
Quantas vezes teve a seguinte conversa no trabalho?
– Como estás?
– Bem. E tu?
– Bem.
É um diálogo que seguimos sempre, mesmo que estejamos a morrer por dentro.
É difícil construir conexões reais com os colegas de trabalho se nunca se ultrapassar a conversa mais superficial. No entanto, as pessoas que têm o seu “melhor amigo do trabalho” não só são mais propensas a serem mais felizes e saudáveis, como têm sete vezes mais probabilidade de se empenharem mais. Além disso, os colaboradores que têm amigos no trabalho têm maiores níveis de produtividade, retenção e satisfação, do que aqueles que não têm.
Muitas empresas tentam estreitar as relações entre os colaboradores através de momentos de convívio como jogos de ping-pong, almoços ou retiros corporativos, mas a realidade é que a maioria das pessoas não tem amigos próximos no emprego. Numa pesquisa de Pew e da American Life Project, apenas 12% dos inquiridos disseram que os amigos mais próximos fazem parte da vida profissional. E apenas 19% afirmam que já tiveram uma relação significativa com um colega de trabalho.
Este fenómeno parece ser particularmente americano. Passar férias com um colega é praticamente inimaginável – menos de 6% dos trabalhadores têm este grau de proximidade. A pesquisa do professor de Stanford, Hazel Markus, autor de Clash: Como prosperar num Mundo multicultural, sugere que esse facto é, provavelmente, devido à propensão cultural para uma independência feroz.
A pesquisa mostra que, após a alimentação e o abrigo, o sentimento de pertença é uma necessidade humana fundamental. Dado que passamos entre oito a nove horas do dia no trabalho (não incluindo o tempo de viagem), temos muito menos tempo para as necessidades sociais fora do trabalho. Quando não estamos a trabalhar, estamos a lidar com a família, a fazer tarefas ou a descansar. O local de trabalho, onde passamos grande parte do tempo, é o lugar ideal para promover as conexões positivas que todos precisamos – não apenas pelo bem-estar, mas também pela produtividade e saúde.
Assim, a amizade no trabalho é muitas vezes complicada, por vários motivos. As pessoas que são amigas dos colegas de trabalho tendem a ter uma melhor performance, mas também ficam emocionalmente mais exaustas e com dificuldade em manter as amizades. Quando o conflito surge (inevitavelmente) entre amigos no trabalho, o conflito leva a resultados negativos.
A dura realidade é que talvez não seja possível ter amizades no trabalho sem um elevado grau de dificuldade. Existem problemas reais que podem surgir quando os limites entre o trabalho e a amizade não estão definidos. As responsabilidades no trabalho devem ser prioridade sobre a socialização. Diretores e líderes precisam de continuar a ser capazes de atribuir tarefas e a hierarquia deve continuar a ser respeitada. As avaliações de desempenho têm de ocorrer de forma autêntica e honesta. A competitividade faz parte da cultura de trabalho, o que pode levar à falta de confiança. Afinal, como seria a amizade depois do colega se tornar chefe?
Paralelamente a esses fatores existe o medo de ser vulnerável, de partilhar demais, no caso dessa partilha o fazer parecer mais fraco ou menos competente – pior ainda, pode ser recriminado por isso.
Finalmente, a necessidade de parecer profissional cria uma necessidade de não ser demasiado informal ou familiar – afinal, a “distância profissional” garante que as pessoas mantêm o respeito. Tudo isso faz com que a amizade seja um trabalho duro – ou, pelo menos, um pouco assustador.
Talvez seja por isso que, apesar dos benefícios de ter amigos no trabalho, algumas pessoas o evitem. Algumas simplesmente não estão confortáveis em ter amigos no trabalho. Preferem uma relação mais formal com os colegas. E é válido. Muitos dos benefícios que provêm de ter amigos no trabalho, originam valores como a vulnerabilidade, a autenticidade ou a compaixão. Enfatizar esses valores em vez das relações, pode permitir que os locais trabalho sejam “amigáveis”, mesmo que não existam amizades. Além disso, um estudo de John Cacioppo, professor da Universidade de Chicago e autor de Loneliness, mostra que os verdadeiros benefícios de saúde e felicidade, provenientes da conexão social, dependem menos da quantidade de amigos e mais de como se sente ligado a eles (afinal, pode sentir-se sozinho numa multidão). Portanto, nutrir esse sentimento interno e subjetivo de conexão e simpatia é realmente o mais importante.
Enquanto algumas pessoas irão hesitar sempre em fazer amigos no trabalho, por estas ou outras razões, a conexão social é uma necessidade básica humana. Todas as amizades têm momentos difíceis. As amizades no trabalho apenas têm dificuldades diferentes.
Texto adaptado do artigo da autoria de Emma Seppala e Marissa King publicado a 8 de agosto de 2017 em: https://goo.gl/tXxqEk.