Tornar-se um líder mais humano

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Alguns anos atrás, foi solicitado a Jesper Brodin, CEO da Ingka Group/ IKEA que assumisse a gestão do IKEA na China, um negócio que exigia mudanças significativas para ter sucesso e ser sustentável. Ele teria de fechar muitos escritórios e apoiar funcionários na procura de emprego. Antes de aceitar esta difícil reestruturação, ele fez a si próprio uma questão importante: “Será que tenho a coragem e a resistência para fazer isto?”

Como líder, como é que lida com as questões difíceis que estão associadas à gestão, continuando a ser um bom ser humano? Este é um dilema permanente para todos os líderes. Muitas pessoas pensam que tomamos decisões difíceis, uma escolha binária entre ser boa pessoa e ser um durão e um líder capaz. Esta é uma dicotomia falsa. Ser humano e tomar decisões complexas não se excluem mutuamente. Em boa verdade, fazer coisas difíceis é a coisa mais difícil, do ponto de vista do humanismo, de se fazer. Há dois ingredientes chave: a sabedoria e a compreensão.

Num artigo anterior da HBR, introduzimos o conceito de liderança sábia e compreensiva, sendo a sabedoria definida como a compreensão profunda daquilo que motiva as pessoas e a coragem de ser transparente e de fazer aquilo que precisa de ser feito, mesmo quando é desconfortável. Por compreensivo entendemos a qualidade de mostrar preocupação genuína pelos outros, com uma intenção positiva de suporte e ajuda.

O nosso estudo com líderes e funcionários, em mais de 5,000 empresas em quase cerca de 100 países, mostrou o extraordinário poder da sabedoria e da compreensão. Os funcionários cujos líderes mostram sabedoria e são compreensivos, têm experiências mais positivas com a gestão da empresa. Os funcionários são mais comprometidos com o seu trabalho e têm menos possibilidade de chegar à exaustão. Mas, quando um líder demonstra compreensão e sabedoria, o impacto no bem-estar do funcionário é o aumento da produtividade. A satisfação no trabalho é 86% mais elevada num funcionário que trabalhe com uma gestão mais compreensiva e sábia, do que o contrário. Neste caso, o todo é muito superior às partes.

Sem grande surpresa, porém, a combinação destas duas variáveis na gestão, não é algo fácil. É preciso tempo e prática. O primeiro grande passo é desaprender aquilo que acha que é a liderança e aprender o que significa ser humano.

De forma muito simples, a gestão é gerir os outros, é exercer controlo executivo sobre os outros. A liderança, por outro lado, é ver e ouvir os outros, definir uma direção e depois deixar de controlar o que acontece a seguir.

“Se pensar no nosso papel como líderes, é, na realidade, muito simples,” diz-nos Chris Toth, CEO de uma empresa de aparelhos médicos. “O nosso papel não é o de ser os que tomam decisões, ou ser o mais inteligente. Na verdade, pode até ser bastante perigoso, se a tomada de decisões estiver centrada no líder. Em vez disso, temos de criar uma cultura de compreensão e empoderamento, o que implica a aceitação de diferentes perspetivas. Tudo isto desbloqueia a criatividade, produtividade e felicidade das pessoas.”

Para promover este tipo de abordagem, é fundamental reconhecer que nós não somos os nossos títulos profissionais, somos seres humanos, que desejam conectar-se a um nível humano com os outros. Aqui ficam quatro formas de trazer mais humanismo à liderança.

Lembre-se da regra de ouro

A compreensão como base, é o desejo de ver os outros felizes e estar disponível para ajudar a que aconteça. Tudo isto é basicamente uma expressão da regra de Ouro: Faça aos outros aquilo que gostaria que lhe fizessem a si. A regra de ouro é um passo útil para colocar a compreensão e sabedoria em ação, uma vez que isso requer considerar o ponto de vista de outras pessoas. Quando somos capazes de nos por no lugar de outra pessoa, conseguimos ver a situação de modo mais desafiante. Temos tempo para reconhecer que temos apenas um ponto de vista da situação, mas as coisas, podem ser bem diferentes do ponto de vista de uma outra pessoa. Embora, colocar-se no lugar de outra pessoa possa ser bom para refletir, é importante evitar pensar que sabe o que os outros pensam ou sentem. Tudo isto é particularmente verdade no meio profissional, dos nossos dias. É necessário existir um equilíbrio, podemos tentar ver o ponto de vista dos outros, sem assumir que sabemos exatamente como é; o que exige ouvir bem.

Ouvir atentamente

Temos uma boca e dois ouvidos. Isto significa que devemos ser capazes de ouvir o dobro daquilo que falamos. Quando nós verdadeiramente ouvimos os outros, eles sentem-se ouvidos e vistos, o que satisfaz uma das necessidades primárias do ser humano. Se ouvir atentamente, com a mente aberta e vontade de aprender, não só se torna mais sábio, como também consegue, genuinamente, ouvir os outros. Se tem uma conversa importante, demore algum tempo a preparar a conversa. Isto pode significar estabelecer o ambiente adequado e que mostra que está, verdadeiramente, disponível para ouvir e sentir o que os outros querem versus centrar-se na resolução de problemas.

Pergunte-se, como é que eu posso útil?

Há um provérbio chinês que diz: “Não há um caminho para a compreensão, a compreensão é o caminho.” Perguntar de que forma é que pode ser útil aos outros é um caminho para a compreensão. Quando está praticamente a envolver-se com alguém, reflita sobre o que se passa com aquela pessoa. O que é que a está a desafiar ou a correr bem? E depois pergunte-se: que tipo de apoio é que ela pode precisar para ultrapassar as suas dificuldades? O que será que precisa para ter mais consciência da cegueira que lhe causa os problemas? Refletir nestas situações antes de se encontrar com as pessoas, vai ajudá-los a criar uma interação mais humana focado no seu crescimento e desenvolvimento.

Permita que os outros percebam o seu próprio potencial

Todos queremos receber reconhecimento. Um bom líder valoriza o que somos hoje, mas também nos desafia a fazer mais e melhor para que o nosso verdadeiro potencial venha ao de cima. Isto não é fácil. Quando alguém já trabalha bem, incentivar a fazer melhor pode ser desencorajador e desmotivante. Mas a liderança não é apenas tentar agradar os outros e fazê-los sentir bem. A liderança é apoiar as pessoas, trazendo luz para aquilo que elas não querem ver. Em vez de, evitar conversas difíceis, procure mostrar aos outros que de facto se preocupa com eles.

Quando pomos em prática a compreensão, sendo mais humanos na nossa liderança, criamos uma cultura que permite aos outros focarem-se nas relações humanas. Como gestores, nunca devemos subestimar o impacto que temos nos outros. Temos o poder de controlar a subsistência. Temos influência no trabalho que os outros fazem. E influenciamos na forma como se sentem tratados. Tudo isto é uma grande responsabilidade. Tudo isto é de elevada importância para pôr em prática uma liderança humanista, de modo a termos um impacto mais positivo na vida profissional das pessoas, no seu sentido de compromisso e desempenho profissional.

Texto adaptado do artigo da autoria de Rasmus Hougaard e Jacqueline Carterna edição da revista da HBR da edição de novembro de 2021, disponível em https://bit.ly/3qssuVx.

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