estrutura o seu dia.
Em contextos mais simples, consegue ter os mesmos horários dos seus seguidores. Se todos forem cotovias, então estão mais abertos a ser inspirados durante a manhã, mas se todos forem corujas, então devemos focar-nos na parte da tarde. Na maioria das situações, não é possível um alinhamento total e completo. Se este for o seu caso, vai ter de procurar soluções. O ideal, nestas situações, é evitar fazer algo de manhã muito cedo ou deixar muito para o final da tarde. Um bom horário seria por volta das 11 da manhã, não é muito cedo para as corujas nem muito tarde para as cotovias, e evitar as horas de almoço, e claro as horas de maior baixa de produtividade, por volta das 3.30. A hora da sua escolha estará sempre condicionada pelo seu contexto. Também pode ser benéfico fazer mudanças no seu método de trabalho e liderança ao longo do dia, dependendo, é claro, da forma como se sente.
A cereja no topo do bolo é conseguir aumentar o seu carisma e a sua capacidade de inspirar a sua equipa estando atento quanto à melhor hora do dia para o fazer. Por isso, não ignore o seu ritmo circadiano, trabalhe sobre isso para aumentar a sua eficácia.
Texto adaptado do artigo da autoria de Laura M. Giurge e Vanessa Bohns, da edição da revista da HBR da edição de dezembro de 2021, disponível em https://bit.ly/3nT6C5d.
