Texto traduzido e adaptado de Christine Porath and Adrienne Boissy
O tumultuoso mundo que vivemos atualmente, a pandemia, a economia, a guerra, políticas desagregadoras, a mudança na natureza do trabalho, e a instabilidade, provocam determinadas emoções em todos e cada um de nós. Sem dúvida, que essas emoções impactam o empenho das pessoas no trabalho. De acordo com a Gallup, o empenho dos trabalhadores reduziu cerca de 32% nos últimos anos, e 17% dos trabalhadores sente-se bastante desligado do trabalho.
De modo a lidar com estas questões, muitas empresas estão a dar prioridade ao cuidado com os trabalhadores. No entanto, e apesar dos esforços, um estudo da Deloitte com cerca de 1000 participantes, mostra que não se está a acertar no alvo. O elemento base do burnout é a falta de apoio ou reconhecimento por parte das chefias.
Umas das formas mais simples e poderosas de se se relacionar e cuidar dos trabalhadores é reconhecer as suas emoções, em particular, as emoções mais negativas. Os estudos mostram que reconhecer ou identificar as emoções dos outros ajuda na construção da confiança. Deixamos aqui algumas informações sobre o impacto do reconhecimento, e 10 exercícios que as chefias podem implementar para aumentar a consciência emocional e envolver os elementos das suas equipas.
Porque é que o reconhecimento é tão importante?
O reconhecimento assim como o feedback positivo valoriza os elementos da comunidade, reduz diferenças de estatuto e pode aumentar o sentimento de pertença de todos. Embora, o reconhecimento não implique custos, este é uma ferramenta que está subaproveitada pelas chefias e pelas organizações. Um estudo, no qual participaram cerca de 20,000 pessoas, levado a cabo pelo Tony Schwartz para o livro da Christine, Mastering Community, deu a descobrir que apenas 42% dos trabalhadores acreditam que as chefias reconheciam e valorizavam o seu trabalho.
Quando o nosso trabalho é reconhecido pelos elementos da nossa equipa, sentimos uma ligação mais forte. Isto foi o que descobriu Schwartz, fundador e CEO da Energy Project, uma empresa orientada para o bem-estar corporativo. Esta empresa identificou, antes da pandemia, no decorrer de um estudo com cirurgiões cardíacos e enfermeiras dos cuidados intensivos de um hospital de renome, que na altura tinha falta de pessoal, excesso de trabalho e muitos profissionais a sofrer de burnout. A equipa do Schwarzt questionou dezenas de enfermeiras sobre o maior desafio que enfrentavam no local de trabalho. Dadas as exigências que as enfermeiras enfrentavam, a equipa que desenvolveu o estudo assumiu que as respostas dos profissionais de saúde estariam relacionadas com a exaustão causada pelo excesso de trabalho ou das poucas horas de descanso que tinham disponíveis. Curiosamente, as enfermeiras disseram que aquilo que sentiam era de facto pouco reconhecimento, por parte dos cirurgiões, pela devoção que ofereciam na prestação de cuidados de saúde aos pacientes.
Esta equipa de investigadores, reuniu com os cirurgiões, cujas compensações eram melhores do que as dos enfermeiros, mas que por sua vez trabalhavam em situações muito difíceis e sob pressão. Qual era o maior desafio dos médicos? Mais uma vez, a equipa foi surpreendida. A resposta mais comum foi a falta de apreço pelos administradores do hospital. “Eu salvo vidas diariamente, mas sinto que trabalho numa fábrica,” afirmou um dos cirurgiões. Esta afirmação foi reiterada pelos seus colegas.
Faz algum sentido a ideia de que uma cultura solidária é importante. O elogio liberta dopamina, que por sua vez está associado ao bem-estar e alegria, enquanto a gratidão oferece ao dador e ao recetor uma melhoria no sentido de humor. Quando se verifica um crescendo no sentimento de separação e solidão, o reconhecimento torna-se mais difícil, mas ao mesmo tempo mais necessário pois é fundamental para construir relações.
Os investigadores Sigale Barsade e Olivia O’Neil analisaram o “amor companheiro”, usualmente descrito como “a partilha de sentimentos, compaixão, carinho e ternura pelos outros”, oferecidos numa estrutura hospitalar por um período de 16 meses. Este amor companheiro é demonstrado pelos trabalhadores “quando manifestam carinho e afeto pelos outros trabalhadores, protegendo os sentimentos dos outros, e mostrando ternura e compaixão quando as situações não são as melhores.”
Os funcionários que se sentiam acarinhados sentiam um menor cansaço emocional, menos absentismo, melhor trabalho em equipa e mais satisfação. Os benefícios também são visíveis nos doentes, pois sentiam-se melhor humorados, com melhor qualidade de vida e melhores resultados de saúde, assim como menos idas ao serviço de urgência. Por sua vez, as famílias reportavam mais satisfação e desejo de recomendar o serviço.
Numa tentativa de verificar se esta situação servia apenas a área da saúde, os investigadores providenciaram um estudo com cerca de 3,201 trabalhadores de sete áreas diferentes, desde a área financeira ao imobiliário, e obtiveram resultados semelhantes: os trabalhadores que se sentiam à vontade para expressar os sentimentos de carinho, compaixão e afeto pelo próximo sentiam mais satisfação e estavam mais comprometidos com a organização.
10 exercícios de empatia
Enquanto surgem apelos para reduzir o burnout, implementar correções sistémicas, aumentar a retenção de pessoal, as chefias, de qualquer área, podem implementar estas 10 estratégias para ouvir, em profundidade, as emoções, refletir a compreensão, fornecer apreço, conexão e comunidade. Estas estratégias podem ser utilizadas em ambientes físicos e online, regularmente ou consoante as necessidades, desde que funcione bem para a sua equipa.
1. Etapa do apreço
Uma pessoa completa a frase a seguir sobre um colega e de seguida identifica um outro colega, ou uma outra pessoa:
“Aquilo que eu gosto em ti, John, é…”
Quanto mais preciso e detalhado acerca do comportamento ou atributo, melhor.
2. Exercício – complete-me!
Peça a algumas pessoas para completar estas frases, seja por escrito ou verbalmente:
“A compaixão é mais difícil quando …”
“Ontem, consegui fazer a diferença quando…”
“Eu venho todos os dias porque…”
3. Intervir em círculos
Construa um círculo com a sua equipa, e peça aos colaboradores para dar um passo em frente sempre que concordem com uma afirmação. Depois de cada afirmação, peça para regressarem ao lugar.
Dê um passo em frente se prefere a praia às montanhas.
Dê um passo em frente se não conseguiu fazer exercício físico durante uma semana… um mês… um ano.
Dê um passo em frente se sente que não está no seu melhor alguns dias… na maior parte dos dias.
Dê um passo em frente se sente que é um falhanço.
Tal como um funil, comece com superficialidades e vai aumentando a vulnerabilidade. Quando fizer este exercício online, peço aos participantes para utilizar um emoji, em vez de dar um passo em frente.
4. Levantar a mão
O isolamento aumenta a vergonha e a culpa, ambas forças altamente destrutivas. Perceber que as pessoas identificam as suas emoções (ao levantar a mão) diminui o isolamento.
Vejamos esta situação hipotética: Um funcionário do hospital notificou a família errada acerca da morte de um paciente. A família ficou devastada. Quando perceberam que tinha sido informada a família errada, contactaram uma nova família. Era necessário perceber o que aconteceu com a primeira família, e foi por isso que foi lançada uma análise à raiz do problema.
Durante a análise, foi possível perceber a dor que pairava no ar, enquanto o cuidador se sentia um verdadeiro falhanço e sentia vergonha que aumentava a cada minuto de silêncio que passava. Na sala perguntaram se alguém conseguiu imaginar o sofrimento que causaram ao paciente e aos familiares, quando dedicou a sua vida a cuidar dos outros. Pediram-lhes para levantar a mão, caso soubessem. Levantaram-se todas as mãos e de repente só se ouvia o choro dos presentes.
5. A pausa
Criada por Jonathan Bartels para promover a relevância do significado, “A Pausa” é um breve reconhecimento falado, seguido de cerca de 15 a 30 segundos de silêncio, junto à cama do paciente como forma de lhe prestar uma homenagem.
Porém, esta prática pode ser utilizada em qualquer setor da indústria. Quando há um acidente, um tiroteio, quando alguém da família ou um colega morre, ou quando se celebra o aniversário da morte de alguém, pode-se fazer uma breve declaração sobre essa pessoa e o seu impacto, mostrar apreço por aqueles que cuidaram dessas pessoas, ao que se segue um silêncio coletivo. Estes rituais unem as pessoas.
6. Notas pessoais
Pode optar por dar cartões aos funcionários e às chefias para identificarem alguém, expressar gratidão ou reconhecer algum acontecimento emocional. Existe magia num cartão e cuidado num cartão manuscrito. Os funcionários em trabalho remoto podem escrever um email ou um e-card.
7. Narrativas criativas e gratidão
Muitos empregadores leem os comentários dos funcionários, clientes ou pacientes ou cartas sobre os funcionários em chats, reuniões e encontros. Melhor do que isso, peça aos funcionários para ler as cartas em voz alta. Encha os sentidos ao partilhar as chamadas de clientes. Peça aos clientes ou grupo de foco para fazerem vídeos de apreço pelos trabalhadores. Peça às chefias para fazerem telefonemas inesperados para prestar algum tipo de reconhecimento.
8. Reclamar
Quando somos postos em situações que comprometem os nossos valores, vivemos momentos de tensão moral, o que contribuiu para o burnout. Perceber aquilo que as pessoas valorizam, ajuda a aumentar a nossa capacidade de empatia quando alguém está aborrecido.
Junte as pessoas em pares e peça para pensar numa situação frustrante no local de trabalho ou na vida pessoal. Permita a cada par dois minutos para discutir, e peça ao orador para proferir um discurso inflamado sobre a situação. As regras são:
Nenhum discurso deve ser pessoal ou inadequado (e.g. sobre uma partilha de um colega)
Os detalhes não podem ser partilhados fora da sala
O discurso termina quando o dinamizador levantar a mão.
A segunda pessoa deve ouvir quais os valores que estão em jogo para o orador. Por exemplo, se alguém se estiver a sentir zangado, magoado, e com medo depois de um cliente ter gritado com ele, então vão valorizar o respeito. Uma pessoa que se sente traída ou perdida quando a organização diz que a segurança é mesmo importante, mas a formação do pessoal é inadequada, então essa pessoa valoriza a integridade. Alguém que se sente excluído porque não fez parte de uma reunião importante sobre um projeto, então valoriza a inclusão.
Depois de dois minutos, peça aos pares para trocar de posição e depois pergunte quais os valores que cada um ouviu. O discurso inflamado ajuda-nos a encontrar a base comum quando estamos perante emoções fortes.
9. Check-ins
Há formas simples de acompanhar a sua equipa.
Coloque imagens de diferentes coisas em cima da mesa. Por exemplo, incluir fotografias da família, da praia, luzes brilhantes, um trilho na natureza, um labirinto, uma criança a sorrir, um banco de jardim, um por do sol com nuvens, uma tempestade e um haltere enorme. Peça aos presentes para escolher uma e em 30 segundos explicar porquê. As pessoas podem referir o que lhes faz falta, o que lhes dá prazer, o que estão a sentir (como esperança, aborrecimento ou alegria) ou até mesmo partilhar um sonho. Para dar o exemplo, deve ser o primeiro.
Numa palavra: “Numa palavra diz-me como te sentes hoje emocionalmente.”
Reconheça a variedade de emoções que as pessoas estão a sentir.
10. Surpresa! (Wow moments)
Crie memórias agradáveis por meio de gestos inesperados de reconhecimento. Por exemplo, depois de contratar alguém, envie aos membros da família uma nota de agradecimento por fazer parte de sua comunidade e apoiar os familiares queridos. Acompanhe os funcionários antigos até o carro no último dia. A ideia é fazer com que a pessoa se sinta especial de uma forma significativa, que ficará na memória dela, podendo até se tornar a história que ela conta sobre a sua empresa nos anos seguintes.
. . .
Melhorar o espírito dos indivíduos e das equipas e reconhecer as emoções permite a criação de grupos mais fortes, com mais confiança e ajuda as pessoas a sentir que são acarinhadas. Neste momento de incerteza, envolver os funcionários nunca foi tão importante.